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Duas semanas depois de decidido Denis encontrou-se com Guido no almoço, para contatarem o escritório e dar saída de um imóvel alugado para outro parcelado, tendo ajuda de Ítalo para definir o frete da pouca mobília que tinham. Com Nicolas dividiria as transações financeiras, mais delicadas e que envolviam ainda um terceiro familiar.

O restante das coisas, no entanto, podiam seguir no carro de Nicolas e na caminhonete de Oliver, que prontamente entregou as chaves ao marido para exibir o novo motorista que não importava-se em ser elogiado nas ruas movimentadas.

Na metade daquela tarde o essencial estava disponível e Guido saiu para buscar alguma coisa que pudessem comer, mesmo que não houvesse mesa alguma à qual pudessem sentar.

— Denis, como você morou em apartamento tendo medo de altura? — perguntou Oliver.

— O que os olhos não veem a fobia não sente — Denis declarou solene.

Deu de ombros, voltando a encher a boca em seguida, no entanto o outro ainda estava curioso.

— Mas aconteceu alguma coisa — insistiu —, pra que tenha medo?

— Não exatamente — Ítalo respondeu no seu lugar. — Ele só tem medo ver  que está no alto ou vê a altura.

— Sei, estilo Coyote... 

— Ele descobriu em uma plantação de amoras, que fomos com a escola — contou Guido. — Subiu uns quatro ou cinco degraus de uma escada portátil e não conseguiu descer... Ficou petrificado — riu.

Denis rapidamente ficou vermelho, tímido sem pensar em como poderia se defender. Comeu novamente para não pensar nas risadas que ouvia, faminto.

— Agora entendi porque você foi feito pequeno, rim — provocou Nicolas. — Se tivesse a minha altura não ia poder ficar de pé.

— Cala a boca, Kumiho — pediu Denis.

— Passamos minutos pra convencê-lo a descer, sem sucesso até que Guido o mandasse fechar os olhos. Tive que subir pra ajudá-lo a descer — Ítalo relembrou.

— É. Lembrei disso quando...

— Quando o que? — questionou Kelson.

— Nada. Esquece.

— Hahaha, está com vergonha agora? Diga. — Nicolas pediu.

— Não é nada.

— Conta. Conta. Conta — pediram.

Deixou seu isopor com Kelson antes de virar-se para o namorado, olhando em seus olhos ao pegar nos seus antebraços e respirar fundo, preparando-se.

— O escritório teve uma reunião e eu era o único novato e fiquei para trás, então não tive quem pegasse um livro pra mim, na estante — falou. — Eu subi, e...

— Menino corajoso! — interrompeu Ítalo.

— Me deixa contar, Ítalo — pediu sério, sob um breve olhar severo. Voltou-se para o namorado, apoiando-se nos joelhos dele com seriedade. — Estava tentando pensar em como descer quando percebi alguém entrar e pedi que aguardasse, achando ser um cliente habitual — continuou.

— Quem era? — perguntou Nicolas.

— Eu não sabia na hora, mas era o Tarcísio — afirmou. — Ele perguntou se eu queria ajuda pra descer. Só percebi quem era quando eu estava no chão.

Terminado de contar permaneceram se olhando, Nicolas de maxilar tensionado que poderia partir algum osso de ave entre eles, se houvesse. A comida um pouco mais amarga e menos apetitosa.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now