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Precisava retomar sua vida de volta, percebeu no início da semana, depois de ter o celular de volta e conferir sua mensagem de demissão e de alguns colegas que lamentavam o ocorrido, perguntando o porque de tantas faltas e dias de atestados. Acessou a conta do banco e conferiu todos os direitos devidamente pagos e intocados até então, não seria necessário denunciar o antigo empregador ao ministério, constatou.

Continuou ali, todos os dias. Por vezes apoiado à cabeceira, em uma mão o celular e na outra o controle remoto do televisor, mudando de sites e de canal a cada instante, comendo dos pratos dispostos ao seu lado — era o que Oliver esperava, sabia, que comesse mesmo sem fome. Momento ou outro com a lembrança de que deveria tomar banho e trancava-se no banheiro demoradamente.

Ouvia as conversas no telefone, Oliver não atrevia-se a ser discreto quanto a expor suas dúvidas e preocupações. Riria, se lembrasse como fazer... Mas aquela voz não vinha do aparelho, e não era a de Oliver. Denis anunciava-se sem que sequer o anfitrião notasse. ouviu-os conversar desde a escada, até que o amigo por fim estivesse ao lado da cama, e se anunciasse pessoalmente.

— Oliver estava preocupado, então vim ver como você está — declarou sem rodeios. — Seu cabelo está ficando grande outra vez — comentou testando a receptividade ao tocar os fios.

ítalo pareceu confortável com aquilo, porém sequer lhe deu atenção, e Denis teve uma ideia geral de como estava sendo aquilo para Oliver.

— Ele está bem — afirmou levantando-se.

— Bem? — contestou. — Ele tem comido com as mãos, como um animal — sussurrou frustrado.

— Não, não está! — censurou-o com um olhar repreensivo. — Quando foi a última vez que ele falou com você?

— Na casa dos pais do Nicolas, quando decidiu vir pra cá. E quando chegamos falou com o locador do loft. Falou demais... — explicou vendo-o usar o microondas pra aquecer a segunda fatia de pizza enquanto cortava a primeira.

— Demais?

— Ele... deixou claro quem do país estava preso, e porque tinha haver conosco...

Mesmo? Não acredito que ele fez isso... — sussurrou secretamente de volta.

— E, desde aí, ele se calou — especificou. — Eu já falei, ele não está usando os talheres... — protestou quando o viu pegar o talher.

— E você não está entendendo ele — suspirou paciente, sentando-se na frente da tv pra tentar ter alguma atenção a mais do que a mostrada. — Encontrei pizza na geladeira, e já cortei pra você — declarou lhe entregando o garfo.

Ítalo tentou algumas vezes, até aranhar a louça quando a massa finalmente prendeu-se ao metal. A mão vacilava, instável, os olhos umedecendo quando Denis baixou sua mão e pediu a Oliver a louça que segurava, com uma fatia triangular como deveria ser.

— Limpa as mãos no guardanapo, antes de mexer no celular, ou vai ser difícil mexer na tela — orientou-o, se levantando para abrigar-se na cozinha, novamente.

— Como sabia? — indagou Oliver.

— Já passamos por isso. Por tudo isso... — suspirou. — Talvez por isso ele esteja um pouco mais aterrorizado, e saiba os passos que tem alcançar pra melhorar mais rápido do que antes...

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now