2° Capítulo

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Assim que chegamos em casa o Cleyton pegou a moto dele e foi para sua casa, em Bangu. Fico aqui cheia de medo porque nem habilitado ele é ainda e fica fazendo essas graças de moto, só peço que Jesus o proteja sempre. Ele nem fica aqui em casa porque não se dar bem com o George, meu namorido.

Tomei um banho na hidromassagem para dar uma relaxada, meus pés estão muito inchados, mas eu amei sair com os meus filhos, sair dos arredores de comunidade embora eu não só viva por aqui. Eu curto de tudo na minha vida, não me privo de nada e nem ninguém, as vezes o George, acha que manda em mim, mas eu corto logo as asinhas dele. Nunca abaixei cabeça para homem nenhum, sou neuróticona mesmo e tenho meus motivos e deve ser por isso que ele pinta o sete com a minha cara. Eu nem ligo, quando eu me emputecer de verdade ele vai ver quem eu sou.

Ouço um barulho no quarto, mas permaneço na hidro, não demorou muito o George apareceu com cooler e taças.
Mayane: Eita, o que houve? -pergunto desconfiada.
George: Nada ué, qual foi não posso mais tomar um vinho com a minha mulher não? -perguntou escaldado.
Mayane: É claro que pode, deve. -respondo sorrindo.
Ele sentou na borda da banheira e nos serviu, ficamos conversando à beça.

George é segurança do homem mais perspicaz dessa favela, sabe muito dessa vida e se preserva o máximo, nunca saiu desse cargo de segurança, e olha que é esperto, mas não tem perspectiva de vida nenhuma, eu nem falo nada porque não adianta.
George: Foi na casa do seu filho? -perguntou receoso.
Mayane: Não, ele quem veio para cá e daqui saímos.
Tá explicado o motivo do vinho, desse humor todo...
George: Hum, suave! E vocês foram aonde?

Eu conheço ele direitinho e nem adianta tentar me enganar, fez essa recepção toda por medo, medo de achar que eu possa ter qualquer tipo de relação com o pai do Cleyton. George é todo desconfiado e não confia na taco dele e isso enfraquece demasiado a nossa relação, porque eu gosto de homem decidido e confiante, homem frouxo eu não quero não, e vire e mexe a gente se separa por motivos bobo como esse... Já fiquei dois anos separada dele, só curtindo meus filhos e dando uma levantada na nossa vida.
Meu histórico é grande, não sou santa mas também não sou puta!

Assim que o Serafim me expulsou de casa eu conheci o George, logo engravidei, mas só descobri meses depois prestes a ganhar Clarisse, se eu soubesse mais cedo sabe se lá o que eu teria feito; conheci um cara fora da favela que me ajudou a terminar os estudos, me incentivou a crescer para dá um futuro aos meus filhos, mas em tão pouco tempo ele me deixou, só descobri que era miliciano quando morreu e apareceu nos jornais. Ele me usou de laranja numa casa de condomínio na Praça Seca, que atualmente eu vendi e comprei um apartamento, pus no nome da Clarisse. Eu fiquei extasiada com o falecimento dele e não quis homem nenhum na minha vida, só voltei com o George quando a nossa filha fez três anos, depois separei, voltei, e hoje estamos juntos firme.
Cansei sabe, não tenho idade mais para ficar me aventurando por aí não, não sou mais aquela novinha emocionada de antes. Eu entendi que eu virei mulher, mãe, adulta e que mesmo não querendo eu tinha que ser responsável, não por mim e sim pelos meus filhos. Que por consequência são filhos de homens que a qualquer hora pode os abandonar para sempre... Já pintei e bordei nessa vida e hoje sou mais sossegada, prezo minha vida, vou me poupando de certos tipos de coisas e zelo pelos meus filhos.

No embalo do vinho transamos na hidro, quando dei por mim já estávamos na cama, bem relaxada. Mas me levantei, vesti o roupão e fui atrás da Clarisse, que estava no quarto.
Mayane: Filha, vou pôr sua janta vem comer.
Clarisse: Vou lá já já.

Mil Flores -Jogadas ao morro 🔫🌹 CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now