Chuvas torrenciais

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  Capitulo 70

Chuvas torrenciais

Todos os dias são turvos para os negros que estão livres da escravidão.

A liberdade não trouxe em suas mãos o amparo de uma lei libertadora.

A assinatura no final da página no "Decreto de extinção de escravatura", não garantiu aos escravos comida, bebida, terras, autonomia nem tão pouco dignidade... O grande descaso com a população negra escravizada, colocou milhares de vidas na mais profunda miséria. Muitos negros pernoitam e amanhecem nas porteiras de suas antigas fazendas, onde foram chicoteados maltratados e humilhados, todavia, tinham um prato de alimento para palear a fome que os corroía. Atualmente, vivem o descaso e a incerteza, pois, não têm comida bebida ou expectativa de obtê-las.

Imploram para seus antigos senhores que os recolham de volta à antiga condição de escravos para que sejam livres da tão sonhada liberdade que nãos os libertou, antes fez deles, escravos da fome e da arrepsia.

_ Agora a negra pele não sente o chicote estalar em seu lombo, mas a fome corroer seus ossos.

Quilombo...

Doutor José Jerônimo não espera o dia amanhecer e segue para o quilombo.

Seu desejo é atender o pedido de sua amada Octaviana; dividir sua enorme fazenda com negros esquecidos pelo império, jogados à própria sorte nas estradas da vida, sem direito à terras a comida ou a dignidade.

O quilombo fica a algumas léguas do vilarejo, um amontoado de casas de pau à pique.

Mulheres e crianças são a maioria no quilombo, vários negros foram procurar serviço aonde pudessem encontrar, outros saqueavam viajantes, fazendas...

A poucos dias a guarda imperial e alguns fazendeiros apreenderam alguns negros e mataram outros, juntamente com uma mulher e crianças também. Isso faz toda a população do quilombo ficar desconfiada com a chegada de cinco homens logo de manhã.

José Jerônimo desce da carruagem juntamente com seus acompanhantes. Ficam sobre seus pés e não aparece ninguém para atendê-los. Ele olha para os lados e nota que é observado por algumas frestas de janelas.

- Bom dia! Gostaria de falar com o chefe de vocês, por favor. Venho em paz, tenho boas notícias para todos... Dois negros velhos saem de uma choça e caminham vagarosamente para o centro do quilombo. Em uma choça mais afastada chega um molecote chamando por Miro.

- Miro! Tem umas pessoas estranhas que querem falar com o chefe, nós não temos chefe!

A mamãe mandou chamar você para conversar com eles.

- Eles disseram algo.

- Disseram que têm boas notícias para todos.

- Vou lá.

Miro vem mancando e chega ao centro do quilombo.

- Bom dia. Você é o chefe do quilombo?

- Não temos um chefe, por enquanto, mas posso ouvir o que vocês têm a dizer...

Enquanto eles conversam às portas vão se abrindo e os negros, na sua maioria mulheres, crianças e velhos fazem uma roda em volta da carruagem e dos cavalos onde vieram dois acompanhantes do doutor José Jerônimo.

- Meu nome é José Jerônimo Munhoz. Sou advogado...

Os negros olham uns para os outros ao ouvirem que aquele negrão bem vestido é advogado.

Todos prestam atenção em suas palavras.

- ... minha noiva é dona de muitas terras, ela incumbiu-me de doa-las para nosso irmãos...

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now