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Há alguns meses usava a mesada oculta — da sua mãe — para pagar a faculdade e poupar da mesada que a mulher obrigava o esposo a lhe dar. Todavia ao menos uma vez, gostaria de fazer aquilo do modo mais antiquado e arcaico que poderia, apenas aquela única vez como seus pais e seus avós fizeram, encarando a longa e tediosa fila de banco sem livro ou jornal ou distração alguma.

Aproveitou para pegar todos os documentos que poderia pagar, de aluguel, de eletricidade, água, internet e telefones. Um pouco mais seguro quando carregava pouco dinheiro e deixava o restante no cartão no banco, e as notas e moedas sequer passariam pelas suas mãos. Não imaginou que perderia tanto tempo ali, principalmente de um sábado. Logo notou que era o primeiro sábado do pagamento.

Denis ainda achava ser besteira e tentou o fazer mudar de ideia e continuar pagando virtualmente. Mas queria dar a si mesmo aquele capricho, e não tinha porque não sorrir mesmo que todos os que aguardavam tivessem a cara fechada, principalmente por já estar há quase sete minutos com o namorado na linha, abusando de seu horário de almoço e planejando dois finais de semana à frente, algo a sós invés de família ou amigos.

Havia algum valor de Denis, também, para a poupança que pagaria à mulher contratada para gerar seus filhos, ainda incertos em quando começar a procurá-la.

— Você tem certeza que não tem mais contas pra eu pagar, também? — perguntou Nicolas. — Eu poderia voltar na segunda-feira.

— Não — recusou. — Ou você levaria uma semana pra voltar pra casa.

— Ah, eu não demoraria tanto assim...

— Eu não demoraria trinta minutos pra pagar cinco contas em casa...

— Não se movam, mantenham a calma, e as mãos à vista! — gritou. — Mãos ao alto! —gritou mais alto diante de indiferença de alguns. — Isso é um assalto!

Paralisou. O segurança estava rendido, e mesmo que experimentasse os dedos dos pés não conseguiu caminhar à saída trancada e guardada por dois invasores. Sentia a pulsação do peito na garganta, e tentou controlar a respiração enquanto o suor do pavor começava a surgir.

— Nico... — chamou Denis no aparelho. — Nicolas?

— Desliguem os celulares — orientou quem parecia ser o líder —, e quero a carteira de todos vocês!

— Ca-carteira? — gaguejou alguém à frente.

— Sim, pois vou querer saber o nome de cada um, caso tenham a brilhante ideia de ajudar a polícia com algo! — declarou. — Vamos, senhora, sua carteira.

Não, não poderia entregar a carteira e deixar que soubessem que seus pais poderiam pagar um resgate. Não suportaria ser sequestrado, por dias ou horas, novamente.

Ela atrapalhava-se, buscando o documento que não estava na carteira, abusando da paciência e tolerância do criminoso quando passou mais de dois minutos revirando a grande bolsa. Sobressaltou-se e caiu, atrapalhado com as pernas, quando a arma disparou à queima roupa e fatal.

Em choque Nicolas teve o celular arrancado violentamente das mãos, com Denis ainda em linha e acessando o telefone da sua mesa para ligar para seu gerente. E por fim o aparelho foi quebrado, enquanto mais e mais telefones tocavam ao redor. Nicolas viu a mão estendida a sua frente, à espera da carteira, e trêmulo entregou-lhe todos os papéis e cartões que tinha em mãos. Entre eles o rg separado para agilizar quando chegasse ao caixa.

Não percebeu quando partiram, encarando a mulher ao lado por poucos minutos, mesmo que fosse arrastado pra uma ambulância quente sob o sol.

— Nico — insistiu Denis após chamar tantas vezes. — Nicolas?

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