Capítulo XVIII - BRUNO

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Bruno tentou barganhar uma visita a Malu em troca da sua colaboração.

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Aquela conversa com o médico me deixara apreensivo e com uma pontinha de esperança. Se ele cumprisse a sua parte do combinado, eu cumpriria a minha e faria tudo como manda o figurino.

Depois de horas sem saber o que fazer, um dos enfermeiros entrou na minha sala e me levou dali. Sem entender nada, apenas o segui. Quando ele parou em frente a porta da Malu e a destrancou, senti meu coração dar um salto. Eu finalmente ia vê-la.

- Você tem dez minutos – disse, enquanto me fechava dentro do quarto. - Não faça nenhuma gracinha.

Lá estava ela, sentada sobre a cama, com as costas apoiadas na cabeceira, abraçando as próprias pernas. Ela parecia apavorada e eu podia entender o motivo. Aproximei-me lentamente, tentando não assustá-la ainda mais.

- O que você quer? - vacilou.

- Não se preocupe. Eu não sou como eles – tentei tranquilizá-la. - Eu só quero saber se você está bem.

Segui, passo por passo, até finalmente sentar na beirada da sua cama. Por algum motivo, ela pareceu confiar em mim, pois desfez aquela posição defensiva.

Quando pude olhá-la mais de perto, foi a minha vez de ficar apavorado. Ela estava tão magra que parecia que seu corpo poderia quebrar ao menor toque. Eu podia ver ossos do seu corpo que antes eu nem sabia que existiam. Suas olheiras estavam fundas e os lábios ressecados.

- Você está horrível! - exclamei.

- Puxa! Obrigada pela parte que me toca – respondeu, sarcástica.

Sorri ao notar que uma parte da Malu ainda estava ali.

- Graças a você, eu não estou pior – tornou. - Eu sei que é você quem deixa...

- Não sei do que você está falando – disse, interrompendo-a, enquanto levava os dedos aos lábios, num pedido urgente de silêncio.

Ela arregalou os olhos, espantada. Então, antes que ela perdesse a pouca confiança depositada em mim, a puxei pelo braço para lhe mostrar o pequeno aparelho elétrico, preso ao estrado da sua cama. Sua luz vermelha intermitente mostrava que ele estava ligado, gravando cada uma de nossas palavras.

Ao compreender a minha atitude, ela pareceu ficar ainda mais assustada. Voltando a sentar-se na cama, ela permaneceu em silêncio me encarando. Eu quase conseguia ouvir sua cabeça trabalhando para entender o que estava acontecendo.

- O que está acontecendo? - perguntou tão baixo que precisei ler seus lábios para entender.

- Seu quarto tem uma visão incrível – disse, levantando da cama e seguindo até a janela.

Eu sabia que ela queria respostas, mas eu simplesmente não podia dá-las. Fiquei observando pela janela, enquanto a ouvi se aproximando de mim.

- Você é o Zeca ou o Bruno? - perguntou, ainda em voz baixa.

- Não ouse me comparar com aquele... - resmunguei

- Então você é um deles!

Não pude conter um revirar de olhos. Puxa! Ela sabia ser bem irritante quando queria.

- Eu não posso te contar – expliquei num sussurro. - Para o seu próprio bem, é melhor que você não saiba.

Revirei os olhos, sentindo muita raiva da sua teimosia, o que era compreensível. Mesmo após perder a memória, ela continuava sendo a Malu.

- Enquanto você não souber de nada disso, você estará segura.

- Eu pareço segura para você? - indagou em voz alta. O que me fez encará-la com cara feia.

- Você está complicando as coisas.

Com raiva, ela marchou até a cama e sentou-se nela, enquanto fiquei observando pela janela. Um pássaro parecia prestar atenção na nossa conversa. Eu sei que isso é loucura, mas ele não tirava os olhos de nós.

Aproximei-me ainda mais da janela, enquanto o pássaro fazia a mesma coisa. A coisa estava ficando cada vez mais estranha e então me ocorreu uma ideia meio absurda. O Zeca contara uma vez que uma das meninas do grupo dele conseguia se transmutar em animais. E se fosse ela?

Sem pensar direito, dei uma baforada na janela, deixando-a embaçada e desenhei uma seta na direção do meu quarto. Se esse pássaro realmente fosse uma pessoa, ele entenderia o meu recado. Pelo menos achei melhor pensar que sim.

- Eu prometo que logo logo a situação vai melhorar – disse, dando-lhe um abraço desajeitado, tendo cada vez mais certeza de que a Malu estava quase literalmente só em pele e osso.

- Queria poder acreditar em você – respondeu.

Saí do quarto antes de acabar os meus dez minutos. Eu tinha uma coisa importante para fazer.

*

Assim que entrei no quarto, não vi o pássaro na janela. Xinguei mentalmente, pensando que minhas apostas estavam erradas. Aproximei-me da janela, sentindo-me um grande otário, quando vi o pássaro pousando na soleira da janela.

Baforei na minha janela e escrevi "você sabe quem eu sou?". Senti minhas esperanças crescerem ainda mais quando o pássaro assentiu com a cabeça. Tornei a embaçar o vidro e escrevi "A Malu precisa de ajuda". Ele assentiu mais uma vez, enquanto eu tornava a escrever na janela. "A Helô está bem?" e senti um alívio indescritível quando o pássaro confirmou. Por fim, escrevi "Volte amanhã" e mais uma vez ele assentiu. Desta vez, ele levantou voo e foi embora.

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Finalmente uma coisa boa acontecendo nessa história! É pra glorificar de pé, pessoal.

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Beijão e até amanhã.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now