Brahms - Conexão Fatal

CAP. 15 - Livro Sombrio

- Está pronta?

A voz grossa e abafada invade o cômodo, Brahms havia chego pontualmente.

- Estou sim...

Talvez ele consiga ser tão pontual por nem sequer ter saído daqui, eu o ouvia por trás das paredes, mas não sabia o que ele estava fazendo me observando ali atrás...

Ele continuava com a mesma regata branca, a qual apertava o seu peito e o seu abdômen... Claramente não era do tamanho dele, mas acho que Brahms também não teria muitas opções de roupa.

Ele estende sua mão para mim, encosto com receio após ver o contraste do tamanho de sua palma com a minha...

Mas logo passamos pelo corredor escuro, subindo as escadas e indo até a sala do último piso, a qual tinha uma mesa de sinuca, sofás e um pequeno bar para bebidas... Foi neste sofá que Cole dormiu antes de morrer.

As palavras que Brahms havia escrito para assustar Cole ainda estavam manchadas na parede, não havia reparado nisso na noite do jantar... Sangue seco.

Estávamos indo para a biblioteca, disso eu teria certeza, mas me sentia nervosa por não saber o que esperar de uma simples leitura.

O lugar era grande, as estantes tão diversas assim como os livros, mesas para escolher sentar e ler, abajures a postos e alguns sofás espalhados pelo local... O sonho de qualquer amante da leitura.

Brahms escolhe a primeira mesa, puxando a cadeira de madeira polida para mim me sentar, aceito de bom grado. Ele segura outra cadeira, colocando-a do meu lado...

Brahms estava muito próximo de mim... Como se não estivéssemos de mãos dadas até alguns segundos atrás. Acho que estou vendo problemas demais aqui...

Mas ele é tão grande... Isso me intimida mais do que eu queria. Cruzo meus braços sobre a mesa, tentando não demonstrar medo ou algum sentimento parecido.

- O que você gostaria que eu lesse para você, Brahms?

Ele puxa um livro que estava posicionado ao seu lado da mesa... Uma obra de poesia.

- Ah, você sempre gostou de poesia, não é?

Brahms nada responde, apenas empurra o livro para as minhas mãos, deixando a situação meio desconcertante...

- Posso ler do início ou tem preferência por alguma página?

- Do início.

- Está bem...

Hm, o livro era um tanto grosso, seria demorado ler ele todo... Em sua capa havia o título em itálico, letras negras e bordas vermelho escuro, A Morte & A Sua Dama.

Não me prendo ao título e nem as rosas vermelhas e pretas na capa, apenas abro-o e início logo a leitura.

- "Ar sombrio e solitário
Coração magoado e doloroso
Dito viver até o alvorecer
Até matar alguém por você...

Até quanto vale uma vida?
O amor valeria mais?
Ter apenas você
Os outros não importam

Apenas nós e nós
Matar e amar
Talvez seja difícil de entender
Mas mil vidas eu tiraria por você."

Tenho certeza de que Brahms já leu isso antes...

- "Tudo na mais profunda escuridão
Foi assim que a vida começou
E é assim que a vida terminará
Quando? Ainda não sabemos

Mas assim que lhe conheci
Encarei a face da morte
E decidi lutar por viver
Abolindo a cova e vivendo eternamente com você."

Duas horas lendo para ele... Seus olhos eram fixos em mim, parecia que guiavam os meus lábios para cada palavra que saia daquele livro...

Cada poema lido lembrava-me de Brahms, de tudo o que havia acontecido e das atitudes que havíamos tomado...

- " Estou afundando
Afundando rapidamente
Mas isso parece bom
Pois é apenas quando penso em você

Grite livremente
Corra entre as árvores
Caia no rio, entre as águas
Mas eu sempre pegarei você

Mesmo sem esforço
Minha dama voltaria para mim
Não conseguimos ficar sós
Precisamos um do outro."

- Está bom por hoje.

A voz de Brahms interrompe-me ao terminar a poesia, talvez se ele deixasse, ficaríamos a noite toda lendo naquela biblioteca...

- Eu realmente gostei de hoje...

Por alguma razão eu sabia que havia um sorriso por trás de sua máscara de porcelana...

Ele levanta-se e entende sua mão para mim, não havia razão para segurá-la agora, mas não recusaria.

Estávamos indo novamente para o porão... Respiro fundo e apenas aceito que teria de voltar para aquela prisão empoeirada.