PÓS SHOW

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("Milk Cow Blues" - Aerosmith)

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("Milk Cow Blues" - Aerosmith)

Na mesma noite, tocaram Hanoi Rocks, Venomous Sins e Ratt. Aquela noite do festival devia ter acabado como de costume, por volta de onze da noite, mas eram quase uma da manhã. Venomous entrou no horário; estávamos mais afiadas e mais altas do que nunca aquela noite!

O que foi uma surpresa boa, porque sempre tínhamos um certo receio desde o primeiro show: sempre teria pelo menos um babaca que ia fazer uma gracinha.

Às vezes, dependendo do nível da baixaria, a Cherry fazia questão de não agradecermos todas juntas no final do show, agradecia durante a última música e então dávamos o fora. Era uma maneira de prevenir encrenca, depois que perdemos a KCC87 em LA, um imbecil tentou agarrar a perna da Vanity e acabou levando um chute na cabeça (e eu era a encrenqueira, veja bem!). Nunca mais chamaram a gente pra tocar lá, mas logo em seguida o Razzle nos convidou para o Troubadour, então perdeu a importância essa história.

Falando no Razzle, quando voltamos para o hotel, lembro de pegar umas garrafas de qualquer coisa e levei comigo para o quarto. Estava cansada, e só queria beber vendo as listras coloridas da TV fora do ar na madrugada ondulando sob o efeito de qualquer coisa.

Algum tempo depois, ele bateu na minha porta, que como sempre estava destrancada. Parecia uma porra de uma turba! A Cherry entrou com ele, seguida do Monroe e o Andy Mc Coy, Brett Michaels e Izzy. Como eu disse, uma turba.

Estávamos bebendo, eu só ouvia a conversa deles, totalmente chapada e cansada demais para ser mais que uma espectadora no circo que eles estavam aprontando. Tinha um disco do Aerosmith cheio de cocaína, e nevou forte naquela madrugada. Algum tempo depois, um magrelo com cabelo de ouriço bateu na porta, que eu já tinha desistido de manter fechada.

- Tem lugar pra mais um na festa? - ele perguntou com a voz mais mole que já ouvi.

- Sempre tem, entra aí.

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Não estava mais curtindo ficar no meio de todo mundo. Às vezes o Tony e eu ficávamos no quarto dele, cheirávamos, ouvíamos um pouco de música e depois cada um ia pro seu quarto pouco tempo depois. Era como um casamento,cansava cada vez mais rápido.

Além do mais, depois de algumas doses, não queria mais dividir com ninguém. Mas era cuzão o suficiente para me animar pra me juntar de novo à gangue quando a minha droga acabava. Às vezes tinha alguma garota envolvida também, até pra ser um canalha eu preferia a privacidade, na maioria das vezes, pelo menos.

Eu devia saber que aquela gritaria no final do corredor era no quarto dela. Devia ter pensado que o Monroe estava lá,por algum motivo deletei completamente a presença do cara. Ela estava sentada na cama com as pernas cruzadas e a maior cara de saco cheio enquanto a Cherry se esfregava no Razzle e os outros bebiam, cheiravam e conversavam. Parecia uma múmia, ela só se mexia quando passavam a droga!

Esperava uma festa, drogas, não esperava o Monroe. A coisa mais bizarra era que ninguém sabia de porra nenhuma, mas mesmo assim, parecia que depois que eu entrei, trouxe uma nuvem preta que espalhou uma apatia estranha. As vozes falavam cada vez mais baixo e logo se calaram. Nenhuma gargalhada, só passavam a droga e cada um estava no silêncio ouvindo as vozes das próprias cabeças. Inclusive eu. Mavie estava assim desde o começo, então...

Acho que o Razzle foi o primeiro a sair, acho que queria privacidade com a Cherry. O silêncio continuou lá. Cada um foi saindo aos poucos, e ela mal reagia.

- Estraguei alguma coisa?

- Só se foi pra eles...não via a hora de ficar sozinha um pouco. - ela respondeu enquanto batia mais algumas carreiras.

- Melhor eu ir então...

- Pode ficar, se quiser.

O quê? Não era para ficar sozinha? Bom, tinha coca, então...foda-se. Não me custava nada brincar de múmia um pouco também.

- Pensei que o Monroe ia ficar. Aconteceu alguma coisa?

- Nada que eu não quisesse. Mandei ele me deixar em paz, e ele obedeceu. É um cara legal, se pensar por esse lado...sem choro, nem gritaria, nem nada. E você? Vôo solo?

- Chicks Are Trouble...

Sério, eu fui babaca o suficiente para dizer isso. Ela só soltou um "Ah." ainda olhando para a TV.

- Sabe de uma coisa? Eu não entendi esse negócio do Monroe. É algum tipo de fetiche por vocalista loiro afeminado?

Parecia uma cena de faroeste e ela era o Henry Fonda olhando para o Harmonica Man no canto oposto do bar, aquele olhar que desliza da frente para o lado, saca?

- Qual é o seu problema?

- O meu problema?

- Uma semana depois de eu dormir no teu quarto, você estava chupando a cara daquela garota e acha mesmo que tem o direito de me cobrar qualquer coisa depois de dois anos?

- Eu só achei que depois daquela noite você tinha variado as suas... "preferências"... hm...mas, pelo visto continuam as mesmas, não é?

- Você sai fodendo qualquer coisa que tenha um par de peitos e uma boceta e agora quer questionar o quê exatamente da minha vida?

- Não tô quest...

- É, tá. É só curiosidade, valeu.

Bom, eu estava lá pra discutir ou pra cheirar? Foda-se.
Imagina o susto quando de repente a Mavie que eu conhecia ressurgiu das cinzas e enquanto eu cheirava um tapão do nada virou todo o disco cheio de cocaína no meu colo.

- Mas que porra é essa?

- Dá o fora daqui, Sparky!

- Você tá louca? Olha essa merda!

- Essa droga é minha, dá o fora daqui! Quem você pensa que é? Seu bosta! Vem aqui cheirar a minha droga quando a sua acabou e ainda quer vir me sondar? SAI DAQUI!

Eu estava pronto pra me levantar e sair dali mesmo. Mas não sem antes ser o babaca arrogante de sempre, então parei de frente pra ela, me agachei para olhar bem pra cara dela e deixar claro que no alto dos meus 1.85m ela não passava de uma tampinha.

- Se você quer ser metade piranha e metade groupie, fique à vontade.

- Pelo menos eu não pago ninguém pra me comer, broxa de merda!

- Não tá pagando, mas estão pagando você, né? Quanto custou? Uma vaga no Troubadour pra um, uma turnê com o Motörhead pro outro... Qual é a próxima, Mavie? Turnê nova na Europa com o Hanoi? Piranha do caralho...

- Hahaha, como se a opinião de um viciado escroto de pau podre...

- ...Eu não era nada disso quando você estava na minha cama, não é?

O meu dom de fazer merda não tinha limites nessa época e eu ainda tive bosta na cabeça o suficiente para segurar o queixo dela e dar um beijinho na ponta do nariz dela. E ela estava bufando como um touro. Mesmo assim, segurava a ponta do queixo dela como se fosse uma criança...

- Tudo bem ter ciúme, queridinha... você é fraca demais pra essa vida, eu já sabia. Quer saber? Você não me engana: você não é nenhuma badass porra nenhuma. Você morre de medo, como uma ratinha. Você morre de medo até de você mesma. Você não me engana.

Mandou bem. Mandou bem pra caralho, Spark.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now