Capítulo CIII - SARA

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Sara e Tonho ainda estão brigados.

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Fazia muito frio naquela noite. O céu estava encoberto e não havia nenhuma estrela brilhando no céu. Em plena madrugada eu estava sozinha, sentada no meio fio, esperando que o aperto no meu peito passasse. Ou, simplesmente, que o sono aparecesse para que eu pudesse dormir e esquecer por alguns minutos essa droga de culpa que insistia em me assolar.

Uma parte de mim insistia que eu estava certa e que era o Tonho quem deveria estar se sentindo um lixo. O problema era aquela parte que dizia que eu deveria ter contado pra ele, mesmo sabendo que ele tentaria a todo custo me desincentivar. Será que eu estava ficando louca?

Ouvi a porta sendo aberta e passos vindo na minha direção. Nem me dei ao trabalho de me virar para ver quem era. Eu já sabia que era o Tonho.

Apoiei a testa sobre os joelhos e permaneci em silêncio. Tudo o que eu queria era sumir e não precisar ter essa conversa com ele. Puxa! Eu era muito mais medrosa do que eu imaginava.

Ao mesmo tempo em que eu não queria ter aquela droga de conversa, eu também não queria fugir. Qualquer uma das situações me pareciam embaraçosas demais, por isso me mantive de cabeça baixa por muito, muito tempo. Tanto tempo, que cheguei a levantar a cabeça só para me certificar de que ele ainda estava ali. Para o meu azar, ele estava.

Ele encarava o muro do vizinho, como se aquilo fosse muito interessante. Acho que no fundo ele só estava evitando essa conversa tanto quanto eu e me senti um pouco melhor em saber que eu não era a única medrosa.

Quando o silêncio já estava sufocante, levantei da calçada e segui em direção à porta. Mesmo ouvindo seus passos atrás de mim, segui em frente. Cheguei a segurar na maçaneta da porta, mas ele puxou meu braço, impedindo-me de abri-la e, antes que eu tivesse chance de mandá-lo para o inferno, ele me colocou contra a parede e me beijou. Assim. Sem mais nem menos.

Dividida entre o alívio, por saber que ele não estava mais zangado comigo, e a raiva, por ele ter deixado eu me sentir feito um lixo por dias, permaneci imóvel. Até cheguei a corresponder por alguns segundos, mas logo o empurrei com força.

– Qual é a graça em fazer isso comigo?! – esbravejei, com raiva.

– Não tem graça nenhuma, Sara – explicou. – Eu só acho que essa briga é tão ridícula perto do que eu sinto por você, que é melhor fingir que ela nunca existiu.

Admito que fiquei sem palavras por um instante. Mas não demorou nada para elas voltarem.

– Desde que eu descobri que eu gosto de você, eu pensei que se nós ficássemos juntos, tudo estaria bem. Mas desde essa briga idiota, eu venho me sentindo péssima. E na boa, Tonho, se for pra ficarmos juntos para eu me sentir desse jeito, eu não sei se essa é a melhor decisão.

Primeiro ele me encarou arregalado. Depois ergueu uma sobrancelha. Então caiu na gargalhada, como se eu fosse motivo de piadas. Cheguei a fechar o punho, pronta pra lhe dar um belo soco na barriga.

– E o Zeca ainda teve a pachorra de dizer que eu sou dramático! – disse, entre risos. – Ah, se ele te visse agora...

– O que o Zeca tem a ver com isso tudo?

Ele segurou a minha mão e me levou até a calçada novamente.

– Eu fui conversar com o Zeca sobre o que aconteceu. Eu fiquei muito chateado e pensei que conversar com ele pudesse ajudar de alguma maneira – começou, encarando o chão. – Para a minha sorte, a conversa ajudou muito e ele me fez enxergar que eu estava errado, Sara.

Fiquei muda. Não era normal ver o Tonho assumindo que estava errado. Muito mais anormal era o Tonho assumindo que estava errado depois de ter uma conversa com o Zeca. Especialmente depois que ele deixou o grupo.

– Eu sei que eu tenho sido pessimista pra caramba...

– Isso pra dizer o mínimo – completei.

– É. E eu comecei a pensar no motivo disso, mesmo sabendo que eu estou errado. Por que eu preferiria essa vida incerta e medíocre ao invés de ter uma vida digna? Isso simplesmente não fazia sentido e depois de muito pensar, cheguei à conclusão que eu fiz tudo isso porque eu sou um baita de um medroso.

– Como assim?

– Eu tenho medo que o grupo acabe de vez, Sara. Vocês são a única família que eu tenho desde que eu perdi meus pais com seis anos! E se cada um tomar um rumo e nós nunca mais nos vermos? Olha só para o Zeca.

– Você está falando sério? – indaguei, perplexa.

Ainda encarando o chão, ele concordou.

– Você sempre teve razão quando me chamou de medroso – sorriu, mas de uma forma triste. – Você me desculpa?

– Só se você me desculpar por ter mentido pra você – tornei. – E não importa o que aconteça, nós nunca vamos nos separar, entendeu?

Um abraço bem apertado selou a paz entre nós e eu esperava que ela durasse para sempre.

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Chega de briga entre esses dois, né? 

Capítulo especial em comemoração ao prêmio <3 <3

Beijão e até amanhã (agora de verdade, viu?)

As Últimas Cobaias - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora