CONFISSÕES

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A verdade é uma só: eu sabia que estava na merda

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A verdade é uma só: eu sabia que estava na merda. E era pior que isso: eu sabia e mesmo assim continuava me afundando na merda dando risada como se fosse a minha piada cósmica. Era uma atitude imbecil, eu me arregaçava pro diabo cheio de certeza que eu estava fodendo o capeta enquanto ele me fodia.

Tem uma lista de cagadas que eu fiz, comigo e com as pessoas ao meu redor. Volta e meia a Mave aparecia totalmente do nada; acho que a intenção dela até podia ser a melhor possível, mas eu nunca resistia a tentação de puxar ela mais um pouquinho pro meu inferno pessoal. Ela vinha com alguma comida pronta congelada ou inventava de pedir uma pizza, coisas assim. Acabávamos em algum canto da casa com as veias entupidas, transando algumas vezes, gritando e fazendo um ao outro de alvo arremessando qualquer merda que tivéssemos ao alcance, sempre por algum motivo idiota, mas tão idiota que desaparecia completamente da minha mente no momento em estava ficando sóbrio novamente...não me lembro de acontecer esse tipo de coisa com muita frequência, mas marcavam o suficiente pra eu lembrar que aconteceram. Marcavam as paredes da casa, marcavam os móveis de sangue, marcavam as nossas peles com hematomas horrendos.

Uma vez estávamos transando na piscina, ela sempre me convencia a não irmos para o quarto, porque era onde eu guardava as armas e porque já tinha trancado ela lá dentro comigo uma vez. Justo. De qualquer forma, eu não sentia tanta necessidade de ficar trancado e escondido no quarto como um moleque vendo monstros no escuro quando estava com ela. Dessa vez, estávamos razoavelmente bem.

Tínhamos dividido uns comprimidos de ecstasy, cheiramos cocaína e entre uma coisa e a outra, alguns picos. Ela sempre enchia a seringa e injetava um pouco por vez; eu injetava uma dose inteira de uma vez atrás da outra. Quando acabava e eu não estava a fim de toda aquela função de preparar tudo de novo, dissolver a droga na colher, esquentar com o isqueiro, botar na seringa, ao invés desse trabalho todo, só esperava; assim que ela virava as costas eu pegava a seringa dela e esvaziava inteira no braço. Era bem mais rápido que fazer toda a função.

Enfim, o ecstasy subiu rápido com todo esse combustível e não demorou muito, ela estava debruçada na borda da piscina e eu mandava ver atrás dela, o pau latejando e a cabeça entorpecida. Era até bonito para dois junkies; a piscina estava aquecida, tínhamos vinho por toda parte (e bandejas de prata cheias de droga, mas vamos fingir que não importa) e o céu estrelado do verão em Van Nuys. Perfeito.

- Spaaaark... - uma voz melosa vinha de dentro da casa. Eu pensei que estava alucinando e a voz dela estava distorcida nos meus ouvidos e mandei ver com mais força.

- Spaaaarkyy... você vem ou não...? - PUTA QUE PARIU.

Antes que eu pudesse inventar qualquer coisa para ela não sair da piscina (tipo o quê?) ela já tinha saltado feito um gato para fora da piscina, se enrolou na toalha e, quando chegou na porta, deu de cara com duas loiras que tinha trazido para casa dois dias antes. E esqueci delas no quarto quando ela chegou. Ela olhou para as duas de cima a baixo e apontando para elas, virou pra mim:

- Você esqueceu seu lixo dentro de casa de novo?

Silêncio. Meu cérebro, então dopado, estava congelado. Ela olhou para a loira "um" (não sei os nomes) com um sorriso que deixava claro que estava puta, mas nem um pouco surpresa.

- Bem... Ele é todo seu... - e saiu com tanta raiva que não se importou em esbarrar na loira como um trem..

Esse tempo todo onde eu estava? Saindo da água com o pau para fora, mas chapado demais para ter alguma agilidade. As duas loiras entraram e começaram a se esfregar e entraram na água, ignorando totalmente o que estava acontecendo (e por que elas deveriam se importar?) e me chamando.

O que eu ia fazer, correr atrás dela, implorar por perdão? Perda de tempo, totalmente inútil. Merecia um pico para comemorar: parabéns para mim: mais uma vez eu estava fodendo tudo.Desisti e fiquei na piscina vendo as duas meninas brincando.

Eu estava caído na piscina, assistindo as duas se esfregando na água, totalmente chapado. Tinha certeza que ela já tinha ido embora, mas ela só se vestiu e antes de partir, precisava dar o seu gran finale, com uma bolsa na mão cheia de drogas e com mais espaço para recolher o que tinha espalhado.

- Quer fazer merda, ser o rockstar fodão? Ótimo! Vamos ver o quanto você é fodão agora, escroto maldito do caralho!

Nesse último "elogio" ela pegou a bandeja de prata cheia de heroína e coca na água. Só assim eu acordei um pouco.

- Sua vaca maluca! - eu levantei num salto só e fui pra cima dela de novo. Não tenho a menor ideia do que as outras duas estavam fazendo; talvez ficaram se esfregando sem nem perceber, sei lá...

Ela estava entrando na casa para ir embora e eu pulei nas costas dela feito um gato com as garras pra fora, puxei todo o cabelo dela para trás até ela cair no chão. Ela virou pra cima e estava de novo com os punhos batendo com toda força na minha cara, na garganta, em toda parte. Eu não podia me importar menos! Estava furioso porque ela jogou toda a droga na água, porra...mesmo que eu soubesse que ainda tinha pelo menos um balão guardado numa caixa de Don Perignon no closet do meu quarto...

Acho justo dizer que essa briga foi uma das piores. Ou melhor, a pior, mesmo. Só lembro que entre toda aquela altercação, ela me chutava e me socava enquanto eu tentava segurá-la, enlouqueci de vez e dei um murro tão forte que ela ficou desacordada por alguns minutos. Fiquei sóbrio em segundos: podia jurar que tinha matado ela.

E o que você faz nessas horas?

Corre para as drogas que estão guardadas no closet e se tranca no quarto esperando a polícia vir te prender por homicídio.

Acontece que eu não matei ninguém. Ela ficou semi consciente por uns quinze minutos. Ela conseguia perceber tudo que aconteceu em seguida, me viu disparar pelado para o quarto, viu as duas garotas em pânico saírem correndo porta afora. E provavelmente conseguia ainda presumir que eu estava escondido cheio de heroína na veia no meu quarto.

Demorei três dias para sair de dentro do closet. Quando saí, tinha uma poça de sangue no corredor e algumas gotas faziam uma trilha em direção à porta.

E eu respirei aliviado por não ter matado ninguém.

STARRY EYESOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz