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Era meio da semana, entretanto a empresa batia todas as metas e seus funcionários mereciam um happy hour de qualidade, e por isso os levara até aquele bar. Conforme acordado anteriormente todos teriam meio expediente no dia seguinte, com uma troca de turno no horário do almoço. Menos ele, afinal era o chefe e trabalharia um pouco mais, no final das contas.

— Daqui vai direto pra casa? — questionou Kelson. — Venho te buscar?

— Não precisa — recusou. — Vou direto pra casa, preciso descansar antes do trabalho — Guido prometeu, com um largo sorriso.

— Certo... — concordou.

Com os planos do outro beijou-o rapidamente, em despedida ao se sentir intruso aos festejos da empresa. Depois de vê-lo sair Guido sorriu e aproximou-se do bar, tendo sua bebida sem álcool colocada diante de si percebendo a aproximação de outro cliente e sem se dar ao trabalho de olhar.

— Você parece estar bem — declarou —, com o seus amigos. E com aquele substituto de romance que acaba de sair...

Guido paralisou por um instante ao reconhecer a voz, observando a borda do copo servido antes de voltar a respirar.

— O que faz aqui? — Guido questionou com um sussurro assustado.

— Tive que te encontrar pela empresa. Humilhante — queixou-se. — Pensei que houvesse se demitido, mas vejo que está tudo bem... Parece estar se divertindo — destacou.

Com a garganta repentinamente seca Guido acabou com o drink à sua frente, pedindo um com vodca em seguida, depois de esquecer que não deveria. Deixou o copo descansar e finalmente encarou o ex sentado ao lado, que pedira uma água gelada. Espiou rapidamente seus funcionários, preocupado com a aparência profissional.

— O que você quer? — sussurrou novamente.

— Tem certeza que pode beber isso? — indagou. — Por causa das medicações que toma... O seu chefe pode ver. Qual deles é o seu chefe, à propósito? — especulou curioso. — Não é o cara que beijou antes de sair, é? — riu.

— Eu sou o chefe.

— Mesmo? Que avanço! — elogiou falsamente. — Ainda mais sabendo que não poderá lidar, na maior parte do tempo... Mas, mudando de assunto, você ainda está registrado em uma relação estável comigo... — lembrou-lhe, erguendo uma das sobrancelhas. — Então qualquer relação que tenha é, tecnicamente, ilegal.

Guido bebeu um longo gole, um pouco mais aliviado antes de forçar um sorriso ao notar que aquilo não seria problema.

— Estamos fisicamente afastados há mais de um ano — observou Guido.

— Certo! — concordou. — Por isso trouxe os documentos da nossa separação, para que assine.

Ao beber o próximo gole quase engasgou. Sabia que não queria ter mais nada com o outro, no entanto nunca havia processado o fato de precisar formalizar a situação. Olhou o envelope com desprezo, como se o documento atestasse seu fracasso com quem — ainda? — amava.

— Leia com calma, certo? — pediu como faria a uma criança. — Meu número está aí dentro, para que me contate depois de assinar ou caso haja algo que não concorde e você deseje alterar. E não beba demais — instruiu como se lidasse com um aluno indisciplinado.

Não virou-se para vê-lo ir embora, ignorando seus colegas e pedindo mais uma dose ao fim da primeira, e a seguinte antes que o segundo copo terminasse. Puxou o envelope para mais perto, escondendo o rosto nas mãos ao sentar-se no balcão e puxar os cabelos antes de pedir a quarta dose.

Na mesa de trás, ainda sendo atendido, o ex praguejou ao vê-lo tentar tirar os documentos do envelope, e desistindo ao largar o arquivo ao lado. Percebia os olhares estranhos sobre Guido, e alguns de seus colegas irem embora sem querer tomar alguma responsabilidade. Sabia que a reaproximação causaria aquele comportamento em alguém tão instável e fraco, a mesma atitude que o saturou em tão poucos meses, o motivo do relacionamento ter ruído, o que o fez desistir do marido provocar que fosse embora. Mas, com a possibilidade de ser a última vez que precisava lidar com situação, achou sensato ajudar e voltou ao balcão.

Até Onde Posso Alcançar...Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz