(O QUE É) AMOR VERDADEIRO

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Enfim, tudo virou para a Mavie quando elas partiram pela estrada com o Motörhead, falarei sobre isso no próximo capítulo; todas as notícias que chegavam, pela MTV, pelas revistas, não teve uma vez que não fiquei feliz por elas. Elas trabalhavam duro, levavam a banda a sério e não preciso falar sobre o talento.
Nós também estávamos a cada dia mais próximos do topo; com aquele contrato, nos despedimos algumas vezes na Sunset, tocamos no Roxy, Whisky, Troubadour, é só dizer um nome e pode apostar que já subimos naquele palco. E com aquele contrato, recebíamos mais grana, o que significava festas maiores e drogas melhores. Já não eram mais as ovelhas desgarradas e bandas iniciantes os únicos que frequentavam o meu "Covil" depois do show. David Lee Roth, os caras da Dokken, até os Toxic Twins chegaram a aparecer uma vez, mas...bem, já não eram mais Toxic Twins, então foram basicamente para selecionar alguma groupie e dividiram um quarto. O meu quarto.

Mas...como tem uma série chamada "Só Podia Acontecer Com o Sparky", mal tínhamos terminado as sessões de gravação do nosso primeiro disco, "Too Fast For Love" e estávamos prontos para a mixagem em NY, onde nossa primeira turnê começaria...
Na empolgação com a proximidade da turnê, as coisas já começavam a mudar. Ainda estava no "Covil", mas dessa vez, sem aluguel atrasado; se quisesse poderia comprar o prédio inteiro, mas preferi deixar os aluguéis atrasados e alguns adiantados já pagos, assim como meu amigo, T-Bone dormia confortável no sofá com sua gordura abdominal espalhada, sem camisa e a calça esfarrapada, e só levantava para buscar e trazer cocaína...já tinha escolhido uma mansão em Van Nuys, já tinha um arquiteto colocando todas as minhas idéias em blueprint e uma empreiteira começava a fazer as alterações.

O Tony sempre foi meu irmão, minha família...sempre que estava de saco cheio daquele apartamento decadente, disparava para a casa dele. Era tão bem-vindo que o apartamento foi ocupado pelo T-Bone e eu só aparecia lá esporadicamente. Bem-vindo o suficiente para ter uma vaga na garagem para meu primeiro carro...bem melhor que um Maverick '65: um Porsche 914. Meu antigo patrão tinha um e era meu carro dos sonhos. Já tinha gastado tanto em drogas que consegui comprar o carro com os útimos US$7.000 que me restou da minha parte do contrato. E então, fomos convidados para uma festa em Beverly Hills, residência de um produtor fodão Roy Thomas Baker; simplesmente o cara que foi produtor do Queen.

A orgia era solta e há alguns detalhes que eu jurei que guardaria só pra mim e para quem estava lá. A cocaína também era como água para visitas, onde você passava, ofereciam. Não sei calcular quantas garrafas eu bebi, nem o que tinha dentro. Estava em uma dessas orgias quando me bateu uma paranóia absurda e eu resolvi que precisava sair dali; mas onde caralhos foram parar as minhas roupas? Para falar a verdade, o que me lembro não é de procurar minhas roupas, mas tentar lembrar o que estava vestindo quando cheguei. Como a paranóia era uma preocupação bem maior, disparei pelado mesmo até os fundos, entrei no meu Porsche e tratei de dar o fora dali.

E assim, alucinei demais com policiais à paisana me seguindo, com bandidos escondidos no banco de trás e até mesmo com barricadas que deviam ter armado adiante para me prenderem. Desviava e acelerava como se estivesse mesmo em uma perseguição policial, qualquer ruído eu pensava que eram helicópteros, e assim,acelerei o máximo para chegar em casa; ou melhor, na casa do Tony, que ficou em Beverly Hills.

E foi assim que eu perdi o controle do carro, que virou 180 graus no meio da I-65 e o lado direito do carro "abraçou" um poste. Foi assim que o Porsche 914 que eu sonhava tanto virou um monte de sucata; o monte de sucata que precisei pedir grana emprestada para o Tony para licenciar. Talvez fosse Deus me avisando que eu devia ir devagar antes que fosse tarde, um aviso que eu solenemente ignorei muitas vezes. Era o que eu pensava enquanto olhava meu primeiro carro dos sonhos transformado em sucata. Literalmente, estava nu e sozinho. Quase menos chapado, mas ainda sem ter a menor ideia de como voltar para casa. Se é que tinha uma casa para chamar de "lar doce lar". Um carro com um casal de idosos passava e apesar de ser uma tentativa débil levantar os braços pedindo socorro quando um dos ombros estava deslocado e sentia todos os tridentes do arsenal do diabo atravessando os ossos, consegui fazê-los parar. Não me deram carona; para onde levar um jovem drogado, nu em pêlo que não tem a menor ideia de onde ir? 

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