DRUGS'N' BLUES

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Acho que todos esperavam - nós mesmos inclusive, que depois daquela insanidade de turnê, quando estivéssemos de volta em L.A. simplesmente esqueceríamos o mundo para se trancar em um quarto qualquer e transar alucinadamente, mas não foi assim.

A Venomous estava assinando com a Geffen; eles já tinham o contrato com a Elektra e agora precisavam começar a mostrar serviço além dos palcos.

O que significa: enquanto ele entrava em um estúdio para gravar, eu estava entrando em outro. Eu sentia falta dele, mas simplesmente não tinha tempo: ensaiávamos praticamente todos os dias, gravávamos, e enchíamos a cara entre uma coisa e a outra.

Ele? Provavelmente em bares de strip. Uma vez nos falamos no telefone e ele estava feliz da vida porque comprou uma mansão que estava sendo construída, e era extremamente irônico, pois enquanto isso, ele estava no mesmo apartamento, e foi onde nos encontramos de novo depois de meses. Pelo menos daquela vez, ele tinha comprado lençóis novos.

Bebemos como marinheiros, fumamos praticamente toda uma plantação de tabaco e tínhamos cocaína o suficiente para oferecer de dote e me casar com o Pablo Escobar.

O paradoxo, é que o Sparky fazia de tudo pra não parecer na época, mas ele é extremamente inteligente. Acho que talvez pelas raízes dele, imaginam que ele nunca teve uma referência para ter um mínimo de bagagem cultural, mas mesmo eu, que tinha estudado, terminei o Ensino Médio e até comecei uma faculdade antes do rock'n roll deixar de ser um hobby, nunca tinha lido Henry Miller, por exemplo. Enquanto ele mostrava uma das músicas e inventava outras com a guitarra, eu estava totalmente absorta lendo "Sexus". Acabei ficando com os três livros, "Sexus", "Plexus" e "Nexus''. Ele também tinha muitos outros livros que não usava para base do colchão, que tinham marcas e anotações. Na maioria eram livros paperback. A maioria era literatura beat, mas nem de todos eu gostava. Eu queria ler para me distrair, não para lembrar de como era a minha vida.

— Você veio pra me ver, ou por algum motivo foi banida da biblioteca?

— Estava ouvindo você tocar...

— Que tal você largar os meus livros um pouco, então?

Fechei um deles e me sentei ao lado dele na cama, enquanto ele ainda tocava alguns acordes.

— Você ainda sabe tocar?

— Um pouco... — eu disse enquanto ele colocava a guitarra no meu colo e improvisei algo que me lembrava de blues.

"I don't want you to be no slave

I don't want you to work all day

But I want you to be true

And I just wanna make love to you, love to you..."

— Não me fala que é isso que o seu pai te ensinava...

Ignorei completamente o comentário, porque a próxima estrofe era melhor ainda...

All I want to do is wash your clothes

I don't want to keep you indoors

There is nothing for you to do

But keep me making love to you...

Ele levantou e pegou a garrafa de uísque, enquanto eu tentava lembrar os acordes, deu um gole e colocou em cima da caixa de retorno que estava do lado da porta.

— só falta uma coisa.. — ele disse enquanto subia no colchão e ficou em pé na minha frente. eu olhava para cima sem entender nada. Era até um pouco assustador, por que ele é muito alto e eu...normal, acho.

Ele se agachou e tirou a minha blusa e voltou para a porta, pegou a garrafa, deu outro gole e fez um gesto com a garrafa na mão para eu continuar.

— Blues é sexy, agora está combinando melhor...continua.

Então, voltei a tocar...

"And I can tell by the way you walk that walk

And I can hear by the way you talk that talk

And I can know by the way you treat your girl

That I could give you all the loving in the whole wide world

Se eu disser que eu estava curtindo tocar só de calcinha com ele me olhando daquele jeito, não é totamente verdade. Mas se eu disse que eu estava totalmente constrangida, também não é. Quando ele quer, ele tem um jeito muito...dele de seduzir. Quanto mais tesão ele estava, mais claros ficavam os olhos dele, e naquele momento, eu podia vê-lo de longe. Não posso nem falar que era difícil resistir porque sequer tentava.

Ainda estava lá, encostado na parede, uma das poucas vezes que ele tirava a franja do rosto e podia ver os olhos dele. Sabe aquele brilhozinho de maldade, quase uma faísca? Era assim o olhar dele, quase monstruoso de tão intenso. Eu lembro que ele estava com uma calça jeans rasgada e a camisa com estampa de zebra (que um dia foi minha) desabotoada. Estava tocando um pouco mais devagar, não lembro se ele estava fodendo a minha concentração ou se eu não lembrava mesmo os acordes de um solinho simples, e enquanto eu estava olhando para o braço da guitarra, ele tinha se sentado e estava puxando um dos meus pés para eu descruzar as pernas, esticou-a e derramou um pouco do bourbon no meu pé descalço, subindo aos poucos pela minha panturrilha e seguindo com a língua.

— Continua tocando.. — ele sussurrou enquanto beijava a minha perna, subindo até o joelho.

All I want you to do is to make your bread

Just to make sure that you're well fed

I don't want you sad and blue

And I just wanna make love to you"

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Você acha que todos os seus sonhos estão se realizando: assinou um contrato, está fazendo turnês com ingressos esgotados, começando a ter mais grana do que imagina conseguir gastar, tem dois carros (e está procurando um novo) e três motocicletas dos sonhos de qualquer garoto, drogas a um estalar de dedos.

Por algum motivo, eu ainda achava que quando a mansão estivesse reformada como eu queria, todos os meus sonhos estavam realizados.

Eu achava que consegui tudo que queria na vida, todos meus sonhos nas minhas mãos. Até ter uma mulher nua na minha cama tocando uma guitarra blues.

E ela manda bem, até pra cantar, mas estamos ambos de acordo que o forte dela é a bateria mesmo. Deve ter algo a ver com aquele negócio de terapia, de socar almofada. Ela tinha raiva demais nas costas, pra descontar tudo em almofada.

(Alguns anos depois, encontrei um lugar - o malfadado 640 South Main Street, conhecido como Hotel Cecil - pasme, tinha uns quartos que lembravam muito meu velho pulgueiro perto da Sunset. Nenhuma garota topou posar para uma foto lá, e eu queria de qualquer jeito ter uma foto daquela lembrança. A única que aceitou fazer a foto? A própria Mavie, lógico. Era um sinal de Deus; ninguém ia reproduzir a imagem que eu tinha na minha mente melhor que a realidade, mesmo).

Claro que eu tocava alguma coisa de blues, mas não é a mesma coisa do que quem cresce com o blues. Fazia sentido. É um negócio de sangue, mesmo.

Eu virei todo o conteúdo daquela garrafa nas pernas dela, e mesmo assim, não queria que ela parasse de tocar, nem cantar, nem que fechasse as pernas. Jogava o bourbon na pele dela e subia com a língua bem devagar, até chegar entre as coxas dela...onde não precisava de líquido nenhum.

Acho que já deve estar claro o que aconteceu a partir daí...yeah, baby! a lua-de-mel continua!

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