Capítulo CXX - MALU

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Apesar de saber que meu cárcere era uma medida de segurança, era muito entediante ficar presa nesse quarto o dia inteiro, sem poder fazer qualquer barulho e rezando para que a Dona Gorete não resolvesse dar as caras, coisa que ela fazia às vezes, quando eu ainda era uma inquilina dela. O Zeca passava o dia inteiro fora, conversando com pessoas no trabalho e no curso, enquanto eu ficava calada aqui. Quando ele chegava, tarde da noite, eu estava desesperada pela sua companhia.

– Como passou o dia? – indagou ele, após fechar a porta atrás de si.

Ele usava jeans e camiseta e, apesar da aparência cansada, estava mais lindo do que nunca.

– Assistindo TV, dormindo e me sentindo uma completa inútil – respondi, tentando não demonstrar toda a minha frustração. – E você?

Ele deixou a bolsa sobre a cômoda e sentou-se na beirada da cama onde eu estava deitada.

– Nós já conversamos sobre isso – começou.

– Eu sei, Zeca. Eu sei que isso é para o meu bem, mas é muito chato – respondi, trocando mais uma vez de canal. – Eu passo o dia inteiro esperando você entrar por essa porta para acabar com o meu tédio.

Ele tirou o controle remoto da minha mão e desligou a TV, então me puxou para que eu sentasse ao seu lado.

– O que você está fazendo? – perguntei, achando graça da sua atitude mandona.

– Acabando com o seu tédio, oras.

Ele segurou a minha nuca e me puxou para um beijo intenso. Como fui surpreendida, demorei um pouquinho para conseguir retribuir com o mesmo vigor. Geralmente ele chegava em casa cansado demais e quase não me dava atenção e por isso sua atitude me pegou de surpresa. Quando finalmente consegui acompanhar o seu ritmo, lembrei-me de um detalhe que tinha me incomodado o dia inteiro, por isso o afastei apressada.

– Eu também te amo – disse. Ao notar sua expressão esquisita, continuei – Hoje de manhã você disse que me ama, mas eu estava apavorada com a ideia de que talvez você fosse me mandar embora, por isso acabei esquecendo de dizer que eu também te amo.

– Desculpa frustrar a sua declaração, mas eu já sabia disso – respondeu, fazendo graça.

– Já sabia, é? – tornei, erguendo uma sobrancelha.

– Já. – Ele ostentava um sorriso presunçoso. – Mas eu adorei ouvir isso da sua boca. Se quiser, pode repetir mais vezes.

Sem conseguir conter um sorriso, segurei seu rosto e tornei a beijá-lo. Eu era completamente apaixonada pelo seu beijo, pelo seu cheiro, pelo seu toque, pelo seu jeito meio paranoico de querer me proteger, até pelo seu mau humor matinal. Tudo nele fazia meu coração bater descompassado e essa era uma sensação tão boa que eu temia perder a memória novamente e esquecer como é se sentir assim.

Infelizmente nosso momento foi atrapalhado por batidas incessantes na porta. Completamente apavorada, empurrei-o com força e corri para debaixo da cama, enquanto o Zeca foi atender a porta, tentando camuflar sua expressão de susto.

Usando minha telepatia, antes mesmo que a porta fosse aberta, percebi que quem estava ali não era a Dona Gorete. Era a Nice.

– Oi, Zeca – disse ela. – Eu posso entrar?

– Não pode – respondeu, sisudo, fechando a porta imediatamente.

– Então eu vou ter que contar para a Dona Gorete que você está abrigando uma inquilina ilegal aqui? – indagou, em voz baixa, através da porta fechada. – Puxa! Ela vai ficar mega decepcionada quando souber que o inquilino exemplar dela é uma fraude.

O Zeca abriu a porta rapidamente e eu resolvi sair debaixo da cama. Ela já sabia da minha presença mesmo. Não tínhamos nada a perder.

Ela entrou no quarto e se sentou na cama. Por um breve momento, lembrei-me das nossas reuniões as escondidas, quando a situação era completamente diferente. Na época eu era a moradora do quarto e o Zeca era o intruso.

– Olha só... eu só usei a ameaça porque eu sei que é a única forma de fazer vocês me ouvirem – começou, pouco a vontade. – Eu gostaria de pedir perdão pelas coisas que eu fiz. Por mais que eu quisesse salvar a Flávia, nada justifica a maneira como as coisas terminaram.

– Você não acha que é um pouco tarde pra isso? – indagou o Zeca, com a cara fechada. Ele nem parecia o mesmo Zeca que estava comigo há alguns minutos.

– Eu sei que eu causei muitos danos a vocês. Só de olhar pra você, Malu, já dá pra ver que você sofreu naquele lugar e a culpa é minha. Eu entendo que vocês não perdoem por isso, mas eu preciso tirar a Flávia de lá – explicou, com a voz embargada. – Eu tenho pesadelos com ela todas as noites e eu tenho certeza que é ela tentando se comunicar comigo.

– Desculpa, Nice, mas você não é o que se pode chamar de confiável – disse, tentando manter a situação sob controle. – Por mais que eu queira acreditar na sua mudança, fica complicado.

– Eu, por exemplo, não acredito na sua boa vontade – começou o Zeca, cruzando os braços.

Aproveitei o momento em que ele discursava sobre confiança e entrei na mente dela. Eu sei que não é algo louvável, mas era um caso extremo. E ela estava falando a verdade.

– Ela não está mentindo, Zeca – anunciei. – Dessa vez ela está mesmo querendo ajudar.

– Você entrou na minha mente? – tornou, indignada, com as mãos nos ouvidos.

– Se eu tivesse feito isso da primeira vez, nada disso teria acontecido – defendi-me. – Eu detesto ficar invadindo a privacidade das pessoas, mas eu preciso ter certeza que ninguém está jogando contra desta vez, porque, na boa, Nice, eu não vou aguentar passar mais uma temporada naquele lugar.

Ela concordou de cabeça baixa, enquanto o Zeca me encarava com uma expressão esquisita. Eu sabia que ele não estava contente com a situação e eu podia compreendê-lo muito bem. Havia muito em jogo e ninguém estava disposto a colocar tudo a perder de novo. Mas tentei tranquilizá-lo. Desta vez tudo seria diferente.

– Nós te avisaremos sobre a próxima reunião – disse o Zeca, por fim.

– Que reunião?

– Em breve você vai saber – tornou, encaminhando-se até a porta e abrindo, para que a Nice fosse embora.

Sem esperar por um incentivo, ela nos deixou sozinhos novamente. Sentei na cama, atônita.

– Quando você disse ia acabar com o meu tédio, não era bem disso que você estava falando, né?

– Nem a pau!

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Mais um integrante para o grupo. O que acharam desse reencontro?

O Wattpad me deu um nó ontem com aquela atualização. Pensei que não fosse conseguir postar, mas cá estou eu. Então, para compensar, mais tarde tem mais um capítulo. 

Não esqueçam do voto e do comentário.

Beijos

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now