~ 01 ~

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Sendo lançado na porta em mais uma curva, Nicolas finalmente quebrou a tranca ao tentar abrir, e agora estava preso. Mesmo que metade de seu cérebro soubesse estar trancado, a outra metade ainda precisava tentar. E por esse feito, quem viajava no banco de trás com ele, acertou-lhe na altura da orelha. Sentiu-se zonzo, com dificuldade em manter a vista clara. As palavras ásperas continuavam a ser lançadas, mas não conseguia mais ouvi-las com clareza.

— Você o matou?

— O quê? Não!

— Vamos fazer isso logo, então!

Nicolas foi lançado aos bancos da frente quando o veículo freou repentinamente, e caiu novamente sentado no de trás. Sua cabeça girava. Arrastado do carro tentou se pôr de pé. Os sequestradores com máscaras nos rostos gritavam sem que pudesse entender, sentindo-os o ajudando a levantar ao mesmo tempo que o derrubavam. Custou a entender que o queriam ajoelhado.

— Por favor. Por favor não me matem. Estão com o meu carro e minha carteira... levaram meu celular... por favor, não... não me executem... — Nicolas implorou antes de ser atingido.

Uma dor aguda no osso atrás da orelha o derrubou, sem que pudesse ver o carro partir na madrugada.

☼☼☼☼☼

Não teve certeza de estar acordado até estar de pé, saindo ainda trôpego da terra no chão e olhando as casas com sem acabamento. Começou a caminhar para encontrar algo que o ajudasse.
Com vista embaçada olhou para alguém que o chamou, imaginando que, quem quer que fosse, estava um degrau mais baixo. Esfregou o rosto com as duas mãos e sorriu quando a vista limpou rapidamente para ver uma expressão adulta nos cabelos quase loiros, depois voltou a embaçar e continuou pelo caminho que seguia, mesmo que não soubesse onde levaria.

— Agora estou tendo alucinações, vendo um gnomo... — Nicolas resmungou.

O outro não o ouviu sussurrar, ou talvez não tentasse lhe chamar a atenção novamente lhe segurando o braço. O mais alto afastou-se repentinamente, pensando apenas se conseguiria correr invés de revidar. Pensando se conseguiria enxergar alguma arma.

— Fique longe de mim — disse em ameaça.

— Você não é daqui, é? — questionou Denis.

— Sinto muito, mas já levaram tudo o que eu tinha. Não tem mais nada que possa ser roubado — argumentou. — Ao menos nada além das roupas que estou vestindo e que estão imundas, mas se ainda assim fizer questão...

Denis irritou-se com a sugestão de ser um ladrão, desviando o olhar pensando se atrasar-se para o trabalho valeria à pena por causa daquele sujeito. Não deu um passo a mais.

— A sua cabeça, ela está sangrando — avisou Denis.

Nicolas tateou a parte que latejava mais, notando os fios com sangue seco, e vendo as pontas dos dedos vermelhas. Ainda mais zonzo pela preocupação escorou-se a uma pilastra ao empalidecer.

— Por isso ela dói tanto... — concluiu Nicolas.

— Precisa ou não de ajuda? — repetiu.

— Pode me emprestar o telefone?

— Não tenho um celular.

— Não tem... Faz sentido, seria roubado aqui...

— Não, não seria. Se foi roubado e largado aqui é porque foi alguém de outra comunidade — defendeu-se. — Talvez da sua. Não te deixariam aqui se fossem daqui, maldito estúpido.

— Ei! Não sou nenhum maldito, eu fui sequestrado — explicou. — ...nem estúpido — completou.

— Você tem ou não alguém pra quem ligar? — insistiu. — Faço qualquer coisa pra que vá embora.

Até Onde Posso Alcançar...Where stories live. Discover now