Capítulo CVIII - TONHO

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Tonho fez as pazes com a Sara e está todo faceiro.

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Eu estava tão aliviado por ter feito as pazes com a Sara, que até meus desenhos estavam melhores. Isso era bom, porque eu estava decidido a fazer o que ela estava me aconselhando há tempo. Enquanto eu rabiscava o papel atrás de algo que fosse bom o suficiente para eu mostrar para outras pessoas, vi duas pessoas virando a esquina, vindo na minha direção. Era o Zeca e a Malu.

– Quem é vivo sempre aparece. – Brinquei, aproximando-me deles.

– Eu sei que estou devendo essa visita há bastante tempo – arriscou, sem graça.

– Até a Malu veio nos visitar antes de você. E olha que ela nem lembrava quem nós somos – tornei.

– Desculpa por aquilo, Tonho – disse ela, parecendo desconfortável. – Foi um pouco constrangedor, mas foi muito importante para mim.

– Mais ainda para mim. – Riu o Zeca.

Entramos na casa e senti o Zeca hesitar um pouco. Acho que ele estava se sentindo desconfortável com a situação toda. Logo ele, que viveu aqui com a gente por tanto tempo.

– O assunto que eu vim tratar é bem sério – explicou.

Concordei com um aceno de cabeça e fui chamar os outros. Sentamo-nos na sala, em círculo, como costumávamos fazer em outros tempos.

– Acho que vocês devem imaginar o que eu vim fazer aqui – começou ele.

– Deixa eu ver se eu adivinho. Tem a ver com o hospital – arriscou a Sara, achando graça.

– Tem.

Senti um arrepio percorrer a minha espinha. Por mais que eu soubesse – mesmo que no fundo – que a visita do Zeca estava ligada ao hospital, ouvir isso da boca dele foi meio assustador.

– Você não vai me propor mais um daqueles seus planos horríveis, né? – tornei.

– Dessa vez nós não estamos sozinhos – argumentou.

– E você acha que isso muda alguma coisa? – indaguei, perdendo a paciência. – Todas as vezes que nós tentamos enfrentar eles, tudo deu errado.

– Eu concordo com você, Tonho – disse a Malu. – Todos os nossos planos foram ruins e isso nos custou muito caro. Eu sei disso melhor do que ninguém. Toda vez que eu me olho no espelho, vejo as marcas de todos os meses que eu passei sem receber uma refeição decente. Eu, mais do que ninguém, não queria ter que voltar naquele lugar.

– Então a questão está resolvida – arrisquei.

– Não está – disse o Tavinho. – Não é porque nós conseguimos fugir, que é justo deixarmos todos os outros lá.

– Isso não é problema nosso – tornei.

– Você está sendo hipócrita se pensa desse jeito – concordou a Helô. – Você não tem o direito de reclamar que o governo não liga pra gente, se você também não liga para os outros internos.

– São coisas totalmente diferentes, Helô – defendi-me. – Nós não temos obrigação nenhuma.

– Você tem razão. Nós não temos obrigação de fazer nada. Mas nós temos consciência, Tonho. O que eles fazem lá é muito errado e pessoas demais já pagaram por isso. Está na hora de darmos um basta naquilo – disse o Zeca. – E nós vamos fazer isso do jeito certo dessa vez.

Eu estava começando a perder a paciência com essa conversa. Eu não estava a fim de ceder e colocar a vida de todos em risco. Eu entendia a situação deles, mas era um preço muito a alto a se pagar.

– Qual é o plano dessa vez? – perguntou o Tião, interessado no assunto.

– Nós ainda não temos um plano e é por isso que eu quero convidar vocês para uma reunião hoje à noite, na casa de uma amiga.

– Ela sabe bem do que aquela gente é capaz e está disposta a nos ajudar – completou a Malu.

Todos ficaram se olhando por um certo tempo. Eu não queria ser o estraga prazeres a dizer que aquilo não ia dar certo, então estava esperando que alguém ajuizado fizesse isso no meu lugar. Mas é óbvio que todos pareciam deslumbrados com a ideia.

– Eu estou dentro – disse a Helô.

– Você o quê? – indaguei, alarmado. - Você ouviu o que eles acabaram de falar?

– Eu já estou dentro muito antes de você sequer imaginar que isso estava acontecendo – completou ela, dando de ombros.

– Eu e o Tavinho também – completou a Dani.

Estupefato, parei para entender o que eles tinham acabado de dizer. Não demorou até a ficha cair.

– Vocês estavam fazendo isso pelas minhas costas? – tornei, indignado.

– Viu só? E você achando que eu não ter te falado nada sobre os meus documento era o fim do mundo – zombou a Sara, revirando os olhos.

– Você não é muito receptivo a esse tipo de notícia, Tonho – disse o Joca, abrindo a boca pela primeira vez. – Eu também estou dentro.

– Eu estou fora. Totalmente fora. Essa ideia é ridícula! – exclamei, frustrado.

– Se o Joca vai, eu também vou – disse a Mag.

– Eu não vou deixar o Tavinho sozinho nessa – disse a Iolanda, sorrindo. – Podem contar comigo.

– Comigo também – disse o Tião.

Antes que eu tivesse qualquer chance de surtar, a Sara me puxou pelo braço e me levou para fora.

– Deixa de criancice e escuta. O que está acontecendo lá dentro é muito sério – começou ela, dando-me uma bronca. – É tão sério que todos já toparam, menos você. Você vai entrar lá naquela sala e vai agir feito o adulto que você é. Vai aceitar ouvir o que essas pessoas têm a dizer sobre o plano e vai ponderar a hipótese, porque é isso que adultos fazem, estamos entendidos?

Eu detestava quando a Sara assumia essa postura mandona. Para ser bem franco, ela me assustava um pouco, como daquela vez que fomos resgatar a Helô no hospital. Ela sabia meter medo como ninguém.

Concordei com um aceno de cabeça e voltamos para a sala, onde todos nos esperavam ansiosos.

– Tudo bem. Eu aceito escutar o que essas pessoas tem a dizer – rendi-me. – Mas antes, vocês vão me contar tudo o que eu não sei sobre essa história.

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Isso aí, Sara. Bota ordem nessa bodega!!

Não esqueçam do voto e dos comentários.

Beijão e bom final de semana <3

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now