Capítulo LV - ZECA

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Zeca e Helô presenciaram a treta entre a Fernanda e a tia e agora elas vão explicar o motivo.

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– Essa é a minha tia Suzana – começou a Fernanda.

Estávamos sentados naquela mesma mesa de antes e todos pareciam mais calmos – especialmente a Suzana. Devido ao pequeno escândalo de alguns minutos atrás, algumas pessoas ficavam nos encarando com certa estranheza, mas nunca ligamos para julgamentos alheios mesmo.

– Quando eu me mudei para cá para começar a faculdade, minha mãe fez ela jurar que não ia deixar que eu me metesse em confusão. Isso aconteceu por dois motivos: o primeiro é que eu tenho uma atração desumana por confusões, o segundo é porque nossa família teve certos problemas devido ao hospital.

– Problemas? Que tipo de problemas? – indagou a Helô, tão curiosa quanto eu nessa história.

– Minha melhor amiga morreu tentando proteger uma vítima dos experimentos desse hospital – explicou a Suzana, intrometendo-se na explicação da sobrinha. – Temendo que sobrasse para mim também, minha irmã me levou para morar com ela, a quilômetros daqui e depois de muito tempo, eu voltei. Isso aconteceu há quase quinze anos, mas serviu para que eu entendesse que esse lugar é perigoso demais. Especialmente para três adolescentes como vocês.

– Desculpa a franqueza, Suzana, mas nós sabemos o que estamos fazendo – disse, convicto.

– Você ouviu o que eu disse, garoto? – insistiu. – Eles mataram uma pessoa inocente, só porque ela estava escondendo uma cobaia. Essa mulher tinha filho e eles não hesitaram em tirar a vida dela. Por que você acha que seria diferente com você?

– Eu não acho que comigo as coisas serão diferentes. Mas existem pessoas importantes lá dentro, que precisam da nossa ajuda.

– Nós não podemos deixá-los lá – argumentou a Helô. - Essas pessoas são inocentes e também são vítimas desse hospital maldito.

– Meu plano inicial era reunir o máximo de provas para tentar fazer uma denúncia contra eles – explicou a Fernanda.

– E você realmente acredita que as autoridades não sabem o que se passa lá dentro? Não seja ingênua, Nanda. Nosso governo só não faliu de vez, porque o hospital o subsidia com migalhas em troca de vista grossa. A única forma de destruir esse lugar é conseguir uma confissão e levar a uma organização internacional.

– Então é por isso que ninguém se preocupa em contestar o que eles fazem lá dentro? – indaguei, perplexo.

– A população não imagina o que acontece lá. E se você tentar abrir os olhos delas, vai ser chamado de louco, conspiracionista e exagerado. Experiência própria, garoto.

Eu já tinha me indagado se as pessoas dessa cidade eram muito cegas ou muito hipócritas para nunca terem ligado para o que acontecia naquele lugar. Para a minha sorte, tratava-se da primeira alternativa.

– Então você está sugerindo que a gente desista, tia? – indagou a Fernanda, nitidamente decepcionada.

A Suzana respirou fundo e esfregou o rosto com as mãos. Ela parecia cansada.

– Eu queria muito que você simplesmente desistisse, mas eu te conheço, Nanda. E vocês devem ser tão teimosos quanto ela, para terem vindo até aqui – falou, apontando para mim e para a Helô. - Mas eu entendo a luta de vocês e não acho que seja uma causa perdida. Por isso, podem contar com a minha ajuda.

Encaramo-nos boquiabertos com tamanha mudança de atitude da Suzana.

– Mas para isso dar certo, vocês vão ter que fazer isso do meu jeito – continuou, autoritária. – E a primeira coisa que vocês vão fazer é voltar para casa e esquecer essa loucura.

Eu não sabia o que pensar. Por mais que eu quisesse dar continuidade no plano, tudo o que ela dizia parecia muito plausível. Nossos planos sempre fracassaram e tinha que haver um motivo para isso. Talvez ela fosse a peça que faltava.

– Tudo bem – concordei.

– Como assim? – indagaram a Helô e a Fernanda, boquiabertas.

– Ela tem razão – admiti. – Pela primeira vez nós temos a chance de fazer isso do jeito certo.

– E a Malu? – insistiu a Helô, numa clara tentativa de me convencer, sabendo que ela era meu ponto fraco.

Eu estava me sentindo um monstro, mas infelizmente isso era necessário. Nosso plano era cheio de falhas demais. E se ao invés de sair de lá com a Malu, simplesmente ficássemos presos lá, como já tinha acontecido outras vezes?

– Vai ter que esperar mais alguns dias – respondi, por fim.

– Ótimo – suspirou, parecendo aliviada. – Precisamos nos reunir para termos uma conversa séria sobre tudo isso. Depois a Nanda passa o meu endereço para vocês.

E sem se despedir, ela foi embora dali.

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Eitaaaa! Mais uma mudança de planos.

Não esqueçam do voto e do comentário.

Beijinho e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora