EFEITO DOMINÓ

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Claro que eu fiquei puto quando o Jack me contou a novidade. Duplamente puto: o Tony fez aquela merda de espancar a mina (e claro que o fato de eu ter feito exatamente a mesma coisa estava totalmente de fora da equação) e agora tinha que aguentar a Mavie me olhando como se eu fosse um rato recém-saído do esgoto. Banquei o boçal e reclamava o tempo todo pelas costas dela que ela não aguentava o tranco de cobrir o Tony, que ela não ia aguentar uma turnê com a gente, que ela não...qualquer coisa. Na verdade, ninguém falava nada comigo quando seguimos para a turnê, nem quando eu estava falando com eles. Ela sempre ficava no banco da frente no ônibus e quando estávamos no avião, ela sempre sentava com o Jack e a namorada dele, Emi. A gente detestava a Emi eu sempre dava um jeito de provocar ela, jogava bebida nela fingindo um acidente, tropeçava nela, fazia de tudo para ela se mandar, mas nunca adiantava. A Mavie foi uma bênção para o casal de pombinhos, porque se eu fosse mijar, quando eu saía e precisava passar por eles, ela me encarava com um olhar de dilacerar. Devia estar torcendo para eu fazer alguma merda e me arrebentar a cara.

— Escuta aqui, seu merdinha, — o Doug me puxou pela barra da jaqueta antes de descermos do avião — Se quiser injetar heroína no olho, no pau, eu tô pouco me fodendo! Mas se eu desconfiar por um segundo que você tá dando droga pra mais alguém aqui, eu vou chutar seu saco com tanta força que você vai cagar as bolas, me ouviu?

Eu ri imaginando a cena daquele gordinho de meia-idade tentando chutar minhas bolas.

— Dando droga pra "mais alguém" ou para um "certo alguém", Dougsie?

Ele ainda estava me encarando, e estava puto.

— Ela que se foda. Tem outras vadias no mundo.

Caralho! Era só alguém desintoxicar que ganhava uma babá grátis?

Antes dos shows, eu ficava puto, porque não podia dar dois passos sem um monte de olhares afiados voltados pra mim, dava para cortar o ar com uma faca. Mas durante os shows, puta merda!

 Mas durante os shows, puta merda!

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Ela arrebentava. Quase não percebíamos mais que Tony um dia esteve na banda, e desconfio que o público também não. Todos os ingressos esgotados em cada um dos shows. Sem exceção. Quando o Raz apresentava ela, o público delirava e ela pirava nos solos, era furioso, mágico, foda pra cacete mesmo.

Pena que o clima broxava como se tivesse um portal nas coxias e cada um ia pra um lado e voltávamos em silêncio para o hotel. Cada multidão de fãs escolhia um para tietar, tirar foto, autógrafo, a porra toda, e todos tinham um quinhão para atender. Todos.

Ainda tinha um bom traficante que me deixou com cocaína pura, heroína china white e tinha direito a todas as garrafas que eu quisesse. O remédio ideal contra o tédio, contra os pensamentos ruins que vinham quando lembrava que todos estavam com alguém e eu sobrava, a saudade das farras com o Tony, e furioso pela Mavie estar entre nós para me lembrar o tempo todo que eu tinha feito toda aquela merda acontecer.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now