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Era o segundo dia que Oliver via seu melhor amigo faltar as aulas, uma vez que começava a dormir pouco depois de anoitecer, após beber o quanto o estômago aguentava. Ítalo faltou o inglês para lhe fazer uma surpresa, encontrando a casa bagunçada com o game ainda ligado e restos de petiscos nos pacotes. Ao canto uma pilha de latas vazias dava ideia do que estava acontecendo.

— Não avisou que viria. Suas aulas... — observou Oliver.

— Achei que você precisaria de ajuda, quando Guido disse que Nicolas não voltou para casa ainda — explicou Ítalo.

— Estamos bem.

— Você parece cansado.

Começou a ajudar com a arrumação, juntando alguns pacotes de um lado da cama enquanto Oliver buscava sacolas para pôr o lixo. Tropeçou nos fios — que atravessavam do jogo, no armário, até a à cama — e caiu nas latas terminando de amassá-las, vendo o chão se tingir.

Atraído observou a cor e sentiu o calor nos pelos dos braços antes dos poros arrepiarem-se e o cheiro invadir as narinas. Gostaria de ser incapaz de respirar. Alarmado pelo barulho e silêncio repentino Oliver chutou as latas pra longe tão logo chegou próximo a Ítalo, ainda na mesma posição, segurando o braço em que estava vidrado.

— Está tudo bem — Ítalo tentou convencer-se com uma voz vacilante e trêmula.

Ambos notaram sua resposta, hesitante ao tentar respirar, e Ítalo afastou o braço repentinamente quando o outro tentou tocá-lo. Estava enjoado e a cabeça nublada com o cheiro aquecido que o fazia sentir-se imundo, e não queria que o outro se sujasse também.

— Ítalo — chamou atencioso diante da reação que via —, eu vou apenas olhar — garantiu —, está bem? Não vou tocar, prometo.

Ítalo acenou concordando, sem voz alguma para responder, os olhos embaçavam. Não lidava bem com ferimentos de qualquer tipo, sabia disso e tentava manter isso em mente para que pudesse fazer o que precisava. Não havia notado ainda que suas pernas não funcionavam.

Temia desviar o olhar do sangue gotejante na parte de dentro do braço e ele se espalhar mais, contaminando tudo, forçando poças. Teve uma ânsia mais forte, sem conseguir vomitar diante do cheiro enjoativo, e semicerrou os olhos quando teve medo de fechá-los e as paredes serem redecoradas de vermelho. Tentando controlar-se.

— Vou pegar uma toalha pra pressionar, vai precisar de pontos — avisou Oliver.

Aguardou um instante por resposta ou alguma reação, o que não obteve quando Ítalo permanecia paralisado, sem conseguir decifrar a expressão nula do namorado. Apressou-se a voltar para perto depois de encontrar o tecido.

— Vou tentar não machucar mais — tranquilizou-o. — Está doendo muito? — questionou Oliver.

Silêncio.

— Ítalo — chamou. — Ítalo, está me ouvindo? — Oliver insistiu preocupado.

Embrulhou o ferimento de cerca de sete centímetros, tentou dar um nó sobre o corte para estancar o sangue ao menos em parte, e a reação do namorado era mínima, sem expressar a dor que deveria sentir. Atrás de Ítalo ajudou-o a se levantar segurando seus cotovelos, decidido a carregá-lo ao notar os pequenos passos que dava sem equilíbrio algum distraído ao acompanhar as manchas que surgiam na toalha de rosto.

Colocou-o no banco carona e correu pra fazer a volta no carro, afivelando o cinto de ambos.

— Ítalo — chamou. — Ítalo, olha pra mim. Ítalo... — insistiu.

Precisou tomar o rosto entre as mãos manchadas que marcaram o rosto de vermelho, e tentou sorrir quando os olhos acompanharam a cabeça.

— Você está bem, está me ouvindo? — garantiu. — Não é tão grave quanto parece, mas precisará de pontos. Você parece estar em choque, e estamos indo pro hospital. Certo? — esclareceu.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now