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Sentia calor, estava abafado, diziam estar frio, mas tudo o que queria era respirar.

Empurrou a lâmina da janela para o alto e apoiou-se ali, observando o movimento da chuva nas ruas e nas árvores. Pouco trânsito de carros, dos ricos que iam passear nos shoppings quando não podiam ir para suas lanchas, e nenhum pedestre. Seques pássaros sairiam ali. E o vidro era tão fresco contra sua testa... Afastou-se, observando através do vidro embaçado como se fosse um sonho.

Desperto pela som alto da pancada, sequer ouviu-se quando a mão queimou e apressou-se para tentar levantar novamente a janela com apenas uma das mãos, sem conseguir.

— O que está fazendo? — questionou o senhor Campos à porta. — Espere, deixe-me ajudá-lo — pediu.

Não, aquilo não poderia estar acontecendo, desesperou-se em lágrimas. Estava preso, e não poderia escapar.

— Fique quieto, garoto... — pediu o anfitrião. — Fique...

— Ítalo, está bem?

Aproximou-se quando finalmente soltou-se, tentando se afastar. Repentinamente estava cercado, e o fato de um deles estar enrolado na toalha era ainda menos encorajador.

— Essa maldita janela... — resmungou a senhora Campos. — Há quanto tempo você diz que vai consertá-la?

— Eu não sei — retrucou o senhor Campos. — Qual a idade do seu filho? 

— Posso ver? — pediu Oliver ignorando-os. — Acha que está quebrado? — insistiu. — Não parece ter cortado.

Praguejou quando notou o efeito das últimas palavras e Ítalo sentiu nojo das próprias mãos, uma que escondia a outra, e olhou-as antes de voltar de olhos marejados para o marido, e abanar a cabeça em resposta certeira. Não havia corte. Era alguém tão limpo quanto o dia que se conheceram.

Oliver afastou-se alguns passos, alcançando o roupão que Ítalo recusava a usar e vestindo-o ao se certificar de que os dois nós estavam firmes.

— Posso ver? — pediu novamente, estendendo uma das mãos.

Não demorou para se aproximar quando Ítalo fez menção de permitir, segurando o pulso antes que o outro vacilasse e recuasse. O indicador e o médio fora do lugar, tortos.

— Como está, querido? — questionou a senhora Campos.

— Isso... é sério — respondeu Oliver. — Não grave, mas sério. — Repetiu lançando um olhar a Ítalo, certificando-se que ele entenderia. — Posso cuidar disso, será mais fácil se tomar uma das suas medicações. Quando acordar os seus dedos estarão no lugar — garantiu soltando-o para se afastar, como queria. — Ou você pode ir para o hospital, eles colocam no lugar, e você volta.

Eram péssimas opções, todas péssimas.

— Vai... vai doer se você estiver acordado — esclareceu.

Ítalo entendeu, seria o mesmo no hospital. Oliver apenas o queria poupar da dor, mas... Eram apenas uns dedos tortos... Aproximou-se novamente, hesitante, e foi levado para se sentar na cama, apreensivo.

— Droga, Ítalo — queixou-se frustrado quando notou-o novamente retraído, e cansava-se de ser cuidadoso a cada palavra, a cada gesto, que não apenas poderia ser mal interpretado. Sabia, era certeza de que até a sua respiração seria mal interpretada. — Não é como se eu me excitasse com isso e fosse tentar te comer aqui e agora!

— Cuide desse linguajar na minha casa, Oliver — advertiu o senhor Campos, constrangendo-o por usar aquele palavreado diante da única mulher da casa.

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