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Quando olhou o carona ele batia os pés, de olhos fechados ainda processando a frustração que tinha causado. Suspirou pesado, prestes a perguntar quanto tempo o veria irritado quando Denis finalmente abriu os olhos.

— Aceito o emprego — declarou.

— Mesmo? — questionou surpreso.

— Não posso parar de estudar agora. E, desculpe, mas não sei como retribuir o favor. Antes eu estagiava, era meio período. Um emprego vai exigir mais.

— Pode me perdoar...

— Obrigado por conseguir um emprego para mim, Nicolas Campos — agradeceu formal e adequadamente. — Preciso muito, nesse momento, e darei o melhor de mim nos estudos e no trabalho.

— Então estou perdoado — respirou aliviado.

— Ainda estou irritado demais pra te perdoar. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

— Certo. Descul... Eu vou tentar não fazer as coisas sem que você saiba, no futuro.

Desceu do carro para o acompanhar até a porta, com as mãos guardadas nos bolsos ao vê-lo agradecer novamente. Queria se desculpar mais uma vez pela invasão da privacidade, entretanto percebeu que o irritaria mais se o fizesse.

— Te busco amanhã — avisou.

— Certo — concordou. — Até amanhã.

Entrou encostando a porta, aproveitando que o pai estava na sala para lhe dar a boa notícia.

— Não vai acreditar, pai — animou-se. — Um amigo conseguiu um emprego para mim! — comemorou.

— É — suspirou aborrecido. — Um celular, o remédio que vi no seu quarto, condução todos os dias, e agora um emprego! Programa! — acusou. — Está fazendo programas como se isso fosse resolver a sua vida! Tanto trabalho pra te sustentar e sobrevivermos, nos ajudando, e agora... Nossa vida modesta não é mais suficiente pra você, não é?

— Não estou fazendo isso, pai — negou apreensivo. — Eu nunca faria algo...

Antes que terminasse foi empurrado, e desviou o braço de um tapa que acertou-o na cintura invés do pulso. Gritou, repentinamente pálido, sem ar em seguida, tão estático quanto o pai ao ver o que fizera.

Nicolas voltou o caminho que fazia ao carro, ao ouvir o ruído, e aguardou após bater à porta silenciosa depois das palavras ríspidas que não conseguia ouvir, algo comum entre ele e o próprio pai, antes que a mãe interferisse. Denis, pálido, abriu uma fresta, o suficiente pra apoiar todo o peso na maçaneta que poderia se quebrar, apoiou-se também no umbral, sem pisar o pé direito.

— Hospital — pediu.

A única palavra saiu firme como se nada estivesse errado, denunciado pelos olhos baixos. Talvez ele apenas não quisesse estar ali e talvez preferisse ir para o hospital para ter um local seguro no qual ficar até que amanhecesse. Ajudou-o a caminhar para o carro.

— Não precisa ir para um hospital — recusou. — Pode ficar na minha casa. Ao menos até que as coisas se resolvam — sugeriu Nicolas.

Denis sentou-se e afivelou o cinto, com alguma pressa nas mãos trêmulas.

— Hospital — repetiu vacilante.

— Você não está tão mal assim. Talvez surja algum hematoma mais tarde. Mas você não tem nenhum arranhão a mais.

— Hospital — implorou —, por favor.

— Está tendo uma crise de pânico? Se estiver tem que me dizer como lidar, porque eu não sei...

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