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Estava deprimido demais para preocupar-se com Denis, e triste decidiu fazer o que quisesse para se animar, independente do que tivesse de ouvir. A falta do namorado por mais de uma semana passava a ser ainda mais insuportável, precisava ao menos ouvir a voz dele ao final das aulas, e saber se poderia vê-lo ou se seria melhor buscar, mais uma vez, abrigo em outro lugar.

Antes brincava com o que estaria fazendo enquanto falavam-se. O que estaria vestindo ao ler documentos ou cozinhar algo. Talvez não vestisse nada, no banho para o recepcionar perfumado... Agora tudo o que conseguia imaginar eram latidos e um livro qualquer no sofá. Entretanto ainda seria a voz dele, então suspirou e discou.

Talvez Denis pudesse entender o seu lado, que não era alho que estivesse habituado a sentir. Talvez conseguisse algum perdão e torcia pro namorado querer algo da rua, que não tivesse em casa, algum desejo por doces e que pudesse sanar aquela fome... Os dias eram mais solitários do que quando estava solteiro.

Tinha o coração apertado ao pressionar o botão de discar novamente, e ouviu a respiração pesada de quem parecia se exercitar, ou fingir apenas para o irritar.

— Denis... parece cansado — falou deixando claro que percebeu a brincadeira. — O que estaria fazendo?

Sem resposta a voz ainda parecia contida e abafada.

— Se queria que eu sentisse ciúmes, saiba que não gostei da brincadeira — avisou. — Sabia que uma hora eu terminaria ligando e agora finge estar com alguém, não é? Seu...

— N-Nico... — perguntou colocando os pensamentos em ordem. — O-onde você e-está?

— Estou indo pra casa, oras — retrucou aborrecido. — Ainda moramos juntos, eu acho!

— Po-pode che-che-chegar lo-logo, e subir rá-rá-rápido, por favor?

— Sua voz está estranha, Denis. O que houve?

— Vem... me ti-tirar daqui, Nico — implorou. — De-de-depressa por fav...

Após um instante mudo Nicolas apressou-se ao ouvir o som de algo quebrar, e decidiu acelerar um pouco mais quando parou de ter respostas. Chegou ao apartamento ignorando Neon III latindo à janela enquanto ia a cada cômodo procurar Denis, o chamando a todo momento. Voltou para a sala sem encontrá-lo, frustrado.

Apenas então viu o que causava os latidos, com metade das pernas do namorado para dentro da janela, com Denis deitado de lado no estreito espaço da marquise.

— Denis! — chamou. — O que está fazendo aí?

Sem qualquer manifestação se aproximou e o viu de olhos fechados tão apertados, se estendeu para fora com cuidado para o puxar pelos braços úmidos de suor. Uma vez dentro Denis não conseguiu se manter de pé, deixando-se escorregar vazio e com a respiração irregular ainda sem abrir os olhos para ver Nicolas preocupado se abaixar ao seu lado.

— Denis, o que houve? — questionou.

Passou a mão pela franja gélida encharcada do suor, sem conseguir saber há quanto tempo o namorado estivera ali, sem mover-se para pegar o telefone que pegou quando ligou. Lhe doía ver Denis em busca de algum ar, de olhos quase fechados enquanto se acalmava, ainda sem conseguir responder. Ele então entreabriu os olhos para o que tinha em mãos. Um filhote de gato magro que parou de olhar ao fechar os olhos novamente.

— E-ele estava lá fora, po-podia cair como o... co-como o cel-celular — explicou Denis lento demais.

— Então está sem celular por causa de um gato? — percebeu. — Eu não entendo. O que houve? Denis, está ouvindo ele? Acho que está apertando demais.

Até Onde Posso Alcançar...Onde histórias criam vida. Descubra agora