A ÚLTIMA VEZ

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("Don't Go Away Mad (Just Go Away) - Motley Crue)

E então, esse foi o enorme passo para a Venomous. A banda ia para as alturas, era um novo patamar que havíamos alcançado. Iríamos para o Texas com o Motörhead e faríamos a abertura de 9 de cada 10 shows na turnê deles.

E tudo isso foi negociado e combinado depois daquela gig no Troubadour. Fiquei pensando se não deveríamos pedir para o Cliff deixar subirmos uma última vez no palco para uma despedida, mas foi um pensamento que foi embora tão rápido quanto chegou; a adrenalina do show misturou com a adrenalina da notícia, que estava misturada com a adrenalina de conhecer um dos meus ídolos em pessoa. Também estávamos bêbadas e eu estava fritando de tanta cocaína que eles trouxeram.

A cada noite no Troubadour eram duas ou três bandas, mas nas nossas noites, já tínhamos evoluído para sermos a atração principal. E agora estávamos indo para o Texas abrir a turnê da porra do Motörhead! E é lógico que havia uma boa grana envolvida também. E uma gravadora. Tem ideia? Esse tempo todo, desde quando meu pai morreu, mantive todas as minhas expectativas o mais baixas quanto fosse possível:se tivesse um lugar pra tocar em troca de um prato de comida e tivesse algum sofá onde dormir, era perfeito. Nem nos sonhos mais loucos eu esperava por isso!

Naquela noite, festejamos pesado, no Troubadour mesmo. Um pouco mais tarde o Razzle apareceu, o Tony, mesmo com o coração partido pelo fim do noivado...bem, ele me lembra um pouco o Tigrão, sabe? Do Ursinho Pooh? Não importa a tragédia, em algum momento ele vai abrir um risão largo e sair pulando por aí. Só dê um pouco de tempo...e uma garrafa de Jack.

Falando nisso, até mesmo o Jack, o guitarrista da Dazzle, que tocava e ia embora pra casa estava lá. Os caras da Ratt também apareceram, afinal, porra! O Lemmy estava no nosso antro, quais eram as chances de isso se repetir? Mais fácil o Cometa Hally aparecer duas vezes no mesmo ano!

Então, quando a Cherry e a Vanity já estavam de saída, o Razzle (que se comportou bem naquela noite) estava com a cara caída no balcão do bar, o Tony desapareceu com alguém e o Jack já devia estar em casa...era hora de eu ir embora também. Me sentia uma idiota por ter recusado o after com os caras do Motörhead. Estava com medo de alguém me beliscar e eu acordar.

A propósito, meu velho Maverick não fora guinchado, mas estava cheio de "cartinhas" quando saí da casa do Sparky umas noites antes. Mas ainda estava lá, o tanque ainda estava cheio e eu só queria ir para casa, tomar um banho quente e dormir.

— Mavie! Espera aí, garota, onde você tá indo? — a voz rouca era bem familiar. Perry tocava guitarra com uma banda menor, e às vezes aparecia e sempre deixávamos ele subir com a gente para uma jam. Era ótimo no improviso.

E lá vinha ele do outro lado da avenida com uma camiseta que devia ter sido branca um dia, uma calça que com certeza podia ser da irmã caçula (sério? Rosa com babados azuis na lateral?) e o cabelo curto como uma coroa de espinhos.

— Olha só, estou indo pro Rainbow, vamos lá, tá cheio de gente e vamos baixar a porta só para os VIPs! Vamos?

— Perry, eu só quero ir dormir, eu tô cheia de...

— Tá cheia de chatice! Porra, vamos!

— Você sabe com quem eu estive hoje?

— Me conta lá!

E ele estava entrando no meu carro quando deu esse veredito, dá pra acreditar? E o que eu ia fazer? Estava com paciência pra fechar o tempo?

Na verdade, naqueles dias estava evitando confusão de qualquer jeito. Na maioria das vezes que algum idiota fosse...bem, um idiota, eu só saía de perto e ia cuidar da minha vida. Estava sem saco pra essas coisas, e começava a perceber que nem todo babaca merecia desgastar os braços.

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