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Em tudo, de cada detalhe, Kelson tinha apenas uma exigência. Não havia problema Guido querer as melhores lembranças, fotógrafo, pintar o seu cabelo, escolher as roupas de ambos, os lugares dos convidados, ou qualquer outra coisa que decidisse se aqueles seus espelhos estivessem ali, como estavam atrás do juiz de paz, mesmo que o noivo achasse loucura.

Todavia, depois de ser acompanhado pelo senhor Pajot por um dos caminhos laterais até o centro de uma cruz onde encontrou o outro noivo que entrara sozinho, notou o efeito que Kelson havia exigido.

Ali, perto do altar, o dobro de pessoas e olhares os assistiam, e em cada um deles via sorrisos, apenas. E estavam no centro daquela multidão, e daquela alegria.

Guido abriu ainda mais o sorriso, provocando maior emoção em Kelson que segurou as lágrimas ao menos até se levarem, de braços dados um ao outro, ao altar. Não era a sua primeira vez, entretanto era a do outro, e nunca esteve em cerimônia tão única, um capricho deles para eles mesmos.

De um lado seguia-se a linha de padrinhos, e no primeiro banco o senhor Pajot parecia tão emocionado quanto na primeira vez ao tempo que um olhar crítico era lançado a Ítalo por ter feito o mesmo de modo tão egoísta e solitário. E por fim olhou para o próprio filho, em cobrança pela formalização do relacionamento anteriormente mal interpretado.

Se qualquer coisa poderia valer a vida, porque não o órgão de quem o faria feliz?

— Kelson Christ — continuou o magistrado —, aceita Guido Jensen como seu esposo, para amar e respeitar, até que a morte os separe?

— A-a-a... Aceito — gaguejou.

— Guido Jensen, aceita Kelson Christ como seu esposo, para amar e respeitar, até que a morte os sepa...

— Para todo o sempre — apressou.

Ítalo segurou o riso, por um momento escondendo o rosto atrás de Nicolas para que não chamasse mais atenção de quem estava ali.

— Kelson está mais nervoso que nosso Guido — observou. — Ele achou alguém mais ansioso que ele, e olha que nem tomou a medicação dos últimos dias...

— Você estava igual qual dos dois? — Nicolas provocou.

— Oliver estava animado como Guido, eu não — respondeu retornando à seriedade.

Beijaram-se, com Guido tentando acalmar o agora esposo descendo as mãos dos cabelos coloridos até o queixo algumas vezes. Então afastaram-se e seguiram para o final da nave, por onde a noiva entraria acompanhada até o altar, se fosse outra a situação

Ainda tinham uma festa para comparecerem.

Riam e bebiam depois de rirem e beberem, em piadas. Até Guido precisar de um tempo sozinho e se recolher. Sabiam que estaria de volta em alguns instantes, ou então pediria ajuda pra atravessar o estresse do dia festivo.

As músicas mudaram e mais convidados voltaram, à espera do segundo marido para que pudessem se fotografar juntos. Todavia o retardo estendia-se.

A música mudou sem que fosse notada pelos convidados, estivessem sóbrios e desatentos, um som envolvente e melódico que acalmava o salão invés de o inflamar mais, fazendo com que deixassem a pista de dança para sentarem-se e comer e beber ainda mais.

Porém nos assentos de destaque estava apenas um dos noivos, ainda vazio. As luzes piscaram antes de apagar, preocupando-os quando a fumaça surgiu.

— Por favor, digam-me que não tem elevador nesse lugar — pediu Ítalo —, e que Guido não precisava dele...

— Vamos procurá-lo — decidiu Denis se colocando de pé primeiro, o que tranquilizou Kelson quando os outros fizeram o mesmo.

Os olhos vasculharam a escuridão sem saber por onde começar até a névoa alcançá-los com o som de um violino, e Guido ser destacado no centro da névoa pelo direcionamento de uma luz amarela. Sentaram-se, e Kelson foi puxado pelo cotovelo quando secava os olhos marejados, sentando-se também.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now