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Não viram-se novamente depois de Denis impedir Oliver de entrar na cozinha e pedir que se retirasse, sendo dias e horas sem saídas do quarto trancado ao tempo que pacotes se empilhavam ao lado da porta. 

Continuaram empilhados ali quando Ítalo decidiu descer em um jantar, de calçados novos, camisa e calças novas, e um cordão mais longo para a aliança no pescoço, deixando o metal descansar no colo exposto da camisa menos abotoada do que de hábito. Alisou o cabelo, e ajeitou a postura, com um olhar rápido sobre o marido antes outro mais longo, e tentou sorrir, ignorando Denis sair em busca de talheres que não faltavam, e pedir que Nicolas buscasse copos que não faltavam para que o amigo não notasse.

Comeu pouco, com gestos sensuais antes de dar-se por satisfeito, pedindo licença com a voz calma e passos suaves na escada, com a mão deslizando pelo corrimão enquanto a outra se mantinha sugestivamente no pescoço e o lábio inferior era umedecido. Lançou um olhar mais para o assento no andar inferior.

Então entrou no quarto e girou a chave.

— Confesse que está gostando — exigiu Nicolas para Oliver.

— De Ítalo estar tão assustado que qualquer coisa que possa acontecer pra me seduzir e minimizar possíveis danos? — contestou Oliver. — Não, eu não gosto e não posso ver ele... fazer isso com ele mesmo. — Levantou-se limpando a boca. — Se fosse um risco real seria isso que ele estaria fazendo pra sobreviver. Não há do que achar graça quando faz isso pra evitar uma morte iminente e imaginária...

— Falou com a tia Ana? — perguntou.

— É, eu falei com ela — confirmou. — Há duas noites. Parece histrionismo.

É histrionismo — afirmou Denis. — Você tem conseguido descansar? — perguntou.

— Descansar? —  riu. — Descansar... Não, eu não tenho descansado bem há muitas semanas...

— Talvez ele esteja pronto pra ideia de sair daqui, de voltar para casa — sugeriu.

— Se ele estivesse se sentindo seguro, comigo, não estaria agindo desse modo. 

— Por isso acho que ele esteja. Ele está interagindo com você, agora. Então, talvez, ele consiga tent...

— Ele não vai morar sozinho comigo, porque está com medo de mim, Denis!

— Ele está com medo de todo mundo, Oli. Ele... é uma criança assustada com medo da própria sombra, e que está disposto a sacrifícios pra não ser torturado — esclareceu. — Isso não te torna menos confiável. — Calou-se, a espera que suas palavras fossem assimiladas. — Sabemos que ele pode voltar pra cá, se não funcionar, mas pode ajudá-lo a superar mais rápido, também.

Apoiou os cotovelos na mesa e a cabeça dolorida nas mãos. Era um plano a considerar. Todos os avanços que tiveram poderiam ser facilmente abandonados, se mostrassem os efeitos contrários. Assim fora desde a saída do hospital, e, se não tivessem abandonar aquela estratégia seria um novo avanço. Podia fazer aquilo.

— Está tudo bem — disse Nicolas sentando ao seu lado quando notou que chorava. — Vocês podem... Denis e eu temos ido, algumas vezes, pra casa dos meus pais, você pode ficar lá, também — sugeriu. — Tem bastante espaço. E não precisará ficar sozinho 24 horas por dia com ele, e meus pais podem ajudar. Quero dizer, meu pai estará trabalhando a maior parte do tempo, mas a mamãe...

— Uma mulher, hum — percebeu o senhor Pajot. — Pode ser bom... — concordou.

— São... completos estranhos! — destacou Oliver. — São completos estranhos, que ele não conhece e não vai confiar.

Até Onde Posso Alcançar...Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang