~ 58 ~

34 3 0
                                    

— Oliver, Oliver, você está acordado?

Tentou sentar-se até a pontada na cabeça o fazer recostar-se novamente e Nicolas suspirou afastando a toalha ensanguentada. Depois de fechar rapidamente os olhos não importou-se com a dor e sentou-se, preocupado: — ítalo!

— Ele está bem — garantiu Denis apoiado na vassoura e protegendo os cacos que havia juntado. — Subiu e se medicou. Vai dormir até amanhã.

— Aqui, um analgésico — ofereceu-lhe o senhor Pajot. — Eu sinto muito o que aconteceu. Mas, como você mesmo falou, ele está totalmente instável. Subiu enjoado assim que viu... o corte.

— Não acho que você vá precisar de pontos — disse Nicolas antes de confirmar se o sangramento havia ou não parado. — Mas talvez seja interessante passar numa clínica.

— Eu estou bem — resmungou ao deitar com o braço sobre a testa. — Ítalo... pediu o divórcio, há uma semana.

— Meu pai falou, quando você sumiu. Não pode recusar.

— Posso, até ele voltar à lucidez, ao menos — declarou firme. — Ele não vai se livrar de mim tão facilmente. Estou apenas preocupado com ele, e ele acha que precisa me afastar assim, só porque me ama? — questionou retoricamente com os seus pensamentos. — Ítalo está muito enganado se acha que eu o amo menos pra permitir isso...

Não moraria mais ali, o que não impedia de comparecer aos cafés da manhã quando Ítalo passou a evitar os jantares, e compareceu aos almoços quando os cafés da manhã também foram evitados. E por fim conformou-se com a cozinha.

— Desculpe — ouviu-o em uma das refeições, pálido e sem apetite. Certamente, imaginou Oliver, lembrava-se do corte que havia escorrido e manchado até suas calças.

— Eu estou bem, não foi nada — garantiu.

As manhãs pareceram melhores, com o passar das semanas, permitindo aproximações ainda que mudo ao marido.

— Senhor Pajot! — chamou Ítalo.

Seguiu o corredor daquele andar, e paralisou com o ruído antes de chamar novamente. Retornou ao próprio quarto, deixando a porta entreaberta ao insistir por respostas de quem estava ausente. Alarmado, com gritos e os latidos de Neon III, Oliver apagou o cigarro permitido apenas no quintal e entrou.

— Senhor Pajot! — Ítalo gritou ainda mais urgente.

— Ele saiu — avisou. — Precisava pagar algumas contas.

Não era o outro morador, então, constatou apreensivo. Baixou os olhos agitados e chorosos.

— Eu posso...

— Não! — gritou. — T-tem alguém na casa.

— Não tem ninguém — garantiu. — Só eu aqui embaixo, e você aí em cima.

Tem — insistiu e bateu a porta, trancando-a.

— Ítalo, eu posso ir aí em cima pra olhar? — perguntou sem obter resposta. — Eu tenho certeza que não há ninguém, mas...

— Sim! — concordou.

— Avisarei quando eu descer, está bem?

Subiu vagaroso, deixando que os degraus rangessem e dando algum tempo para o arrependimento. Cerrou os punhos, talvez alguém estivesse ali, no final das contas. Por isso chutou a porta fazendo com que ítalo tornasse a entreabrir para observar.

Odiaria que Oliver se refugiasse ali, e odiaria impedi-lo de se refugiar caso o invasor o atacasse.

— É um pássaro! — ouviu Oliver responder. — Um sabiá entrou pela janela, e não consegue sair.

Até Onde Posso Alcançar...Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon