Capítulo LXXXVII - TIÃO

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Agora ele precisa convencer a mulher da orquestra que é digno da vaga.

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Eu quase não acreditei quando vi a Malu entrando na nossa casa. Primeiro eu fiquei estupefato. Depois, envergonhado pela forma que eu a tratara por causa da Iolanda. Eu estava tão disposto a protegê-la, que não medi esforços para lhe mostrar o quão infeliz eu estava com a sua presença. Eu fui muito idiota.

Tentei me manter afastado, pois eu estava morrendo de vergonha, mas é claro que a Sara e a sua nova postura de 'somos todos amigos' não ia deixar isso quieto.


– Você não quer falar nada pra ela, Tião? – indagou-me na frente do grupo.


Droga! Senti meu rosto pegar fogo, mas já estava feito.


– Eu não sei se você se lembra, mas eu fui um imbecil com você – comecei, tentando encontrar as palavras que insistiam em sumir. – Quando sua memória voltar, você vai se lembrar. Então eu queria me desculpar por isso.

Todos olhavam pra mim, o que só fez minha vergonha aumentar e aumentar. Minhas orelhas estavam queimando também. Então, aproveitei que eu já fizera o que tinha que fazer e saí dali o mais rápido que pude.

*

Fui até a calçada onde fiquei tocando meu violão o restante da manhã. À tarde eu encontraria a mulher e precisava lhe impressionar, por isso, quanto mais tempo eu praticasse, maior a chance de ela me dar aquela bolsa.

Aproveitei que todos estavam entretidos demais com a Malu e saí sem ser notado. Como a mulher já percebera que eu era uma farsa, dessa vez nem perdi tempo invadindo casas e roubando roupas, apenas peguei um ônibus com o troco que ela me deixara no dia anterior, pois carregar esse violão até lá me faria correr o risco de ele se quebrar ainda mais.

Assim que sentei na escadaria do prédio, comecei a tocar algumas músicas, apenas para aquecer. O violão ficava desafinando o tempo todo, o que dificultava a situação, mas ainda assim eu já estava habituado a ter que me virar para fazer um som decente sair dele. Algumas pessoas que passavam na rua devem ter sentido pena do pobre rapaz maltrapilho que tocava violão em frente ao prédio da secretaria de cultura, pois deixaram algumas moedas para mim. Não que eu esteja reclamando, é claro.

O sol ainda estava bem alto quando eu cheguei. Só notei quanto tempo se passara quando notei que o sol estava começando a se por. Ela me dera o cano. É claro que isso iria acontecer. No fundo eu sempre soube que aquilo era pura ilusão. Levantei-me sentindo toda a vergonha e a decepção me consumirem e dei uma última olhada naquele prédio imponente. Foi quando vi a mulher no alto da escadaria, acompanhada dos outros jurados do dia anterior. Eles me olhavam, enquanto conversavam entre si. Sem saber o que fazer, permaneci estático.

– Suba aqui, Sebastião – disse a mulher, em voz alta.

Obedeci imediatamente, colocando o violão sobre o ombro. Subi degrau por degrau, numa luta incansável entre a esperança de que desse certo e a decepção, caso não desse.

– Esse garoto é um talento nato! – explicava aos outros, com veemência. – Caso não tenham percebido, ele aprendeu tudo o que sabe sozinho, sem ter nenhuma ajuda além desse violão precário.

– Mas você sabe que não podemos abrir exceções – argumentou a outra mulher. – Se abrirmos vagas para todos que quiserem, a secretaria não concordaria com os gastos e você sabe o que acontece quando a secretaria não concorda.

– Não podemos abrir as minhas exceções, não é, Angélica? Porque eu me lembro bem que no ano passado nós abrimos exceções para você e para o Franco – insistiu a mulher. – E aquelas garotas não eram nem de longe tão boas quanto o Sebastião aqui.

A tal Angélica me fuzilou com os olhos, enquanto o Franco apenas deu de ombros.

– Tudo bem, Inês - concordou a Angélica, dando-se por vencida. – Eu darei o meu parecer favorável.

Então ela e o Franco saíram, deixando-me a sós com a Inês.

– Você viu como foi difícil convencê-los, então, se o conselho aprovar a sua bolsa, faça por merecer a confiança que eu depositei em você, está entendendo? – disse, cansada.

Concordei com um aceno de cabeça.

– O resultava sairá dentro de uma semana e ficará exposto aqui no mural.

– Obrigado, Inês. Não sei nem o que dizer – comecei.

– Não diga nada – interrompeu-me. – Apenas dê o seu melhor.

E com um sorriso fraco, ela foi embora.

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Mais uma etapa vencida. \o/

Antes tarde que mais tarde ;)

Beijos e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin