Capítulo CLXVI - MAG

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Eu não conseguia parar de chorar. Por mais que eu tentasse me concentrar e focar no que precisava ser feito, eu simplesmente não conseguia.

Depois que a Dani foi esmagada pela bota de um dos soldados, eu só tive tempo de pegar ela nas minhas mãos e voltar para a sala do gerador. Agora, eu segurava ela e não parava de chorar.

– Você precisa se acalmar, Mag! – disse o Tavinho. – Ficar chorando aí não adianta nada.

Ele e a Iolanda seguravam a porta com seus corpos, mas sentíamos que não ia durar muito tempo.

Sentei-me no chão, tentando usar meu poder na Dani, mas não funcionava em baratas e eu não sabia o que fazer. Eu não podia deixar minha irmã morrer. Eu tinha essa droga de poder de cura e, no único momento em que realmente precisei, ele não me serviu de porcaria nenhuma!

Abri as mãos e vi umas das antenas dela se mexer e senti um fio de esperança.

– Pede pra ela se transmutar novamente, Tavinho. – Pedi, entre lágrimas e soluços. – Por favor.

Ele soltou a porta, aproximou-se dela e soltou uns sons esquisitos. Ele falava bem baixinho e, mesmo que eu não estivesse entendo bulhufas do que ele dizia, eu podia sentir a súplica dele na sua postura, no seu tom e nas lágrimas que ele insistia em tentar conter.

A Iolanda também largou a porta e veio na nossa direção. Ela abraçou o Tavinho, que nem tentava mais esconder o choro.

– Ela não pode morrer – disse, com a voz embargada. – Quem vai me ajudar com os meus planos?

– Ela não vai morrer – disse ela, tentando consolar o irmão.

Estávamos tão entretidos em tentar salvar a Dani, que nem notamos que ninguém estava segurando a porta. Quando ouvimos a maçaneta girando, olhamos apreensivos na direção da mesma, que se escancarou.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou o Joca, passando por cima de alguns guardas desmaiados no chão, seguido do Tião e da Nice.

Ao vê-lo ali, entrando na sala, o pouco controle que eu tive nos últimos minutos se foi e eu voltei a chorar desesperadamente.

– A Dani – resmunguei, entre soluços. – Eu não consigo.

Ele buscou a Dani com o olhar e pude ver a confusão no seu rosto. Abri as mãos e mostrei a ele a barata esmagada, que ainda mexia a antena de vez em quando. Coloquei ela no chão e sentei ao seu lado. O Tavinho se deitou ao lado dela e voltou a falar com ela, soluçando.

– Por que é que ela teve que improvisar? – Ele secava as lágrimas com as costas de uma mão, enquanto erguia os óculos com a outra.

– Anda, Dani. – Insisti. – Você precisa voltar a ser humana para eu poder te ajudar. Eu sei que você consegue, porque você é forte pra caramba e, como sua irmã mais velha, eu ordeno que você volte, porque eu não sei o que vou fazer se acontecer alguma coisa...

Não consegui terminar a frase porque o choro engoliu minha fala. Eu não podia deixar nada de mau acontecer com ela. Era minha obrigação ter cuidado dela e se tinha alguém que merecia estar ali, esse alguém era eu. O Joca me abraçou e eu enfiei o rosto no ombro dele. Ficamos ali por algum tempo, quando ouvi um som esquisito, ao virar para trás, vi a Dani deitada no chão, toda ensanguentada e com os membros em posições humanamente impossíveis.

A cena era tão feia que a Iolanda virou de costas e o Tião cobriu a boca com as mãos. Sem demora, corri na direção dela e comecei a fazer o meu trabalho. Eu já tinha curado cortes pequenos, fraturas simples e algumas outras enfermidades banais, mas essa era a situação mais difícil que eu já tinha lidado. Além de se tratar de lesões graves, ainda era a minha irmã e eu não podia correr o risco de fazer nada errado.

Apesar das mãos trêmulas, eu estava fazendo um bom trabalho e aos poucos, as várias feridas e ossos quebrados dela foram se curando. Comecei pelo rosto dela e fui descendo pelo tronco, onde o estrago foi maior e necessitou de todo o meu esforço. Quando cheguei às pernas, eu não aguentava mais. Além do cansaço, sentia tonturas e náuseas. Eu acho que nunca tinha me esforçado desse jeito.

– A gente precisa sair daqui – disse o Joca, tocando no meu ombro.

– Não até eu curar a Dani – respondi.

– Você não vai aguentar mais, Mag. – Argumentou o Tavinho, ajeitando os óculos. – Ela já não corre risco.

– Mas a perna dela ainda está muito feia. – Insisti.

– Mas se os guardas acordarem, daí a nossa situação vai ficar ainda pior.

– Eles estão certos. Vamos sair daqui e procurar ajuda. – A Nice, que se manteve em silêncio durante todo esse tempo, finalmente se pronunciou.

O Joca pegou a Dani no colo e o Tião e a Iolanda me ajudaram a levantar, porque eu me sentia muito fraca. O Tavinho não saía do lado da minha irmã e lembro de ter sorrido antes de desmaiar.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now