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Antes que o outro se aproximasse Kelson sabia quem era pela mão que tremia entre as suas, e queria destruir o sorriso que o outro levava.

Estendeu a mão para pegar o envelope e terminar aquilo antes que começasse.

— Não está em seu nome. Pegue Gui. Por favor assine.

Guido sentia a cabeça doer mais, e Kelson arrancou o arquivo das mãos do outro percebendo que o namorado era observado da cabeça aos pés.

— Vê a forma patética de como ele lida com esse tipo de situação? Não é humanamente possível suportar isso toda uma vida...

— Não temos porque nos demorar mais com isso — disse Kelson.

Afastou-se dali, passando na loja e avisando que se atrasaria para deixar Guido em casa, após pedi-lo que tirasse o restante do dia de folga.

— Tome seus remédios, e tente comer alguma coisa. Procure descansar — pediu Kelson.

— Não pode, mesmo, ficar? — questionou Guido, inseguro.

— Tenho que voltar ao trabalho.

— Certo, vou guardar o envelope — concordou sem ter o que fazer quando o parceiro estava ocupado.

— Eu fico com ele até nos falarmos novamente — decidiu, fazendo-o constranger-se.

— Mas... — perdeu as palavras, sentindo-se incapaz até de guardar alguns papéis.

— Agora suba, vai. Não esqueça de fazer o que eu disse — lembrou-o, como se Guido já houvesse esquecido as recomendações.

☼☼☼☼☼

Denis tentou chegar mais cedo depois de ter notícias de Guido. Soubera de quando chegou, saiu, e voltou antes do final do expediente novamente. Observou o sono do amigo por um momento, notando a expressão de quem chorara e lhe deixando frustrado por não saber o que acontecia.

Jantou com Nicolas e se deixou assistir uma série no quarto, percebendo Guido acordar e esperando que voltasse do banheiro ainda grogue.

— Gui, está acordado? — perguntou Denis.

Viu-o esfregar os olhos, orientando-se.

— Kel... — respondeu sonolento.

— Não. Sou eu, o Denis — esclareceu. — Vai voltar pra cama?

Seguiu-o para certificar-se de que voltaria a deitar bem enquanto ainda precisava de alguma resposta, e sentou-se com ele na cama.

— Como estão as medicações? — questionou Denis.

— 75%.

— Voltou a tomar três deles de ontem pra hoje, por causa do trabalho? Está sobrecarregado?

— Não, não tem haver com o trabalho.

— E está tudo bem com você e Kelson?

— Eu não sei...

— Você tem estado mais feliz desde que o conheceu. O que houve?

Estava com sono, todavia se forçou a levantar tentando se manter desperto ainda sob efeito da medicação. Esfregou o braço como se tivesse frio quando na verdade se sentia vulnerável. Denis o acompanhou, receoso que fosse vencido e dormisse repentinamente.

— Denis-Teimoso-Pajot — recitou —, na outra noite eu misturei 50% com álcool, antes que pudesse perceber o que estava fazendo. Eu não lembro porque ou como, mas quando acordei estava em um hotel, na mesma cama que o meu ex — respondeu frustrado. — Lembro quando ele veio me procurar, mas não como saí do bar. Então eu penso... 'Devo contar ao Denis?', não porque está muito ocupado ignorando Ítalo. Ou então 'Posso contar ao Ítalo?', não porque ele tem problemas demais por causa do Denis.

Até Onde Posso Alcançar...Donde viven las historias. Descúbrelo ahora