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O almoço de sábado foi diferente do último, com a tensão que pairava e levava os três a sussurrarem abaixo do ruído dos talheres, e não demorou muito para que Ítalo fosse interrogado sobre novo amigo do filho. Querendo saber de onde viera e o que fazia sem ser pela boca do filho, estranhando as respostas por mais reais que fossem.

Pareceu uma refeição de horas, como um banquete, embora tão fúnebre e mal tenha chegado a uma hora de duração enquanto o pai os liberava da arrumação para irem estudar. Denis sentou-se para levantar em seguida e ir até a janela com o livro, secando um lágrima antes que escorresse.

— Como você está? — perguntou Ítalo, preocupado.

Viu o amigo forçar um sorriso, e não pode mais conter os olhos.

— Ele sempre precisa de ajuda com a cozinha — desabafou —, pra passarmos mais tempo juntos.

— Ele está apenas chateado, vai passar — consolou.

— É difícil administrar os estudos e trabalho com uma saúde como a minha. Acabei decepcionando ele.

— Não decepcionou ninguém, Denis. De quem são as notas?

— Minhas.

— E o salário?

— Meu.

— E essa saúde de merda?

— Saúde de merda?

Ítalo gostaria de fazer cócegas em Denis, para ver aquele sorriso de alargar, porém não podia toca-lo sem risco de fazer que piorasse, então a estratégia era usar palavras que o fizessem rir.

— Então... eu vou te ajudar a resolver os problemas com as notas, com o emprego, e com essa saúde de merda que tem — prometeu. —Vamos estudar.

Deitaram-se apoiados na cabeceira da cama, com Ítalo lendo os livros do colega, curioso sobre o conteúdo.

— Não disse que precisava de ajuda com o inglês? — flagrou Denis.

— Precisava vir te ver — esclareceu. — Me viu trazendo algum livro?

— Eu sabia que era história sua!

— Posso ver a foto do seu novo amigo?

— Pode, no Whatsapp, toma.

— Não coloca senha no seu aparelho?

— Não. Não gosto muito dele, mas tenho que confessar que facilita as coisas. Ajuda pras pesquisas e vai ajudar em não ir no mercadinho passar o dia esperando receber um telefonema de entrevista... Eu ia trocar para pré-pago, mas ainda está no nome dele, então tenho que pedir a ele que...

— Ele é bonito!

— E chato também — destacou. — Olha só, por que manter a foto de um carro que foi roubado? Um bobo.

— Se o carro dele foi roubado, e ele está te buscando e trazendo da faculdade, vocês estão indo de táxi?

— Não! Ele pegou o carro da mãe. Comprou uma pomada pra eu passar nesses arranhões e agora está cobrando que eu use...

— É o mínimo, já que ele gastou com isso deve aproveitar.

— Mas...

— Pare de fazer que não está todo apaixonadinho, porque está na cara que...

— Não estou!

— Se não está, mesmo — resmungou distraído na foto —, saiba parece muito...

— Já falei o que acho dele. Acha que ficaria com alguém que diz coisas como ele? Não quero criar expectativas pra mim, e está criando pra você agora? É isso mesmo?

Até Onde Posso Alcançar...Onde histórias criam vida. Descubra agora