DOENTE COMO UM CÃO

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— Spark?...o que voc... — eu mal conseguia falar, tão chapada de sono que eu estava. Meu cabelo estava espalhado pela cara e eu mal conseguia falar duas palavras sem bocejar.

— A minha cama tá cheia de cacos de vidro...não tem condições de me deitar lá.

— Chama o serviço de quarto... — eu só queria voltar a dormir e estava fechando a porta na cara dele, mas ele fechou o punho contra a porta, passou o pé para o outro lado da porta, assim eu não conseguia movê-la nem para fechar, nem para abrir.

— E-eu sei que não posso, mas...precisava conversar com alguém, mas...

— Não sobrou ninguém pra conversar... — bocejei — com você...tô chocada com a surpresa... Vai, entra...

Abri bem a porta e encostei na parede para ele passar sem tocar nem sequer a minha aura, fechei a porta e fiquei encostada na porta esperando ele decidir onde ele ia se sentar para eu poder ficar longe. Ele ficou parado ali, no meio do quarto com as mãos nas costas olhando ao redor. Virou a cabeça e me olhou de soslaio.

— Pode se sentar se quiser...eu não vou fazer nada que...

— Pode ter certeza que não vai. — eu disse, ainda com os braços cruzados enquanto me sentava na poltrona ao lado da cama. — E então...?

— Bom, eu...é isso mesmo que você disse...não tem ninguém. Não precisa da parte do sermão, já ouvi o suficiente do Jack.

— Ok...

Era como se eu estivesse vendo pela centésima vez o mesmo filme. Essa é a parte que você fica rodeando antes de chegar ao ponto? Ok, eu espero. Deus, espero que dessa vez seja mais curta!

— Você tá mandando bem, sabe...no lugar do Tony. É incrível.

— Hmhm...

Pensei comigo "ok, dessa vez parece estar mais difícil que antes. Mau sinal, abordagem diferente".

— Você vai me contar o que tá acontecendo?

— Só precisava conversar com alguém...

— Acabou a heroína ou coisa do tipo? Eu não tenho nada, você deve saber...

— Acho que eu devia pedir desculpas...pela...bom...por tudo aquilo, né...

— Devia mesmo.

"Mas também não vai ser agora"

— Porra...eu nem sei o que posso falar...

— Tá bom. Então vamos fazer assim: eu vou me deitar, voltar a dormir e quando você conseguir tirar essa pedra da garganta e falar o que você quer falar, me acorda.

Sem brincadeira, eu estava mesmo com muito sono.

— Conseguiu achar um bar legal?

— Estamos em New Orleans, Spark...se não tiver um bar legal de blues aqui, onde vai ter?

— Ah, é...certo... — ele se levantou e foi até a beirada da cama — Eu posso...?

Eu encolhi os ombros. Se eu dissesse que não, ia adiantar?

— Eu fui num bar de strip, mas...

— Vocês sempre vão. Além do mais, tem uma nuvem de perfume barato ao seu redor.

— Tem algum jeito de conseguir fazer você baixar a guarda?

Ok, ele não estava normal. Não conseguir falar olhando para a minha cara era algo que eu já estava relativamente acostumada. Ele sempre escondia o rosto na maior parte do tempo, com todos.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now