Capítulo III - BRUNO

2.3K 344 126
                                    


Acordei com batidas na minha porta. Eu sabia que eles estavam trazendo o meu café da manhã e, por isso, levantei rapidamente.

Peguei a bandeja que enfiaram pela portinhola e conferi o cardápio do dia. Droga! Era sopa. Enfiei as torradas no bolso e tomei a sopa, que tinha gosto de sola de sapato.

Lavei o rosto com um pouco de dificuldade, pois esse maldito capacete atrapalhava bastante. Pensei em como eu o destruiria se tivesse essa oportunidade.

- Eu vou te destruir com um machado – grunhi, em frente ao espelho.

Lembrei que eu já tinha me imaginado destruindo essa droga com um machado. Eu precisava de uma arma diferente a cada dia.

- Uma espada ninja, então.

Eu fui o único agraciado – ou não – com a honra de manter a minha memória. E era por isso que eu era o único que ainda usava essa droga de capacete.

Abri a porta e segui pelo corredor. A porta do quarto da Malu estava trancada como sempre. Eu não a via há quase um mês, mas sempre fazia questão de deixar uma parte das minhas refeições na portinhola dela, mesmo sabendo que, se alguém descobrisse, ela seria punida no meu lugar.

Deixei minhas torradas para ela, depois de me certificar de que não havia ninguém nos corredores. Ouvi ela correndo até a porta e devorando o que eu deixara. Puxa! Há quanto tempo ela estava sem comer? Como ela estaria se sentindo? Eu não sabia dizer. E esse era o pior castigo que eu poderia receber.

*

A fase de exames estava prevista para durar cerca de dois meses, mas eu me encarreguei de fazê-la demorar consideravelmente mais. Quer dizer, tudo começou quando o resultado de um dos exames deu que eu tinha anemia.

Na época eu não me dei conta da dádiva que era essa droga de exame alterado. Só depois que eu vi – mesmo que sem querer – o médico praguejando o resultado do exame que eu entendi que aquela era a minha chance de, pelo menos, postergar o início do experimento.

Passei a cuspir fora todos com complexos ferrosos que eles me davam, na intenção de curar minha anemia. Por algumas semanas, isso surtiu um efeito satisfatório, até o dia que o próprio doutor veio me entregar minha medicação.

Era uma manhã qualquer e ele veio trazer meu café da manhã. Ele nunca perdia tempo com essas trivialidades e, por isso, senti um arrepio na espinha quando o vi entrando.

- Bom dia, Bruno. Que dia lindo, não? – indagou, sem o menor humor em sua voz.

- Eu acho que sim – vacilei.

- Você deve estar se perguntando o que um médico do meu calibre está fazendo trazendo o seu café da manhã, não é? – Ele se aproximou e deixou minha bandeja sobre o criado-mudo, ao lado da cama.

- Na verdade, não – balancei a cabeça.

Ele sentou-se na cama e me encarou muito sério.

- Tudo o que eu queria era um futuro bom para você e para a sua irmã. Isso foi o que eu sempre sonhei para vocês dois – começou, saudosista. – Eu até já podia vê-los, famosos, ricos e sem qualquer preocupação pelo resto da vida...

- Sua ladainha me cansa – soltei, antes que ele tivesse oportunidade de continuar sua lenga-lenga.

Sem demonstrar qualquer reação, ele se levantou da cama e seguiu até a porta. Chegou a colocar a mão na maçaneta, mas desistiu na última hora e se virou para mim, com um sorriso sádico no rosto.

- Sabe, Bruno... Eu quase deixei você pensar que é mais esperto que eu por mais algum tempo. Isso é tão revigorante e me faz dar boas gargalhadas no final do meu dia. É o meu escape, se quer saber – disse, voltando em minha direção.

Senti os pelos da minha nuca se eriçarem, pois eu sabia que ele tinha me descoberto.

- Mas acho que nada vai me desestressar mais no final do dia, do que lembrar dessa sua cara de espanto, medo e raiva – ele gargalhou e então prosseguiu com seu discurso. – Eu já percebi há semanas que você não está tomando seus medicamentos. E adivinhe só? Enquanto você dava uma de esperto para cima de mim, eu mandei cortar todas as refeições da sua irmãzinha – sorriu, com deboche.

- Seu desgraçado! – exclamei, levantando da cama num salto.

- Não ouse se aproximar de mim, seu vermezinho nojento – grunhiu, tirando de dentro do bolso do jaleco um pequeno controle remoto.

Eu já sabia o aquele controle controlava. Ele estava preso na minha cabeça há quatro meses e me fazia sentir tanta dor quanto fosse possível. Fiquei imóvel.

- Eu já te expliquei isso há bastante tempo, Bruno. Pensei que você fosse mais esperto. – Sorriu. – Não adianta tentar me enganar. A única pessoa que sofrerá com isso tudo é a sua irmã. Quem sabe até quando ela vai aguentar sem comida?

Antes que eu tivesse tempo de reagir, ele já tinha saído.

******************

Eita! Se a situação do grupo está ruim, a segunda geração está mil vezes pior.

Hoje estamos em #25 no ranking, meu povo. Em menos de uma semana :D

Bom final de semana e até terça ;*

As Últimas Cobaias - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora