~ 57 ~

36 2 0
                                    

Havia melhorado o suficiente para deixar aquele lugar, no carro de Denis onde apenas o motorista o levava. Sua antiga casa e com a mochila à um ombro. Recuou dois passos quando a porta abriu-se e Oliver lamentou o estado magro e mal cuidado, com a barba por fazer, lembrando-se da própria ao coçar o rosto.

Baixou o rosto com as mãos nos bolsos, sem dar um passo adiante. Ítalo não lhe pediria para ir embora quando sequer lhe dirigia a palavra. Poderia estar com Denis, no entanto a casa não era apenas dele, e sim do namorado. E na casa que dividia com Oliver... Era apenas uma casa, com outra pessoa que poderia o ferir. Era comum acontecer. Não, não confiaria tão facilmente nas pessoas ao redor.

— O Oliver — falou Denis sem levantar-se do sofá — ficará aqui também, pra ajudar com Neon III e Uny. Você vai ficar no nosso antigo quarto, e a chave está com o papai, quando quiser trancar. Oliver está proibido de ir para o andar de cima, e ele sabe disso. — Lançou um olhar severo a quem fingia não existir.

— Denis — sussurrou. 

— O papai vai precisar de ajuda, com os animais e com a casa, e eu tentarei vir todos os dias, tudo bem — afirmou. — Pode me ligar quando quiser, a qualquer hora... Guido também está esperando uma ligação sua.

Sorriu e experimentou se aproximar cauteloso, deixando que pegasse o prato de batatas fritas feitas por Oliver.

— Coma enquanto ainda estão quentes — pediu. — Oli e eu vamos pra cozinha, enquanto termina de chegar e se acomodar. Pode usar o banheiro do outro quarto, se quiser se refrescar. O tempo está quente, hoje — sugeriu. — Vamos, Oli.

O mais alto seguiu-o, sem saber porque o fazia. Talvez apenas devesse sair de vista para que Ítalo finalmente se sentisse em casa em algum lugar.

— O meu pai cuidará das coisas, então não precisa realmente se preocupar com Ítalo — pediu. — Quero dizer... Coloque alarmes para as medicações, pra lembrar o meu pai, mas não precisa levar do Ítalo, nem nada disso. Sinta-se em casa, mesmo que vá dormir no sofá — acolheu. — Só... Tenha atenção à cozinha. Facas, e tudo mais — pediu nervoso. — Foi aqui que ele... — Parou, apoiado na geladeira para respirar fundo.

— Foi aqui o quê, Denis?

— Aqui que Ítalo... Esperou Tarcísio e eu sairmos pra escola e ligou o gás — respondeu de fôlego único. — No caminho pra aula que percebi que ele tinha se despedido, de manhã, então... Lá em cima é seguro, não tem nada com o que ele pudesse se machucar, e a janela tem uma grade. Se algum cômodo estiver trancado ele vai se sentir... sem controle. Ítalo é muito esperto.

Oliver secou o rosto, lembrando-se daquilo o que soube em outro momento, concordando. Faria qualquer coisa para que estivesse ao menos sob o mesmo teto.

— Quando... Se ele quiser descer então... pode ficar longe dele? — pediu Denis. — Só... se afaste ou... ou deixe que ele se aproxime.

Acenou, em concordância.

Aquela primeira semana fora a mais fácil, com a retirada gradual de algumas medicações, restando a segunda para acordar a casa com os gritos dos pesadelos. Senhor Pajot passava tempo demais no quarto, enquanto Oliver precisava cruzar os braços para conter-se de o procurar.

Acordava melhor com o passar dos dias, ou ao menos mais disposto, o que tornava os dias difíceis com a infantilidade e rebeldia da insegurança comuns à infância ou adolescência. A comida era fora de hora, ou pouca ou bobagens, somente. Nada nutritiva o que prejudicava todos os exames médicos. Alguma anemia, alguma deficiência de vitamina D, vitaminas do complexo B insuficiente.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now