Capítulo XII - ZECA

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Após sair do grupo e ter a tão sonhada "vida normal", Zeca não tem qualquer contato com seus amigos há quatro meses e se sente culpado pelo que aconteceu com a Malu.

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O curso acabava perto das dez e meia e, até eu pegar o ônibus e chegar em casa, passava das onze. Como a Dona Gorete simpatizava comigo, eu era o único autorizado a chegar depois das dez e por esse motivo, ela deixava uma cópia da chave da frente comigo.

Eu já estava com a chave enfiada na fechadura, quando vi o Tonho se aproximando. Já faziam quatro meses que não nos víamos e um clima bem esquisito se instaurou. Encaramo-nos por alguns instantes antes de ele começar a falar.

- Eu só vim até aqui porque eu preciso muito de um favor seu – explicou.

Sua expressão parecia preocupada. Quer dizer, ele sempre era preocupado, mas dessa vez parecia ainda mais.

- Não podemos conversar aqui fora – expliquei em voz baixa. – Eu vou entrar e vou abrir a janela para você.

Ele concordou e eu fiz conforme o combinado. Quando abri a janela, a Iolanda se materializou do seu lado. Ajudei os dois a entrar e esperei pela sua explicação.

- O Joca e a Mag foram pegos roubando comida – explicou, muito sério. – A Iolanda entrou na delegacia e não existe uma maneira de tirá-los de lá.

- A menos que eles atravessem as paredes – completou a Iolanda.

Acho que era a primeira vez que ela conversava civilizadamente comigo desde o término traumático do nosso namoro. Não a culpo por isso. Eu fui um completo idiota.

- E vocês querem que eu os ajude a fugir – concluí.

- Sim – concordou a Iolanda.

- Você sabe que eu não pediria se não fosse algo muito sério – ele disse.

Eu sabia. Apesar de não termos brigado, quando eu fui embora uma mágoa velada se instalou entre nós dois. Ele me culpava por tê-los abandonado e, no fundo ele tinha razão. Mas eu não conseguiria mais viver ao lado deles sem perder o que restava da minha sanidade.

- Vamos lá – respondi. – Eu devo essa a vocês dois.

Emprestei uma jaqueta com touca para cada um deles, pois se alguém visse nossos rostos nas filmagens das câmeras de segurança, nós seríamos os próximos inquilinos daquelas celas.

Caminhamos em silêncio até a delegacia, o que resultou em uns quinze minutos. Eu me sentia esquisito na presença deles, como se eu devesse algo. Talvez fosse apenas uma explicação ou um pedido de desculpas. Quem sabe, fosse algo maior. Seja lá o que fosse, senti um aperto no peito.

Paramos nos fundos da delegacia. Mesmo depois de quatro meses vivendo uma vida normal, o espírito aventureiro ainda vivia em mim.

- A cela é aquela? - perguntei, apontando para uma janelinha.

- Aquela é a cela do Joca – respondeu a Iolanda. - A cela da Mag fica do outro lado do corredor.

O Tonho deu pezinho para que ela pudesse enxergar o Joca através da janelinha. Após alguns instantes de conversa sussurrada entre eles, ela desceu.

Fiz menção de fazer o meu serviço, mas ela me segurou pelo ombro.

- Ainda não.

Não entendi o que ela queria dizer, mas achei melhor confiar. Dentro de alguns segundos vimos a luz vinda da janelinha se apagar. O Joca cortara a energia da delegacia, o que facilitaria muito a nossa fuga. Sem mais delongas, entrei pela parede e puxei o Joca pra fora.

- Precisamos tirar a Mag agora.

Tirar a Mag ia ser um pouco mais complicado, já que a parede da sua cela dava para a frente da delegacia onde haviam policiais. Ao notar minha cara de interrogação, o Tonho se transmutou naquela mesma enfermeira de sempre.

- Eu distraio ele – disse, indo na sua direção.

Ele chegou puxando papo com o policial, dando sorrisinhos e enrolando cabelo no dedo indicador. Seria uma cena patética se não fosse necessária. Aproveitei a deixa e puxei a Mag pra fora antes que o policial começasse a ver que aquilo não passava de uma encenação barata.

Reencontramo-nos todos atrás da delegacia e o Tonho voltou a ser o Tonho de sempre.

- Já me transmutei tanto nessa mulher que já estou quase me transformando nela – disse ele, mostrando seu senso de humor, o que era uma raridade a esta altura do campeonato.

Todos riram. Até eu me permiti um sorriso de canto, coisa que não fazia há meses.

- Obrigado, Zeca – disse o Joca.

- Não foi nada.

- Foi sim. Eu pensei que não fosse mais sair daquele lugar – contou a Mag. - Obrigada mesmo.

Assenti com a cabeça. Eu jamais os deixaria na mão. Mesmo que tenhamos nos separado, eles eram a minha família.

Voltei para casa me sentindo estranho. Senti que o vazio que existia em mim fora preenchido. Pelo menos uma parte dele. Senti-me culpado, porque eu não queria que esse sentimento se acabasse. Eu precisava sentir dor, pois só isso me motivaria a não desistir de tirar a Malu de lá.

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Apesar de tudo ter se resolvido da melhor forma possível, todos ainda estão bem longe de estar satisfeitos.

Hoje o ranking bugou geral e A Terceira Criança está em primeiro lugar kkkkkk (não que eu esteja reclamando, é claro). As Últimas Cobaias está em 7º e A Segunda Geração está em 34º. Só queria compartilhar com vocês essa informação :D

Não esqueçam do votinho e dos comentários.

Beijão e até sábado ;*

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now