Capítulo CLXV - BRUNO

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A única coisa nítida naquele instante era um cheiro de fumaça muito forte. O restante não passava de um monte de borrões distorcidos e vozes distantes. Quanto mais forte ficava o cheiro da fumaça, mais evidente ficavam as vozes e os borrões e, quando finalmente compreendi que os gritos vinham da Malu, que estava sendo estrangulada por mim, afastei-me dela imediatamente.

– Eu não tive culpa – disse para mim mesmo. – Eu juro que eu não tive culpa.

Ela tossia sem parar e eu não tinha certeza se era pela fumaça ou pelo que eu acabara de fazer. Minhas mãos tremiam sem parar e eu não sabia se corria até ela para saber se ela estava bem ou se sumia da sua frente para sempre.

Aquela mulher parecia assustada, fitando o fogo que consumia a porta sem dó. Pelo menos as chamas pareciam ter chamado sua atenção a ponto de esquecer completamente de nós dois.

– Eu não consigo respirar – disse a Malu, entre tossidos desesperados.

Corri até ela, mesmo que estivesse me sentindo péssimo.

– Eu não queria ter feito aquilo – expliquei, enquanto me ajoelhava ao seu lado. – Eu jamais te machucaria, Malu.

– Relaxa, Bruno. Eu nunca te culparia. Eu sei que é culpa dessa bruxa.

A esta altura o fogo já consumia toda a parede e eu não fazia a menor ideia de como tiraria a Malu dali de dentro, especialmente depois que ela desmaiou. Para a minha sorte o Zeca atravessou a parede naquele instante.

– Me ajuda a tirar ela daqui – pedi, já segurando ela no colo.

Ele me olhou preocupado, mas segurou meu braço e, juntos, atravessamos a parede e o fogo, deixando aquela mulher para trás.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now