FUNERAL

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(Um adendo: esse capítulo perde uns 90% sem a música acima - a não ser que esteja lendo obrigado e não goste de rock; nesse caso, eu te aplaudo por ter lido até aqui!)
Depois de todo aquele procedimento, conversa, tudo mais, chegou a minha vez de ir embora.. Ainda que não fosse "permitido", fui até o portão principal com ela depois de uma longa conversa e um tour rápido pelas instalações, ainda que acompanhado por dois enfermeiros prontos para qualquer tentativa de fuga, O Jim, meu novo conselheiro, um cara único: devia pesar uns 180 quilos e a minha estimativa é que ele devia ter quase dois metros de altura, considerando que era bem maior que eu. Teve uma vida fodida, perdeu esposa, perdeu os filhos enquanto se afundava em heroína e crack. Também tinha sido um Hell's Angels e tinha se livrado da parte "hells" e se tornou um verdadeiro anjo para todas as almas destroçadas que iam parar debaixo das asas dele. Ele conhecia a Mavie, de quando ela ficou internada lá, mas não foi seu conselheiro. Parece que alguma força maior guardou ele para a minha vez.

Me pergunto até hoje se eles tinham um taser ou dardo de tranquilizante para o caso eu disparasse pra dentro do carro e fugir.

- Bem... - ela virou para mim, tentando parecer feliz. Já falei que há tempos ela não me enganava mais, não é? - É isso. A partir daqui, só depende de você.

- Você ouviu o conselheiro, né? Você pode vir visitar. Hidden Hills é um passeio longo, mas...

- Não vou para Hidden Hills. Pelo menos por enquanto. Tenho as suas chaves, e bem...se você precisar de alguma coisa, eu vou estar na sua casa, não é mais que uns...três quarteirões?

- Atravessando todos os muros e entrando pela contramão, sim, é perto disso... - ela riu um pouco mais solta. Ficamos em silêncio por alguns segundos, e ela olhava para todos os lados. - Hey...você vai ficar bem?

Ela virou para o lado de novo, como se pudesse esconder que estava esfregando lágrimas do rosto e olhou para mim, com uma piscadinha e um sorriso, ela disse.

- Eu vou ficar bem...

- Vem visitar, sério.

- Sempre que puder, ou precisar.

- Então é melhor você se mudar pra cá também. - Eu segurava a mão dela e puxei para os meus braços uma última vez. - Não tem algum problema com excesso do "Paquipax"? Cigarros? Tylenol, qualquer coisa que você esteja abusando também?Ouvi falar que aqui é um lugar bom, sabe...

Ela riu e me beijou uma última vez, e não tinha mais como ela esconder, pois as lágrimas dela molhavam meu rosto.

- Qual é...não vai ser tão ruim. Não é como se fosse um funeral...

- Quase foi.

Os enfermeiros já não estavam muito felizes em ficar lá fora por causa de uma exceção à regra, e o conselheiro Jim agora estava se juntando a eles.

- Agora vai...se cuida, tá bom. A gente se vê. - eu a beijei mais uma vez, abraçando-a com mais força, quase a levantando do chão. Nos soltamos, eu tentava me despedir sem falar nada. Andei uns 3 ou 4 passos ainda virado para ela, e no momento que me virei para entrar de volta na clínica...

- Amo você...panaca.

Acho que ela não esperava que eu ouvisse, mas eu ouvi claramente, ainda que não tão alto. Mesmo que eu quisesse esconder aquele sorriso, não tinha como. Me virei pra ela mais uma vez.

- Acho que já falamos de tudo um para o outro, mas nunca dissemos isso, não é?

Ela sorria com um lado só da boca, e o sol deixava os olhos dela mais azuis do que nunca tinha visto. Olhos estrelados, mesmo em plena luz do dia.

- Eu acho que já falei algumas vezes, mas não para você ouvir.

- Mas dessa vez, eu ouvi. E eu amo você também. - Mandei um beijo de longe e soprei para ela. - A gente se vê, Mavs...e fique longe do meu closet. Podem ter fantasmas lá dentro.

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Eu já falei que sempre teve algum tipo de dor envolvida quando se tratava de mim e do Sparky?

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