Capítulo LXXVII - MALU

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Malu continua sem memória.

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Meus dias eram um compilado de tédio e televisão, o que no final das contas são quase sinônimos. Do momento em que o Zeca deixava o quarto para ir trabalhar, até quando ele retornava tarde da noite, eu assistia TV e me sentia entediada. Era melhor do que o hospital, já que ele deixava comida para mim dentro dos armários.

Quando ele entrou, um pouco depois da dez da noite, senti-me aliviada – mesmo que não admitisse isso nem sob pena de morte. Finalmente eu teria alguém para conversar, nem que fosse só por pouco tempo.

– Vista uma roupa que nós vamos sair – disse, assim que colocou a bolsa sobre a cômoda, como de costume.

Eu usava só uma de suas camisetas, já que não tinha nenhuma roupa que me servisse melhor. Ele jogou uma calça de moletom e uma jaqueta e vesti na sua frente mesmo, já que a camiseta era tão grande que me servia como um vestido.

– E aquela história sobre eu não poder ser vista? – zombei.

– Quer ficar em casa? – devolveu, erguendo uma sobrancelha.

– Onde nós vamos? – perguntei, ignorando sua pergunta.

– Fazer um favor para uma amiga.

Com a habilidade do Zeca, não era necessário pular a janela. Apenas atravessamos a parede e pronto.

– Eu também fazia essas coisas? – perguntei, enquanto andávamos pela rua escura.

– Você conseguia ler mentes e persuadir as pessoas a fazer o que você quisesse – explicou.

– Não me parece uma coisa muito íntegra, não é? – Ri.

– Não é, mas você não é esse tipo de pessoa, Malu. Uma vez eu cheguei a pensar que você fosse, mas eu estava enganado.

– Isso foi antes ou depois de nós começarmos a namorar? – perguntei.

Eu estava muito curiosa sobre esse assunto e pensei que na noite passada poderíamos conversar sobre esse assunto. Foi por isso que sua saída me frustrou tanto.

Ele coçou a nuca, indicando que esse não era um assunto que ele gostava muito de abordar. Ainda assim, ele foi atencioso comigo,

– Foi antes. Você fez uma escolha e eu não concordei com ela. Graças a isso, eu fui um grande idiota com você. Até hoje não sei como você conseguiu me perdoar.

– E por que nós dois terminamos?

Mesmo sabendo que esse interrogatório incomodava o Zeca, eu não conseguia parar. Eram cacos da minha vida, que eu precisava juntar para poder ter uma historia. Mesmo que fosse a minha vida contada por outra pessoa.

– Nós não terminamos. Você só esqueceu quem eu era – sorriu, triste.

Concordei e resolvi ficar em silêncio. Acho que já tínhamos conversado o bastante sobre assuntos incômodos. Não demorou muito até chegarmos ao tal lugar que o Zeca não quis me dizer. Assim que vi o lugar, senti uma pontada na minha cabeça e não consegui evitar um gemido alto.

– O que foi?

Levei as mãos a cabeça e sentei no chão, sentindo minha cabeça latejar. Eu já estivera nesse lugar, junto com o Zeca, o rapaz do hospital – que por mais que ele insistisse que se tratava do meu irmão, eu não conseguia botar fé – e uma das garotas que estivera buscando o Zeca na noite anterior. Por mais que estivesse doendo, forcei minha cabeça por mais lembranças, mas foi inútil. O Zeca sentou-se ao meu lado, preocupado e insistindo para que eu lhe contasse o que estava acontecendo.

– Nós já estivemos aqui – disse, por fim. – Eu lembro.

– Você lembrou de tudo? – indagou, arregalado.

– Não. Só lembrei que eu já estive aqui com você, com o rapaz do hospital e com a garota de ontem.

– O Bruno e a Helô – suspirou. – Sim. Já estivemos aqui uma vez.

Tornei a abaixar a minha cabeça até que a dor parasse, o que levou alguns minutos. Por fim entramos lá e pegamos os documentos de dois amigos do Zeca, Sebastião e Sara Bezerra. Depois disso voltamos para casa, sem tocar no assunto da minha memória repentina.

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Olha só! A memória da Malu dando sinais.

Não esqueçam do voto e do comentário. 

Beijo

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now