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Denis estava deitado há bastante tempo, mastigando o polegar com resto do choro no rosto, então achou seguro ir para o corredor conversar com Oliver, tendo de voltar rapidamente ao quarto quando escutaram o barulho do frasco contra a parede, tendo no chão diversos comprimidos espalhados e Denis chorando sobre outros espalhados na colcha. Sobre os joelhos afastados contava as cinco peças iguais incansavelmente. O peito de Nicolas falhou por um momento.

— De-Denis, o que está fazendo? — questionou.

— Cin-cinco, são cinco e... se eu tomar um se-serão quatro, não é? — Denis explicou confuso. — Mas eu... eu não sei se... não sei q-quantos eram antes e... se eu tomei... qual é a... su-superdosagem? Posso tomar dois? Serão q-quatro.

— ...você está tentando...

— E-eu não lembro, Nico... — repetiu assustado. — Não lembro se tomei um... eu... Não quis, por favor, acredita... Não q-quero... em mim...

Correu para abraçá-lo, o afastando dos comprimidos e forçando a deitar embora relutasse, embalou-o entre os braços.

— Sh, sh... tudo bem se não se lembra... — garantiu Nicolas.

— Eu estou tão cansado... — desabafou. — Preciso dormir... m-me deixa tomar... eu preciso do remédio. Só um... — pediu.

— Se não se lembra, vamos esperar um momento. Certo, meu amor? Se você tomou, ele logo fará efeito. Não precisa se preocupar...

— Eu não... liga pro meu pai... ele... tenho que...

Beijou-o no rosto cansado até se calar, como uma criança assustada, adormecido, e juntou os comprimidos da cama para colocar no frasco que pegou do chão, antes de recolher os comprimidos do chão para jogar no sanitário e dar descarga, e ter ajuda de Oliver para esconder todas as medicações de ambos, receoso de que confuso Denis piorasse a situação.

— Eu não acredito nisso! — suspirou. — Ele é tão inteligente e... realmente me assustou...

— Não seria apenas uma confusão se ele tomasse uma super dosagem, Nico — alertou. — Precisa falar com o médico dele, o quanto antes. Ele está muito mal por tempo demais.

— Não chegou a tomar mais do que um, só não se lembrava de ter tomado.

— Dessa vez. Ele precisa muito de um profissional, Nicolas — insistiu.

— Ele só...

— Imagine a dor que ele esteja sentindo, Nicolas. Imagine que... — interrompeu-se, buscando as palavras. — Ele tome, de uma só vez, toda a medicação para dor que esteja sentindo... De uma só vez.

— Você pode falar com sua mãe?

— Posso, sim. O luto é normal, os pensamentos negativos e pessimistas são normais, mas não por tanto tempo e nessa intensidade — explicou. — Eu ligo pra ela assim que ele acordar.

— É um bom plano. Eu... não sei o que faria sem você, Oli.

— Sabe que pode dividir qualquer coisa comigo, Nicolas. Denis só precisa de tempo pra voltar ao que era. Ele precisa muito de você agora...

Denis dormiu o restante do dia até a tarde do dia seguinte, quando Oliver saiu para buscar Ítalo, e Guido e Kelson, entretanto desviou o trajeto avisado de outro local que precisariam estar. Uma vez sozinho Nicolas deixou seu posto ao lado de quem adorava para atender a porta, vendo um senhor Campos enérgico entrar, após ter as ligações ignoradas, olhando por cada porta qual seria o quarto do casal mesmo sob protestos do morador.

Afastou as cortinas, sacudiu as cobertas e Denis, fazendo-o ficar de pé, mesmo sob protestos do morador para que deixasse o outro dormir.

— Pai, pai, ele não tem se sentindo bem... Deixe-o descansar — pediu Nicolas.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now