Capítulo CLXIX - ZECA

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– Vamos atrás do Tonho e da Sara agora! – exclamou a Helô, em tom autoritário.

Já estávamos do lado de fora e, mesmo se ela não tivesse dito aquilo, eu iria atrás deles, porque eu estava preocupado. Eu não sabia o que tinha dado na cabeça daqueles dois para se separarem sem avisar e eu estava doido para dar uma bronca neles por nos afligir dessa maneira.

A Flávia se prontificou em levar as crianças para um lugar seguro. A Malu já estava acordada e, mesmo que insistisse que estava bem, o Bruno não saía do lado dela. Até pedi que ela usasse sua telepatia para procurar por eles, mas ela disse que estava fraca demais para isso e, como não havia muitos lugares onde procurar, achei que não seria difícil encontrá-los.

– Se eu descobrir que eles se afastaram da gente só para poder namorar, eu juro que mato aqueles dois. – A Helô ameaçou, em um misto de raiva e preocupação.

– Eles não fariam isso. – Tentei defendê-los.

– Eles já fizeram isso uma vez.

Eu não estava no clima para perguntar detalhes sobre essa história, porque estava apreensivo. Quando vi um rastro de sangue no meio da rua, olhei assustado para os outros, que me devolveram esse mesmo olhar. Sem que ninguém dissesse nada, saímos correndo seguindo o rastro, fazendo uma prece silenciosa para que aquilo não tivesse nada a ver com nenhum deles.

Não tardamos a encontrar os donos de todo aquele sangue. O Tonho chorava no mais completo desespero, abraçado a uma Sara inanimada, ambos cobertos de sangue. Paralisei ao ver aquela cena perturbadora e levei um tempo até notar que a culpa daquilo tudo era minha.

Todos eles correram na direção do Tonho, mas eu fiquei estático ali, morrendo de receio de chegar perto e eles notarem que eu era o culpado. Eu não sabia se estava preparado para lidar com aquilo, por isso virei as costas e saí dali com pressa, antes que algum deles notassem que eu era um covarde.

Assim que virei a esquina, vi a Suzana correndo na minha direção, com a expressão preocupada. Sem nenhum aviso prévio ela me envolveu em um abraço apertado, como se estivesse aliviada por me ver ali.

– Por que é que eu fui concordar com essa ideia ridícula? – dizia, entre lágrimas. – Eu pensei que fosse morrer de tanta preocupação. Você está bem? Onde estão os outros?

Ela se afastou de mim, segurando-me pelos ombros, e me olhava com atenção a procura de algum ferimento ou qualquer outro indício de que eu não estava bem.

– Eu estou bem.

– Ótimo. Vamos atrás dos outros.

Puxando-me pela mão, ela tentou seguir em frente na direção de onde eu acabara de vir, mas eu travei. Eu não queria voltar até lá e ter que encarar o julgamento deles. Já estava sendo bem ruim ter que lidar com o meu próprio julgamento.

– O que aconteceu?

Eu não conseguia explicar, porque dizer aquilo em voz alta tornaria tudo real e eu não queria ter que assumir minha culpa em voz alta. Um nó se formou na minha garganta quando ouvi a Malu me chamando atrás de mim e tornei a abraçar a Suzana para evitar ter que enfrentá-la.

– O que aconteceu? – insistiu, retribuindo meu abraço. – Você está me preocupando.

Senti duas mãos puxando minha camiseta me afastando da Suzana. Era a Malu.

– Eu sei o que você está pensando, porque eu te conheço melhor do que a mim mesma, mas eu não vou deixar você fazer isso, está entendendo? – Ela estava com o rosto inchado e vermelho devido ao choro e, mesmo assim, parecia assustadora. – A culpa do que aconteceu não é sua. Nós somos vítimas daquele lugar.

A Suzana nos deixou ali e seguiu atrás dos outros e eu me senti à vontade para poder falar sobre o que eu sentia.

– Então por que é que eu não consigo me sentir assim? – O nó na minha garganta só aumentava e eu tinha vontade de gritar e sair correndo dali e esquecer de tudo.

– Não sei, Zeca, mas eu vou repetir quantas vezes forem necessárias até você entender – explicou, pousando a mão sobre o meu rosto. – O Tonho e a Helô estão precisando da gente.

Concordei com um aceno, porque ela tinha razão. Neste momento eu precisava ajudá-los e seguimos até lá. A Helô e o Tonho ainda choravam, abraçados ao corpo da Sara. Aproximamo-nos do Bruno, que olhava tudo de longe sem saber como reagir.

– Onde está a Suzana? – perguntei.

– Foi chamar uma ambulância – respondeu ele.

Ficamos os três olhando aquela cena triste, sem saber o que fazer. De vez em quando eu era obrigado a secar uma lágrima que teimava em escapar, mas ter a Malu ali comigo tornou aquele momento muito menos doloroso.

Logo a Suzana voltou e a ambulância não tardou a aparecer. Quase tivemos que segurar o Tonho, porque ele não queria se separar da Sara, mas a Helô ajudou a convencê-lo. Outra ambulância nos levou até um pronto socorro, para avaliar nossos ferimentos. A televisão anunciava o incêndio no hospital e todos os experimentos que eles fizeram finalmente vieram a tona.

E agora que isso finalmente tinha acontecido, eu não fazia a menor ideia do que aconteceria com a gente.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now