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Os últimos a dormir acordaram após o meio dia, notando que a chuva não havia dado trégua desde aquela manhã, tendo piorado nas últimas horas a ponto de deixar a paisagem cinzenta mesmo com os relâmpagos. A qualquer momento Ítalo esperava uma notícia, uma péssima notícia, e verificou com Kelson como Guido estaria.

Os senhores Campos dividiram-se entre as casas, emprestando seus carros para que tivessem mais motoristas nas buscas. A cada ruído na fechadura acreditando ser o retorno daquele que faltava. E à noite o casal permaneceu na casa mais antiga, deixando todos os cômodos da última para o grupo que passaria à noite sob mais café.

— Nenhuma pista, ninguém o viu e é a... droga da segunda noite — disse Nicolas frustrado. — São duas noites agora... — Esfregou as olheiras fundas.

— Eu... tenho que tentar uma coisa — Ítalo falou, quase otimista. — Guido, seu telefone.

— Vai ligar para onde? — questionou tirando o aparelho do bolso.

Entregou-o e bastou Ítalo digitar os primeiros números para surgir o nome da agenda, e clicou nele. A ligação tocou até cair.

— Acha que ele atenderá se for o Guido? — Oliver surpreendeu-se com a genialidade daquilo.

— É... a única coisa que consigo pensar. Nós nunca ignoramos Guido, então... — disse Ítalo esperançoso. — Espero que ele... lembre.

Caiu novamente, no entanto insistiu antes que frustrado outro tomasse sua tarefa, até que finalmente fosse atendido e colocou no viva voz.

— Gui, n-não cho-chora, Gui — escutaram a voz trêmula. — Meu p-pai logo estará aí. Eu v-vou, também... — prosseguiu, confuso.

— Denis — chamou Ítalo tentando contendo-se.

— Í-Ítalo, o Gui... Gui me ligou... está no hospital — prosseguiu sem notar ser a mesma ligação. — Se... se machucou... p-pai está indo... Diz pra ele, q-que...

Estava alterado demais e não se daria ao trabalho de o corrigir àquela altura, olhando para o amigo enquanto o outro acreditava que o caçula precisava da visita deles.

— Denis, onde você está? — Ítalo perguntou.

— Eu... eu não sei, eu... — falou Denis.

O telefone quase caiu ao escorregar das mãos molhadas, sua voz um sussurro.

— Há alguma loja? — pediu. — Ou placa da rua? Nós o buscaremos... Denis, Denis, está aí?

Sentia tanto frio sem saber como tentar se aquecer ao respirar o ar gélido, os dedos enrijecidos.

— Denis, você está bem? — Ítalo insistiu.

— Eu não sei onde... O-onde? — perguntou.

— Olhe ao redor, Denis, qualquer placa — implorou. — Diz onde está. Tenta achar algum policial! Por favor!

A voz de Ítalo o deixava zonzo e enjoado, sabendo que algo horrível havia acontecido sem recordar o quê. Com mais vertigem desligou e guardou no bolso ao voltar a caminhar. Vagou por algumas quadras no meio da tarde, indo de encontro ao pai sem ter um local de encontro específico em mente.

Passaria direto pelo local se não notasse a iluminação piscante, vermelha, de um veículo, recordando-se do que a ligação dissera — de quem era aquela voz determinada? Entrou deixando poças de água, ignorando a reclamação de quem não conseguia ouvir, e parou diante do balcão esperando quando ignorado ao pedir que aguardasse, não notou que era olhado uma segunda vez pelo agente ali. Não ouvia-o, todavia precisava falar. Largou o celular no balcão com a boca trêmula do frio que causava espasmos no corpo inteiro.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now