Capítulo CXIX - JOCA

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Ele finalmente descobriu onde o Túlio está e vai encontrá-lo.

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Depois de quase ter um treco esperando pelo momento certo, cá estava eu, em frente à escola técnica. Pela quantidade de alunos que saíam pelo portão, estava óbvio que a aula já tinha acabado.

Eu e a Mag estávamos do outro lado da rua, observando de longe. Cada vez que eu percebia que o rapaz que eu estava encarando não era ele, sentia meu coração dar uma vacilada. Depois de cinco ou seis vezes eu já tinha até gravado a sequência. Surpreso, meu coração dava um rodopio no meu peito, para depois sossegar e vir a frustração.

Eu ficava repetindo pra mim mesmo que isso não interferiria em nada. Eu já tinha passado tanto tempo longe dele, que talvez nem gostássemos mais um do outro. É claro que eu sabia que isso era só minha cabeça tentando me preparar para mais uma decepção.

Enquanto eu travava essa briga interna, vi ele saindo pelo portão. No momento que bati os olhos nele, já o reconheci na hora. Ele não tinha mudado nada.

– É ele! – disse, quase num sussurro.

– Você tem certeza? Faz bastante tempo que você não o vê – argumentou a Mag.

– Eu reconheceria ele, mesmo depois de duzentos anos.

– Depois de duzentos anos ele seria um monte de ossos, Joca – disse, em tom de deboche.

Revirando os olhos, virei as costas para ela e segui em direção ao Túlio. Eu precisei me segurar para não sair correndo e assustar o coitado, mas também não consegui seguir andando devagar. Eu já esperara tanto tempo que não conseguiria aguardar nem mais um minuto.

Finalmente cheguei perto dele. Eu passei tanto tempo idealizando esse momento que, quando ele aconteceu, eu não sabia o que dizer. Fiquei olhando para ele com cara de bocó.

– Posso te ajudar em alguma coisa? – perguntou ele, assustado.

Continuei parado feito um idiota, sem saber o que falar.

– Ei, espera aí! Eu te conheço. – Sorriu. – Deixa eu ver se eu adivinho. Você já estudou comigo? Será que foi lá na...

– Sou eu, Túlio – arrisquei.

Ele cerrou os olhos, como se isso o ajudasse a me enxergar melhor, não sei quanto tempo passamos nos encarando, mas para mim pareceu uma eternidade.

– Joca... é você? – arriscou, perplexo.

Concordei com um aceno de cabeça, mas sem saber o que dizer. Puxa! Isso estava sendo muito pior do que eu imaginava.

– Caramba! Eu sabia que esse dia ia chegar – tornou, dando-me um abraço apertado.

Não me fiz de rogado e retribuí o abraço. Ah, como eu tinha sonhado com esse abraço. Senti algumas lágrimas brotando, por mais que eu não quisesse demonstrar fraqueza. Ao notar que ele também estava chorando, a coisa saiu do meu controle e chorei igual a uma criança.

Depois de muito tempo a Mag finalmente apareceu. Eu não tinha certeza de quanto tempo tinha se passado, mas ela soube esperar até tudo se acalmar, o que eu achei bem digno da parte dela. Eu não sei como eu agiria se ela me visse chorando daquele jeito.

– Essa daqui é a Mag, minha amiga que me ajudou a te encontrar.

– Oi, Mag – disse, puxando-a para um abraço. – Se você ajudou o Joca a me encontrar, então eu só tenho que te agradecer.

Tive a impressão de que a Mag nunca tinha recebido um abraço antes, porque ela ficou vermelha igual a um pimentão e parecia mais desconfortável do que nunca.

– E então? Vamos almoçar lá em casa? – perguntou ele, finalmente. – Meus pais vão adorar te conhecer.

Eu não era o tipo de visita que a família dele adoraria conhecer. Isso era fato.

– Acho melhor não – disse. – Eu tenho umas coisas para fazer e...

– Eu quero saber tudo o que aconteceu com você nesses anos todos, cara. Se você não quiser ir na minha casa, tudo bem, mas nós vamos sentar em algum lugar e você vai me explicar tudo.

Sem esperar pela minha resposta, ele seguiu até um telefone público e ligou para os pais, explicando que passaria a tarde com uns amigos e que só chegaria à noite.

– Vamos lá. Temos muito que conversar.

*

O Túlio era o meu irmão e nada mais justo do que lhe contar toda a verdade. Desde quando eu fugi do orfanato, passando pela minha estadia forçada no hospital e finalizando no grupo. Ele ouvia tudo, boquiaberto.

– Você está falando do mesmo hospital que eu? – indagou, quando acabei meu relato.

– Acho que é o único hospital da cidade – confirmei.

– Eu não estou querendo duvidar de vocês, mas eu já visitei esse hospital. Eu estou fazendo curso técnico em radiologia e eu estive lá durante todo o estágio – continuou, cético.

– Eu sei que parece lorota, mas é verdade, Túlio. E eu posso te provar. Eu não, a Mag – tornei.

– Eu? O que eu tenho a ver com essa história? - indagou, envergonhada.

A Mag não tinha aberto a boca durante todo esse tempo, o que era estranho. Antes de nos conhecermos de verdade, ela fazia o tipo quieta, mas depois de tudo o que passamos, ela até que era bem tagarela às vezes.

– Tem tudo a ver, oras! Foi você quem quis vir atrás de mim naquele dia, então faça o favor de me ajudar – ralhei, impaciente. Então me virei para o Túlio – Você tem algum machucado?

– Tenho – respondeu, erguendo uma sobrancelha. – Esse corte no dedo. A faca não tinha fio para cortar a cebola, já no meu dedo ela parecia bem afiada.

Ele levantou o dedão, que ostentava um pequeno corte na lateral. Não era nada grave, mas serviria para o meu propósito.

Morrendo de vergonha, a Mag segurou o dedo dele entre suas mãos e fechou os olhos. Parecia que nada estava acontecendo, mas quando ela abriu as mãos, não havia mais nenhum corte.

– Caramba! – exclamou ele, pasmo, tocando no antigo ferimento. – Isso aqui é... Você também faz essas coisas, Joca?

– Eu controlo eletricidade. Agora você acredita em mim?

– Depois do que eu acabei de ver, só se eu fosse idiota para não acreditar! – exclamou, animado. – Essa é a coisa mais incrível que eu já vi na vida!

Não contive um sorriso.

– Já está anoitecendo e eu preciso ir pra casa, senão minha mãe arranca o meu couro – começou, chateado. – Mas se vocês puderem aparecer amanhã, eu vou ficar muito feliz. Eu já ouvi tudo o que você viveu nesses anos, mas você não sabe nada sobre a minha vida.

– Claro. – Sorri, meio abobalhado. – Amanhã estaremos aqui.

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O reencontro do ano finalmente aconteceu!!! \o/ \o/ \o/

Não esqueçam o voto e os comentários, amores <3<3

Beijão e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now