BÔNUS 1.0 - WHEN MAVIE MET RAZZLE

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Please don't call it love,
From the moon and stars above,
Please don't call it love,
Don't call it, Don't call it love.

Eu estava no camarim do Whisky, me lembro bem da Vanity correr até o banheiro e voltar com um calhamaço de papel toalha, a pele cor de oliva estava mais branca que um defunto e ela puxava a minha cabeça para trás. Como eu disse no livro: depois de várias surras que tinha levado do Pilson, naquela noite, quando ele viu que eu estava interagindo com um cara que trouxe uma garrafa enquanto eu estava tocando, eu descia as baquetas na caixa, pratos e tons como se estivesse tentando quebrá-los. Porque minha cabeça não estava mais no show; estava já no futuro próximo, quando estivéssemos sozinhos e ele estaria com coragem para começar o inferno de novo. Em algum momento, com todas essas imagens do que estava por vir como nuvens dentro da minha cabeça, meu sangue começou a ferver e sentia meus nervos como se pudessem arrebentar e sair pela pele. "Agora não, não dessa vez!" foi o único pensamento que surgiu em forma de palavras e antes que eu pudesse entender o que estava fazendo, tinha chutado o bumbo para fora do meu caminho, acertei ele atrás da cabeça com uma baqueta. E assim, levei de novo alguns socos, mas naquela hora, não ligava mais em apanhar; era a minha vez de bater.

Ele estava em algum lugar cercado de outros caras que deviam estar me chamando de "vadia maluca", mas não podia me importar menos. Quando a Vanity entrou e começou a tentar conter o sangue que escorria do meu nariz e da boca, eu estava rindo histericamente. Não ligava para a dor, nem para o sangue; estava LIVRE. Mesmo que o preço fosse um pouco salgado, estava livre. Só isso importava!

— Mavs, pára, se você continuar gargalhando assim, alguém pode vir e...

— Deixa vir! Quero mais é que venha, quantos filhos da puta quiserem, não tenho medo dessa gente! — cuspi uma quantidade generosa de sangue que se acumulava dentro da minha boca.

— Eu sei, eu sei! Mas porra...pelo menos deixa eu limpar isso, vamos para um hospital e aí a ge...

— Não preciso de uma porra de um hospital, preciso de um teco! TEM ALGUM ARROMBADO QUE...ah, não...tenho aqui. — Tinha três pinos de cocaína que estavam guardados para o fim da gig...e precisaria de mais, afinal, a gig acabou mais cedo. Meio que empurrei a Vanity do meu caminho e virei um pouquinho do "pó mágico de adormecer a cara" na mesa, sem esticar carreira nem nada; não havia tempo pra isso. Enrolei uma nota quando alguém abriu a porta; uma moça magrinha, de ombros pequenos escondidos pelo cabelo cacheado e denso; usava uma franja e tinha olhos castanhos lindos.

— Que merda aconteceu aqui? Você está bem? eu vi a cena toda, porra...que foi aquilo?

— Quem é você, afinal? — perguntei sem me importar muito enquanto assoava o nariz para o sangue não ficar no caminho da droga, peguei a nota enrolada e encostei no montinho de pó amarelado. — PUTA QUE PARIU! — virei a cabeça para cima; a química entrou na narina como se tivesse enfiado um cigarro aceso dentro do nariz; a ardência subiu pela cavidade nasal e queimava até entre os olhos; mesmo assim, funguei com mais força, esperando que com mais droga, começasse o efeito anestésico.

— Ah, sim, eu sou a Cherry, vamos estrear aqui amanha, toco com a Clam Dandy.

— Toca o quê?

— Guitarra. — ela respondeu meio ríspida para a Vanity; e eu entendo. Estávamos todas desconfiadas de qualquer pessoa que entrasse, ainda mais uma desconhecida invadindo o camarim daquele jeito. — Se vocês quiserem ir embora, meu carro está na frente. O cara já saiu daqui.

— Eu tenho meu carro; se esse arrombado não tiver rasgado todos os pneus depois desse pequeno colapso...

— Ele foi levado de ambulância; as pancadas na cabeça deixaram todo mundo preocupado. O resto da banda foram com ele aliás. Acho que vocês ficaram sem banda.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now