STARRY EYES

Mavie & Tony

Pois é, eu sei...ninguém esperava me ver aqui, mas que se foda. Eu sou chegadaço em fofoca, por isso quando eles perguntaram se podiam me colocar no livro, a única condição foi que eu queria ser o primeiro a ler.E olha, tem muita coisa que eu não sabia. O Sparky não sabe esconder muito bem as coisas que apronta, e a Mave é ...discreta? NÃO MUITO, mas com certeza um pouco mais que o Spark...

Caralho, sem rodeios... na verdade ela era um puta pé no saco na maior parte do tempo. Quem gosta de uma garota que a gente tem que pisar em ovos o tempo todo se não quiser levar uma joelhada nas bolas? A princípio eu achava ela uma garota legal...como não? Ela sempre tinha drogas, bebia pra caralho e comeu a minha namorada, quer dizer...O Sparky é meu irmão, meu amigo e comeu muitas namoradas minhas, mas não é a mesma coisa. Pra se igualar a coisa, eu teria que comer o namorado dela, e bem...o Spark é meu irmão, mas é só isso. Não passa daí, hehehe.

Falando em irmão... bom, ficou parecendo em uma parte ou outra que a Mavs era séria, marrenta e grossa. Tá, ela é... mas com o tempo muitos de nós começamos a gostar dela. Eu principalmente, porque saquei muito rápido o que acontecia entre eles, antes até deles mesmos. Mas pra não ficar parecendo que só o Sparky era um tremendo filho da puta (bom, ele era), achei melhor fazer uma pequena intervenção para contar uma ou duas coisinhas.

Quando o Raz insistiu que elas deviam ter um espaço fixo no Troubadour, eles ainda estavam juntos. Era bem fácil de entender porque o Razzle estava tão envolvido com ela: ela tirava um bom dinheiro por fora, acho que trabalhava de dia numa loja de instrumentos, se não me engano. E além do mais, lógico, ela tinha aquele Maverick irado...estávamos juntos nessa, até o Jack: não era justo elas terem que brigar o triplo por um espaço mínimo na Sunset. Nessas de apoiar a Venomous, estávamos todos de acordo, mesmo sem saber até onde essa parceria iria chegar.

Na verdade, o Maverick '65 estava mais próximo de um lixo velho, mas...pra quem estava sempre a pé e contava moedas com antecedência quando precisava pegar um ônibus, qualquer carro parece uma limusine, não é? O Raz nessa época era meio...não, não era, ele sempre corre atrás de mulheres, mas o foco nessa época eram as que tinham algum recurso. Era onde ele investia mais tempo e atenção. A coisa toda degringolou quando ele conheceu uma outra mina, uma loirinha que tinha um TransAm e morava em Beverly Hills. Essa mina comprava pra ele tudo que ele queria ou que ele pudesse querer. A Mavs pegou ele no pulo e acabou aí. Acho que é por isso que quando ele encurralou a Mave no corredor ela bateu tão feio nele, aquela joelhada devia estar guardada para o saco dele há meses. Ele estava sem a loirinha, logo... sem transporte e sem grana de novo. Não sei se o Sparky tinha os mesmos motivos na época, mas eu e o Jack estávamos putaços com ele por isso. Todos nós podíamos contar com a carona dela e porque ele não conseguia controlar o pau, estava tudo perdido!

Eu tomei um fora da Cherry naquela noite que os caras do Motörhead estavam "de passagem", porque ela estava de olho no Lemmy. Fiquei puto, mas dava pra entender, se eu fosse uma garota também me dispensaria, quer dizer, era o Lemmy, caralho!
Mas era uma coisa boa pra elas, e a Venomous é uma puta banda do caralho...quanto a mim...eu me apaixono fácil, e tinha certeza que a mina que estava amargurando o fim naquela noite era pra valer; noivado e tudo, mas de repente tudo explodiu em uma briga violenta e eu nunca mais quis olhar na cara dela. Mas essa é outra história...

Naquela noite, eu zarpei para o Rainbow,mas estava em outro esquema, amargurado por um noivado que foi por água abaixo e um fora recente da Cherry. E já estava lá, ainda que na minha, quando a Mave chegou; e sou testemunha ocular de várias coisas daquela noite: eu vi a cara do Sparky virar uma máscara de cera quando ela entrou, eu vi a cara da Mave tentando lançar raios mortais na direção dele e daquela garota que ele estava, a tal Marianne. Não precisa ser um gênio, nem sequer estar sóbrio pra sacar o que estava acontecendo, aliás, eu, um moleque cheirado e bêbado matou a charada na hora.

Outra coisa que eu vi foi o Bret Michaels, que se levantou para dar espaço para a Mave se sentar com os caras. Eu vi como ele olhava pra ela e também vi que ele não era nenhum otário. Ele percebeu tão bem quanto eu que tinha alguma coisa acontecendo entre os dois. Se não me engano ele foi bem esperto e conseguiu "conquistar" a baixinha, pelo menos eles foram embora juntos do Rainbow, só posso supor.

Mas depois de dois anos que só ouvíamos falar da Venomous e ficávamos satisfeitos por termos feito parte da história e a carreira delas decolarem como um foguete? pensei que as coisas tinham esfriado, que foi o calor do momento, nada mais.

Eu me empolgo, do que eu ia falar mesmo? Ah, sim... como estava falando, eu saquei naquela noite no Rainbow que tinha acontecido alguma coisa entre eles, mas só depois de um tempo que ele me contou que acabaram juntos uma semana antes, quando ela tentou botar o Razzle pra dormir e o Sparky salvou o rabo dele.

Durante aqueles anos, eu acostumei com várias esquisitices do Sparky, principalmente em relação às drogas. Estava na casa dele, ficávamos jogados na sala vendo TV, bebendo e fingindo que estávamos vendo qualquer merda que passasse e só realmente prestávamos atenção quando aparecia alguma gostosa feito dois adolescentes depois da aula. E essa foi a primeira vez que ele sugeriu que eu injetasse heroína ao invés de só perseguir o dragão.

Ele mal tirou a agulha do meu braço e eu virei do avesso colocando as tripas para fora debruçado no braço da poltrona e o barato veio. O chão parecia que fez "vuooooooosh!" e subiu direto pra minha cara e pensei que tinha caído de cara e meu cérebro inverteu a ordem da percepção; que quando eu caí, o meu cérebro inverteu a percepção e senti que o chõ tinha subido até a minha cara.

Mas na verdade, eu não tinha caído e a minha visão estava tão confusa que eu não conseguia discernir se o teto ficava em cima e se o chão ficava embaixo.

"Não tenho certeza se gostei desse negócio"

Mais assustador que aquela sensação bizarra de um bolo de massa dentro do estômago e a confusão mental, foi quando percebi que o Sparky parecia bem confortável aninhado naquele puta lugar sinistro que era o barato da heroína.

Antes, costumávamos passar dias entre uma gig e outra na turnê passando por bares e stripclubs. Depois, passávamos a madrugada bêbados no hotel, às vezes dividíamos garotas, às vezes conversávamos entre uma carreira e outra de coca, e até mesmo podíamos desabafar um com o outro. Ele era meu irmão. Sempre foi e é até hoje.

Mas não foi só a Mavie que foi afetada quando ele se fechou no ninho sinistro da heroína. E percebi isso nesse primeiro dia, mesmo tentando não acreditar: ele tinha uma certa satisfação perversa em trazer qualquer pessoa para esse ninho. Depois de um tempo, foi a vez da Mavie entrar nessa, mas é o que eu disse: eles são bem parecidos, mas o Sparky parecia ser uma versão mais burra, a Mavie às vezes era uma versão mais orgulhosa (se é que é possível, ainda mais nessa época, alguém ser mais orgulhoso que o Sparky).

Só que eu sabia o tempo todo duas coisas: quando o Sparky estava sóbrio, era só observar: a qualquer momento ele começava a ficar agitado, irritadiço e olhando para todos os lados procurando uma saída. E eu dizia: "é só esperar. Em uns 3 minutos ele vai ter desaparecido". Era o que sempre acontecia, cercado de gente ele começava a ficar incomodado e precisava de uma rota de fuga para se encontrar com a "amante favorita"; e não falo da Mavie aqui.

A Mavie fingia melhor. Nem sequer acreditei alguns anos depois quando soube que ela estava internada. Não tenho a menor ideia de quantas vezes a encontrei e ela devia estar dopada, e eu sequer desconfiei. Por isso foi tão estranho quando soube que se internou. Pensei que o Sparky tinha feito alguma merda, descacetado a cabeça dela....ele era bom nisso também.

Podia ser um idiota por não perceber como ela havia sido sugada pelo vórtice insano de depressão e vício do Spraky, mas durante todos aqueles anos, eles queriam me fazer de idiota fingindo que não estavam nem aí um com o outro.

Mas era pedir demais que eu acreditasse nessa mentira.