DE QUEM MENOS SE ESPERA...

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("Heartbreaker" - Grand Funk Railroad)

Eu mal conversava com o Razzle depois daquela turnê, mas soube através dele que o Tony não demorou muito pra arregar e pedir perdão para voltar para a Dazzle..por algum motivo ele achou que me devia alguma satisfação, o que era um erro. Não tinha nenhuma intenção em ficar com eles, não com a Venomous indo tão bem quanto eles. Depois disso, às vezes quando nos encontrávamos na estrada ou em LA, nunca passava de cumprimentos cordiais, na maioria das vezes até o contato visual era evitado. Tinha a impressão bizarra que ele sempre se ressentia do Sparky e de mim, como se tivéssemos traído a confiança dele. Não que me importasse com isso.

Por outro lado, o Tony era praticamente um poodle com espírito de labrador ao redor do Sparky e às vezes, de mim. Se o Sparky não ligava ou acontecesse algo que ele não quisesse que eu soubesse, o Tony sempre dedurava, mais cedo ou mais tarde. Não com maldade, mas do tipo "faz alguma coisa, tô preocupado com ele". Mas como eu ia fazer isso? O que eu ia dizer pro Sparky? Que um passarinho verde me contou?

Mesmo assim, naquela tarde eu não esperava que ele me ligasse.

— Mave, pelo amor de deus, diabo, buda, krishna, qualquer merda que você acredite...

— Eu não quero saber do Sparky, Tony. Melhor você ligar para a stripper que está quicando no pau dele agora.

— Se eu for lá e encontrar mais uma, vou tirar e arrastar pelo cabelo como um saco de lixo! Porra... você sabe o que aconteceu?

— O que?

— Tudo. A banda tá toda espalhada pra toda parte, o pior é que a única coisa que todos estão de acordo é manter distância do Spark. Você sabe do que eu tô falando...

Eu sabia e não precisava ouvir de novo. Na verdade, o Sparky tinha me ligado pouco depois do Halloween por causa do meu aniversário. Eu não atendi, mas ele deixou uma mensagem. Algo assim:

"Mavie...sou eu...porra...claro que sou eu, você conhece a minha voz, o que eu tô fazendo? É seu aniversário, né? Legal, hehehe. Preferia não falar com essa máquina idiota, mas...é, um bosta como eu, não devia nem ocupar espaço nessa máquina. Er...feliz aniversário. Espero que você seja feliz. Uma garota firmeza como...como você. É isso. Feliz aniversário...de novo. Fica longe de gente escrota, tá bom? Gente como eu. É isso. Se cuida."

A voz dele estava super difícil de entender. Parecia que a língua dele estava morta dentro da boca. E eu estava bem ali, deitada na minha cama, com uma garrafa de uísque e alguns comprimidos para dormir.

Passei aquela noite inteira em claro, tentando não cair na tentação de ligar para ele, segurar a onda da preocupação que eu estava e não acabar eu mesma entrando de novo naquele vórtice insano de cocaína e heroína.

Eu disse que cansei, não disse que foi fácil. Nunca é.

O Tony não queria se dar por vencido tão fácil e acabou na porta da minha casa. Hidden Hills não fazia jus ao nome. Isso não foi nenhuma surpresa, mas quem tinha insistido em vir com ele, sim. Já tinha visto o Razzle ser um tarado, um boçal, um drogado, um bêbado, uma criança grande, e até tudo isso ao mesmo tempo. Mas nunca tinha visto ele sóbrio, sério e desarmado.

— Mave, isso é muito sério. Se ele continuar assim, já era.

— Eu não sou babá dele. — respondi antes mesmo que ele continuasse a frase. — Qual é, Raz...eu não posso mais ficar me sujeitando depois de tudo que ele fez. E se toda vez que alguém for lá passar a mão na cabeça dele e carregar ele no colo...

— Não é pegar no colo, Mave...é empurrar ele de volta pra realidade.

— E você realmente acha que ele quer? Porra, todos nós sabemos. Ele começa a sentir um pingo de sobriedade e despeja toda a heroína como um tsunami na veia. Não. Não dá, não é mais problema meu. Já me machuquei demais nessa, e literalmente!

STARRY EYESWhere stories live. Discover now