Dor imensurável

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Capítulo 3

A dor que mais dói, é a dor que não se cura com remédios; que não está na carne; que não está na pele, mas na alma...
Um filho por um filho não foi o bastante para aplacar a fúria de um ser que se considera superior, dono das vidas inocentes que estão à sua frente.

Samuel caminha incontrolável, se detém frente às duas crianças que choram aterrorizadas com o que acabaram de presenciar.
Sem nenhuma  compaixão ele atira; ceifando mais duas inocentes almas....
Dona Beatriz pede clemência,
Misericórdia, pois nunca vira seu marido tão descontrolado.
Ele aponta a arma para Ayana, que coloca as mãos sobre seu ventre e fecha os olhos para partir com seus filhos, pois não lhe resta mais motivos para continuar a viver sem eles.
Dana Beatriz se coloca em frente a mulher e grita com seu marido.

- Samuel! Pare!
Nosso filho não irá voltar, não faça isso pelo amor de Deus!
Chega, chega de tanta dor.
Samuel recobra a razão por alguns momentos e sai rumo à casa grande, antes de se ausentar, com os olhos refletindo ódio e fúria diz:
- Levem esse Negro maldito e o coloquem no pelourinho, vinte chicotadas, vinte!
Agora!
Leôncio não espressa nenhuma reação, seus três filhos  cobertos de sangue, mortos...
Não há motivos para reagir; para viver; a morte lhe é o único remédio para aplacar essa dor imensurável.
Porque o filho do seu senhor vale mais que os seus?!
Essa terrível pergunta irá acompanhar Leôncio por toda sua miserável vida.

O escravo é levado para o pelourinho e preso aos ferros, suas roupas são rasgadas.
Vinte chicotadas são lhe deferidas, sem remorsos pelo capataz.

Quatro crianças mortas, o choro é generalizado por todos, brancos e escravos; sem distinções.

Ayana desmaia de tanta dor.
Seus braços estão vazios, uma mãe sem os filhos, não tem motivos para prosseguir.
As crianças são levadas para à senzala, senhor Samuel não permite que chorem por elas.
- Sem velório, sem choradeira!
Cavem uma vala e joguem esses negrinhos filhos do demônio!
Três corpos, uma cova...
O medo e a dor são irreparáveis nos corações de todos os escravos, pois viram o quanto um homem pacato pode em momentos, se transformar em uma fera bestial.

Na casa grande, o velório do menino Fellipe é preparado com todas às pompas dignas para o primogênito de um fazendeiro.
Os fazendeiros vizinhos e amigos da família, vêm para consolar os pais enlutados, ao saberem do ataque de fúria de Samuel, consternam-se com seu sofrimento.
- Que direito o escravo tem para salvar sua cria e não o filho do seu senhor?!
Ora, eu faria o mesmo que você fez!
Veja em que mundo estamos vivendo, daqui uns dias nós seremos os escravos, vê se pode?!
- Você está correto compadre,
Também teria matado à todos, inclusive o negro, dava-lhe vários tiros...
Dona Beatriz amparada pelas esposas dos amigos presentes, olha para seu marido que está sério sentado ao lado do caixão, ela não reconhece aquele homem que friamente tirou a vida de três crianças inocentes e intentou contra a vida de uma mulher grávida. mal sabia ela que seu marido também morreu afogado junto com o filho.
Sentado a beira do caixão, o homem se mantém calado, seu coração está estraçalhado, ele máquina em sua mente coisas horrendas para se vingar do negro que jas no pelourinho.
Desde muito jovem Samuel traz em seu coração um ódio imenso por Leôncio... o negro escravo possui algo que causa uma inveja extrema no seu senhor, a única coisa que o consolava era o seu primogênito, que agora está deitado no caixão em sua frente.
Ayana chora presa em um quartinho, não pôde enterrar seus filhos, o marido está ensanguentado e ferido no pelourinho, e por salvar a vida do próprio filho.
Não existe palavras para descrever tamanha dor.

2/10/21
Maria Boaventura

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