CAP. 45 - Brincadeira Sútil

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Tomo meu café sentada na cama, encostada em sua cabeceira acolchoada. Brahms estava posicionado ao meu lado, observando-me comer, mas sem dizer uma sequer palavra.

Após aquele momento íntimo, sempre pairava no ar um silêncio desconfortável... Talvez por não sabermos o que dizer após aquilo.

- Esses ovos estão muito bons, tem alguma receita especial?

Falo dando um sorriso de canto, tentando descontrair aqueles olhos paralisados sobre mim... Brahms parecia um psicopata com aquele olhar frio.

- Quem sabe.

- Você sabe cozinhar bem assim desde quando?

- Desde que "eu morri".

- Ah... Sem mais explicações?

- Ou eu aprendia a cozinhar, ou morreria de fome.

- Certo... Então tudo você aprendeu sozinho?

- Sobrevivência.

Concordo com minha cabeça em sua direção, sinto que ele não se esforçava muito para puxar assunto ou conversar comigo.

- Então você faz o estilo caladão, não é?

Falo com um enorme tom sarcástico em minha voz enquanto coloco o prato de comida na cômoda ao lado.

Mas Brahms não concorda e nem discorda, apenas continua encarando-me mortalmente, parecendo que não gostou da brincadeira.

- Foi apenas uma brincadeira.

Digo enquanto passo o guardanapo nos lábios... Estava sendo difícil de quebrar o gelo.

- .. Brincadeira?

- ... Sim.

- Você gosta de "brincadeiras"?

- Ah, dependendo de qual for, sim.

Era uma época boa quando eu tinha que me preocupar apenas com qual jogo iria escolher para o próximo dia...

- Espere-me aqui.

Brahms levanta-se da cama e anda até a porta, mas logo pergunto para ele:

- Para onde está indo?

- Preciso cuidar da mansão.

Ah... Claro. Deveria suspeitar que por eu não estar fazendo tarefa alguma durante os últimos dias, Brahms estaria fazendo-as por mim.

Não havia televisão no quarto, apenas alguns livros sobre as estantes na parede, não saberia por quanto tempo Brahms estaria fora.

Começo a folhear uma revista antiga sobre casas e paisagens exóticas. Não queria arriscar sair do quarto outra vez e ver aquele brutamontes correndo atrás de mim como se eu fosse sair voando pelo teto.

Provavelmente, quase uma hora depois, a porta cinzenta do quarto abre-se, com Brahms entrando por seus passos rápidos e largos.

- Está pronta, Greta?

Fecho a revista em seguida e fito-o em curiosidade.

- Pronta para quê?

- "Brincar" comigo.

Arrasto o meu corpo e sento-me na beirada da cama, ainda não entendendo o seu objetivo aqui.

- Não acha que estamos meio velhos para isso?

Uma risada sinistra e abafada ecoam por baixo da máscara de Brahms... Isso não era um bom sinal.

- Pensei que gostava de fazer brincadeiras com o meu jeito.

- Não estou entendo você, Brahms. Está querendo me dar o troco por nada?

- Apenas ensinar a você como se "brincar" de verdade.

Deus, ele havia ficado rancoroso apenas por eu tê-lo chamado de caladão... Imploro por forças para aguentar esse homem.

Brahms - Conexão FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora