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Com o tempo livre Guido pôde pesquisar alguns locais, enviando fotos para Denis, porém este deixava que o outro decidisse livremente. Precisava ser um apartamento de dois quartos em que um deles fosse maior, para caber as duas camas. Por se conhecerem há mais tempo dividiriam o quarto, sendo que o mais velho passava a maior parte do dia fora, e o mais novo passaria a trabalhar. Com os horários diferentes conviveriam bem.

Então em dois dias se mudavam, com Nicolas pegando a cama de Denis, para dormir sozinho, e os outros dois comprando duas de solteiro de segunda mão.

— Cara, é a segunda vez que me salva a vida! Eu não tenho como agradecer — disse Nicolas.

— Não se preocupe com isso, podemos levar tranquilamente desde que você se forme — condicionou Denis.

— Isso vai ser um problema.

— Por que?

— Não tem como eu chegar à faculdade sem o carro.

Guido riu da bobagem que o outro dizia, puxando seu colchão para dentro antes de ser derrubado por ele e Denis correr para ajudá-lo.

— Pode sair mais cedo, e tomar um ônibus — sugeriu Denis.

— Ônibus? Qual ônibus? — Nicolas declarou. — Nunca peguei um ônibus!

— Pois vai passar a tomar ônibus pra chegar nos lugares — afirmou diante da teimosia. — Vou direto do trabalho e não posso ir com você. Pode ajudar ele essa semana, Guido?

— Claro — concordou Guido.

— Eu... pegando ônibus...

— É. Me lembre de deixar o dinheiro da passagem de vocês depois.

— Certo. À propósito, com o diploma pode conseguir um emprego melhor.

— É, estou espalhando alguns currículos para quando me formar — confessou. — Acho que não estão retornando ainda pra me darem tempo de terminar os estudos tranquilamente, antes de me dedicar totalmente ao trabalho.

Nicolas, Ítalo e Oliver entreolharam-se cúmplices enquanto os outros dois olhavam pro outro lado, arrumando as cobertas nas camas.

— Então, quem vai me ajudar a subir as bebidas? — convidou Oliver.

— É opcional? — questionou Ítalo.

— Não exatamente...

Desceram deixando o restante da arrumação da casa entre os três moradores — não que fosse difícil, com mesa e cadeiras plásticas — enquanto se deixavam demorar cerca de 15 minutos. O que deu-lhe tempo de contar da entrevista que teria no dia seguinte, embora a proposta fosse de contratação após deixar a faculdade.

— Tem certeza que pode beber, Guido? — Denis questionou.

— Não. Eu não posso beber, mas vou. Amanhã volto a tomar os remédios — avisou Guido.

— Não deveria interromper seus remédios — disse Nicolas.

— Devo trocá-los por cerveja, ao menos hoje — teimou.

Denis deu de ombros à decisão do amigo mais jovem, não o queria bêbado, embora se fosse fazê-lo preferisse sob sua vista. A porta voltou a abrir com a chegada dos dois carregadores.

— Foram comprar as bebidas? — reclamou Guido.

— Não. A caixa estava pesada — Ítalo mentiu.

— Não estava tão... Estava. Estava sim... — mentiu também Oliver.

Riram da ameaça no olhar de Ítalo se Oliver dissesse a verdade, e colocaram músicas antes de começarem a jogar os games que Oliver levara, cantando junto. Em pouco tempo estavam bêbados, e Guido tentava a todo custo contar uma piada, sendo derrotado pelas próprias risadas até que Denis gargalhasse, novamente, das já conhecidas.

— Deveríamos escapar daqui — sugeriu Oliver.

— Está louco? Como vai dirigir depois de beber? — censurou Ítalo.

— Chamo um táxi. Só quero passar um tempo com você, longe desses caras...

Esses caras... É uma droga estar namorando e seus amigos não, não é?

Oliver levantou-se puxando-o do chão onde petiscavam alguma coisa e olhando pelas portas dos quartos qual deles tinha uma cama grande.

— Oliver! — surpreendeu-se Ítalo.

— Ele não vai se importar — prometeu Oliver.

Nicolas levantou-se e bateu à porta irritado, no entanto já estava trancada e escutou um 'cai fora' antes de decidir se afastar.

— Expulso de meu próprio quarto, antes mesmo de dormir nele... — choramingou Nicolas.

Se distraíram mais, ignorando a ausência do casal e percebendo-se sonolentos a medida que anoitecia e as garrafas se esvaziavam. Nicolas voltou a bater à porta de seu quarto, percebendo no silêncio que ambos haviam adormecido bêbados.

— Ótimo, não tenho onde dormir — declarou Nicolas.

— Não vai dormir comigo, Denis — afirmou Guido.

— Não ligue pra ele, não gosta de dormir junto quando bêbado, mesmo que a lógica seja dividirmos por sermos os menores — falou em tom mais alto. Não é mesmo, Guido? — Denis falou.

Minha cama — declarou possessivo.

O mais novo jogou-se entre as cobertas, repentinamente mais enérgico, mesmo que Denis soubesse que seria levado a um sono profundo em breve, do qual não acordaria por horas, mesmo sacudido. Motivo do qual preferir distância quando completamente vulnerável.

— Você pode dormir na minha cama. Assim que comprarmos um sofá damos um jeito nisso — disse Denis.

De costas um para o outro Denis não demorou a dormir, sentindo frio quando a janela não fora fechada e virou, aconchegando-se sem perceber que Nicolas estava sobre todas as cobertas, e esse ainda acordado passou seus braços pelos dele sentindo-o frio, então o abraçou mais sentindo o cheiro dos cabelos logo abaixo de si que aquecia sua respiração antes de inspirar.

Denis acordou procurando o celular antes de perceber onde estava, precisava saber a hora para saber quanto tempo tinha até sair para a entrevista de emprego, quando percebeu que era enlaçado, o que não lhe deixava com muitos movimentos livres. Os braços eram quentes ao seu redor, e longos o suficiente para chegarem às suas costas confortavelmente, sem apertar tanto. Olhando a janela viu que era um dia nublado e frio com uma miúda chuva, todavia não sentia frio.

Tirou o braço de si sem que o outro acordasse e sentiu-se repentinamente mais fresco, resistindo em retornar à posição aconchegante ao ver, na tela do celular, que ainda tinha algum tempo de vantagem.

Foi à cama de Guido, ver como este dormia, e satisfeito em vê-lo descansar abraçado ao travesseiro levou a toalha pro banheiro, estranhando que não houvesse ninguém no quarto de Nicolas e ninguém mais no apartamento.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now