Capítulo CXVII - ZECA

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Ele ainda está sem entender porque a Malu está esquisita e aceitou ouvir o médico.

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Assim como todas as pessoas normais do mundo, eu detestava as segundas pela manhã. Ainda mais, depois de ter demorado mais do que o previsto para pegar no sono. Mais do que telepatia ou essas coisas com a mente que ela fazia, o verdadeiro dom da Malu era tirar o meu sono.

Levantei sem delongas e, após um banho rápido, fui até a cozinha para buscar nosso café da manhã. Quando voltei para o quarto, notei que ela já estava acordada, mesmo que estivesse virada para a parede, fingindo que estava dormindo.

– Eu sei que você está acordada, Malu – disse, sentando-me na beirada da sua cama. – O que você tem?

– Eu não tenho nada – respondeu, sem se virar para mim.

– Pelo menos olha pra mim – ralhei, zangado.

– Por que você não me deixa dormir em paz? – tornou, grosseira, finalmente me encarando.

– Porque você está escondendo alguma coisa e eu não sei porque diabos não quer confiar em mim. Puxa! Eu já não te dei um milhão de provas de que eu faço de tudo por você? – indaguei, em tom muito mais brando do que antes.

Ela sentou-se, finalmente, apoiando as costas na cabeceira da cama e ficou me encarando, impassível.

Não sei se foi a pressão, a culpa ou qualquer outra coisa, mas de repente, ela começou a chorar. E não foi um chorinho qualquer não. Foi uma choradeira desesperada, cheia de lágrimas pesadas e soluços. E eu não entendi nada.

– Eu... Desculpa... – tentei.

– Eu sou filha daquele monstro – admitiu, entre soluços. – Eu não queria te contar, mas eu não aguento mentir pra você.

Fiquei parado, olhando para ela por vários minutos, tentando entender qual o sentido da sua frase. Só depois de muito tempo que a ficha caiu de verdade.

– Foi por isso que eu não deixei vocês irem embora ontem à noite – continuou. O desespero presente em sua voz. – Porque ele me ameaçou. Ele disse que ia contar para vocês que eu sou filha dele, mas eu jurei para o Bruno que nós nunca iríamos contar isso para ninguém.

Apesar de não querer acreditar naquilo, até que fazia bastante sentido. Se ela era da segunda geração, isso significava que ela era filha de cobaias, e eu já sabia que o médico adquiriu a telepatia dele através dos experimentos.

– Cada vez que eu lembro disso eu tenho vontade de morrer – grunhiu, com raiva. – Eu sou filha do nosso maior inimigo.

Pelo menos, para uma coisa essa revelação serviu. Eu finalmente entendi que o amor que eu sentia pela Malu era muito, muito maior do que o ódio que sentia por aquele médico.

– Fala alguma coisa, Zeca! – exclamou, desesperada. – Você quer que eu vá embora daqui? Se quiser, eu vou entender porque...

Interrompi-a com um beijo rápido, que estava com gosto de lágrimas. De onde ela tirou uma ideia dessas? Ainda mais, ela estando naquele desespero todo.

– Entende uma coisa, Malu. Eu te amo – disse, quando nos afastamos, segurando o seu queixo. – O fato de aquele cara ser o seu pai, não muda nada e você deveria saber disso. Esses meses que eu passei longe de você, foram os piores da minha vida e eu não vou deixar que uma besteira afaste a gente. Eu já cometi esse erro uma vez e não vou cometê-lo novamente.

Com uma postura muito menos tensa do que antes, ela sorriu.

– Eu não consegui dormir a noite toda, pensando no que você diria quando descobrisse. Eu estava apavorada com a ideia de você não me querer mais por causa daquele monstro – tornou, parecendo mais calma do que antes.

Ela segurou o meu rosto e me devolveu o beijo, mas esse foi bem mais longo que o primeiro.

– Eu preciso ir para o trabalho – disse, com os lábios ainda colados nos dela.

Ela concordou com um sorriso e eu fui para o trabalho me sentindo toneladas mais leve.    

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O casal mais complicado da história resolveu mais uma treta \o/

Obrigada <3

Beijão e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now