Capítulo XCIX - MALU

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Suzana os convocou para mais uma reunião.

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Com a volta da minha telepatia, ficou muito mais fácil avisar aos outros sobre a reunião. No horário combinado todos estavam na frente da nossa janela e seguimos em silêncio até a casa da tal mulher.

Assim que chegamos, fomos apresentados e sentamos na sala.

– Vamos começar de onde paramos – disse a Fernanda. – Pode começar a contar sobre a tia Soninha.

Notei que a Suzana ficou um pouco desconfortável com a situação. Ela largou o caderno que tinha em mãos, levantou e entrou pelo corredor. Todos ficaram sem entender direito o que tinha acontecido, mas dentro de alguns instantes ela apareceu, com um porta-retratos em mãos.

– A Soninha era a minha melhor amiga desde a infância. Minha mãe a tinha como uma filha e ela praticamente cresceu na nossa casa, comigo e com a Dalva, a mãe da Nanda. – Ela olhava para a fotografia em suas mãos com tristeza. – Então, aos dezessete anos, ela descobriu que estava grávida, na mesma época que eu precisei me mudar daqui para fazer faculdade. Eu quase desisti para não deixá-la sozinha, porque o ex-namorado dela era um traste e eu sabia que ele ia deixá-la na mão.

Enquanto contava a história, ela encarava a fotografia com tristeza.

– Ela não aceitou e disse que não queria se sentir culpada por arruinar o meu futuro também. Depois de muitas brigas eu acabei cedendo. Nós conversávamos por telefone quase todo dia e nas férias de julho, eu voltei para cá. Ela estava morando em um apartamento minúsculo e a barriga já estava bem grande. Foi quando tiramos essa foto.

Ela mostrou a foto rapidamente para todos e voltou a olhar para ela.

– Foi a última vez que a vi. Acabei ganhando uma bolsa de estudos para fazer um curso fora e passei dois anos sem voltar. Nós ainda nos falávamos por telefone, mas fomos perdendo o contato com o tempo. Uma das últimas vezes que nos falamos, ela me contou que estava dividindo o apartamento com uma amiga. Como ela confiava muito em mim, contou-me sobre o experimento e que essa amiga tinha fugido de lá porque aquelas pessoas eram perigosas de verdade. Eu tentei alertá-la, mas ela disse que não deixaria a amiga sozinha, já que estava grávida.

Todos a olhavam sem piscar, como se fossem perder qualquer detalhe se fechassem os olhos, mesmo que fosse por alguns instantes.

–Uma vez, ao tentar ligar para ela, ninguém atendia. Tentei várias vezes, em horários diferentes, mas não obtive resposta. Eu sentia que alguma coisa errada tinha acontecido, então liguei para a Dalva e pedi para ela verificar a situação. O apartamento estava vazio. Não havia nenhum sinal delas, nem das crianças. Eu larguei tudo e voltei para cá imediatamente e, assim que cheguei, já era tarde. Os corpos foram encontrados em um lugar qualquer. A polícia disse que foi tentativa de assalto, mas eu sabia que não era.

Todos se encaravam com certa apreensão, enquanto o porta-retratos passava de mão em mão. Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente.

– E onde foram parar essas crianças? – indagou a Helô.

– Elas nunca foram encontradas – explicou a Suzana.

A fotografia finalmente chegou nas minhas mãos e, ao ver a tal Soninha, minha mente foi invadida por várias lembranças. Eu conhecia essa mulher.

– Elas foram encontradas sim – disse, ainda sem tirar os olhos da fotografia. – Elas foram mandadas pro orfanato.

– Como você sabe disso? – tornou a Fernanda, arregalada.

– Essas crianças somos nós. O Zeca e eu.

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Eitaaaaa!!! A coisa só está ficando mais tensa.

Não esqueçam do voto e do comentário.

Quem acompanha Por Amor às Causas Perdidas (minha outra história), postei ontem capítulo novo bombástico e que explica o interesse súbito no Eloy (além da beleza, é claro). Não deixem de conferir.

Beijão e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora