Capítulo CXIV - SARA

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Depois da reunião todos estão apreensivos.

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Era plena madrugada e eu não conseguia mais dormir. Olhei para o lado e vi todos os outros dormindo. Todos, menos o Tonho. Provavelmente ele tinha perdido o sono, assim como eu, e foi por isso que eu levantei em silêncio e fui atrás dele.

O Tonho sempre foi muito previsível – não que isso seja uma coisa ruim – e como eu imaginei, ele estava sentado no meio-fio, desenhando. Ou tentando desenhar, pelo menos. De longe, vi ele amassando uma folha e a jogando num montinho com várias outras folhas amassadas.

Sem dizer nada, apenas me aproximei dele e sentei ao seu lado. Peguei uma das folhas do montinho, desamassei e a li. Tratava-se de uma tirinha, como aquelas que víamos no jornal às vezes.

– Está péssimo, né? – indagou-me.

– Está boa, mas falta alguma coisa – tornei, tentando decifrar o problema.

Ele continuou rabiscando mais uma folha, enquanto eu olhava a imagem à minha frente. O desenho estava ótimo, as falas estavam legais, mas não era engraçado. Não muito, pelo menos.

– Está faltando graça. É isso – concluí. – Uma tirinha tem que ser engraçada.

– Então isso vai ter que ficar para outro dia – disse, amassando mais uma folha. – Não estou com humor para criar nada engraçado.

Sorrindo, abracei-o. Eu sabia que o Tonho estava com medo e eu concordava plenamente com ele. Os acontecimentos dessa noite foram bem assustadores.

– Eu sei que todos vocês estão certos em querer colocar esse plano em ação, mas eu estou apavorado – admitiu, ainda abraçado a mim.

– Dessa vez vai ser diferente. – Tentei animá-lo.

– Se eu não soubesse disso, eu nem teria aceitado ouvir o Zeca. Mesmo assim, eu estou sentindo um aperto no peito tão grande, que está me consumindo. – Ele se afastou de mim e me encarou. – Quando a gente tem muito a perder, é inevitável pensar assim.

– Não vai acontecer nada com a Helô – afirmei. – Eu vou cuidar dela, como eu sempre fiz.

Ele riu pela primeira vez naquela noite e eu fiquei mais aliviada por ver aquela máscara de tensão se dissipar, pelo menos por alguns instantes.

– E se acontecer alguma coisa com você?

– Daí você vai cuidar dela, oras! - respondi, como se fosse óbvio.

– Eu não estou falando da Helô, Sara. Eu estou falando de mim. Se acontecer alguma coisa com você, como eu vou ficar?

Admito que sua fala me pegou de surpresa e minha expressão deve ter deixado isso bem nítido. Eu sabia que o Tonho gostava de mim, só não sabia que era tanto assim.

Acho que era a primeira vez na minha vida que alguém demonstrava gostar de mim desse jeito. O Tião, apesar de ser meu irmão, nunca foi muito dado a demonstrações de carinho. Eu nunca duvidei dos sentimentos dele por mim, mas ele só não era muito de demonstrar. Eu também era desse jeito, porque fomos criados sem afeto nenhum. É por isso que, quando ouvi isso da boca dele, senti meus olhos lacrimejarem.

– Você está falando sério?

– Eu disse alguma coisa errada? – tornou, desconfortável.

– Não. – Sorri. – Desde que você parou de me chamar de cavalo de cabelo comprido, eu não tenho do que reclamar.

Sorrindo, ele secou minhas lágrimas e continuou:

– Todos nesse grupo são importantes para mim, mas você e a Helô... eu não sei o que faria sem vocês.

– E você não tem que se preocupar com isso – respondi. – Eu prometo que nada de ruim vai acontecer com a gente, entendeu? Nada.

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Sara é mais devagar que jegue de ré!!

Beijão e até segunda.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now